Foi memorável a semana de Frederico Gil, e desde então nunca ninguém voltou sequer a estar perto de tal feito – nem mesmo João Sousa, que habita bastantes lugares acima daquele que ocupava Gil nessa semana de 2010 (100º ATP), chegou alguma vez sequer perto da Final. Uma derrota para Gil, e para todos os portugueses que vibraram com o evento de perto.
Este artigo poderia desta vez chamar-se “A Desilusão da Minha Vida” (e de muitas mais, acredito). Recuemos então até 2010, ano em que decorreu a 21ª edição do então denominado Estoril Open, o único torneio da categoria ATP250 que se disputa em Portugal há largos anos.
João Lagos, então organizador do maior evento tenístico disputado em solo lusitano, tinha em carteira um vasto leque de atletas de renome, encabeçado pelo Maestro Suíço e campeão do Estoril Open em 2008 Roger Federer, seguido pelo finalista da edição transata James Blake, o russo Nikolay Davydenko, Ivan Ljubicic e Gael Monfils (15º e 18º do ranking nesse momento, respetivamente). Olhando para os representantes lusos, a organização decidiu oferecer Wild Card a Leonardo Tavares e Rui Machado, que se juntaram a Frederico Gil completando o trio nacional.
Quando os primeiros atletas começaram a chegar ao Estoril, uns dias antes de disputar a competição, João Lagos recebeu a notícia de que James Blake, bem como Davydenko não estariam em condições de participar na prova, desistindo do evento por lesão.
O torneio começou bem para os portugueses, com três vitórias em outros tantos encontros disputados, sendo que a vitória de Fred Gil merece particular destaque – derrotou o então 6º Cabeça-de-série Florian Mayer em 3 sets. Horas antes de entrarem em campo pela primeira vez, eis que Lagos vê o azar bater-lhe à porta novamente: Gael Monfils e Ljubicic (que havia vencido Indian Wells poucas semanas antes de chegar ao Jamor) também anunciavam desistência por lesão. Quem não ficou triste com a notícia foram Rui Machado (que defrontaria o croata) e Fred Gil, visto que ambos os “gigantes” estavam na mesma metade dos portugueses, a metade inferior. Rui e Fred levaram então de vencida Michal Przysiezny e Santiago Giraldo respetivamente, marcando encontro nos quartos-de-final, garantindo assim a presença de um português nas meias-finais. Gil venceu Machado e marcou encontro com Guillermo Garcia-Lopez (42º Classificado no ranking dessa semana), ao mesmo tempo que Federer defrontaria Albert Montañes na outra meia-final.
Perante um Centralito a “rebentar pelas costuras”, Gil vestiu a capa de super-herói e mostrou o porquê de ser um dos melhores tenistas portugueses de sempre quando ao fim de três longos sets venceu o encontro inscrevendo, de forma inédita, o nome de um jogador português na Final da prova lusa. O Centralito explodiu de alegria com o triunfo, e novamente poucos segundos depois quando Miguel Seabra – jornalista responsável pela entrevista no court – anunciou a Fred e a todos os presentes que na Final, quem defrontaria o português seria… Albert Montañes! O espanhol levou de vencida Federer e tentava assim “bisar” no Jamor, renovando o seu título.
Fonte: Frederico Gil
Chegada a hora da Final, Frederico Gil entrou sob uma chuva de apoio que vinha de cada um dos presentes no Court Central do Complexo Desportivo do Jamor mas foi mesmo o espanhol que começou melhor o encontro. Mais decidido e experiente, Montañes conseguiu concretizar dois breaks, e levou o primeiro set por 6/2. O segundo set começou da mesma forma, com o campeão em título a mostrar-se sólido no fundo do court, habilidoso quando sob pressão e eficaz quando assim a ocasião exigia. Já poucas esperanças haviam quando Gil cedeu novo break com 1-1 no marcador do segundo set, dando a oportunidade de Montañes dar “a machadada final” no sonho português. Com 5-3 a favor do espanhol, já ninguém acreditava no deslize de Montañes. Ninguém, exceto Frederico. Viu-se com a corda ao pescoço quando serviu com match-point abaixo nesse jogo, mas mostrou que o jogo só acaba no último ponto e conseguiu não só salvar a sua pele nesse jogo como quebrar o serviço ao espanhol no jogo seguinte e, depois de salvar mais match-points no tie-break, conseguiu mesmo pôr todo o Court Central de pé quando levou o encontro para um terceiro set.
O sonho estava vivo. Tão vivo que, perante um cenário de Taça Davis (público “futeboleiro”, ruidoso no apoio à sua causa), Gil entrou galvanizado e quebrou não uma, mas duas vezes o serviço do espanhol e, quando com um volley garantiu o 3-0 a seu favor, o português levantou o braço e celebrou apontando para a bancada, um sinal que pode ter ditado o desfecho do encontro. Excessivamente confiante, demasiadamente nervoso, fisicamente cansado ou simplesmente incapaz de superar a qualidade do ténis do seu adversário, o que é certo é que sem ninguém perceber muito bem como, o castelo de cartas começou a ruir, e o impensável acabou mesmo por acontecer: Albert Montañes, ao bom estilo espanhol, deu significado à palavra “remontada” e, com 6-5 a seu favor, viu Gil colocar a derradeira bola de jogo na rede. Aí, Montañes caiu de joelhos no solo e celebrou, tinha vencido pela segunda vez consecutiva o Estoril Open e, verdade seja dita, viu um peso monstruoso sair-lhe dos ombros.
Foi memorável a semana de Frederico Gil, e desde então nunca ninguém voltou sequer a estar perto de tal feito – nem mesmo João Sousa, que habita bastantes lugares acima daquele que ocupava Gil nessa semana de 2010 (100º ATP), chegou sequer perto da Final. Uma derrota para Gil, e para todos os portugueses que vibraram com o evento de perto. “Pior ainda”: duas semanas depois deste desaire Gil voou para Projestov, República Checa onde disputou um torneio da categoria Challenger (em terra batida, outdoor, tal e qual como no Jamor). E querem acreditar? Na segunda ronda, o Lisboeta encarou Albert Montañes e saiu vencedor.. por 6-1 e 6-4.
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Estudante de Economia em Aarhus, Dinamarca e apaixonado pelo desporto de competição, é fervoroso adepto da Académica de Coimbra mas foi a jogar ténis que teve mais sucesso enquanto jogador.
O Henrique escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.