O físico venceu o mito: Obrigado por tudo, Rafa Nadal!

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    «Olá a todos. Estou aqui para comunicar-vos que me retiro do ténis profissional». Foi desta forma que o tenista espanhol Rafael Nadal anunciou o fim de uma carreira inolvidável num vídeo extremamente emocionante, em que agradece a todos (treinadores, família, equipa técnica, adversários, adeptos, etc…) os que contribuíram para o seu percurso. 

    Esta era certamente a notícia que nenhum fã de Nadal queria ler, mas a qual temia que pudesse acontecer a qualquer momento. 

    Apesar de não ser inesperado, qualquer adepto fervoroso do Nadal (no qual eu me incluo), desejava profundamente nunca a ter ouvido.

    Quando a ouvi pela primeira vez, foi um autêntico murro no estômago, e acredito que o tivesse sido não apenas para os fãs do Nadal, mas para qualquer amante do ténis.

    É bastante difícil escrever sobre alguém que representou tanto para mim. É quase como se parte do meu coração desportivo morresse com ele e a sua retirada.

    “ Vamoooos Rafa”. O célebre grito que eu entoei uma infinidade de vezes ao ver os seus jogos. 

    Rafael Nadal foi muitíssimo mais do que um ídolo desportivo para mim, e é com as mãos trêmulas que lhe rendo esta singela homenagem através das minhas palavras.

    Para mim, Nadal foi sempre exemplo de coragem, dedicação, determinação, força mental, superação, cavalheirismo, respeito, tenacidade, humildade, talento infinito e um coração gigante.

    Rafa foi igualmente um exemplo de saber perder, de aceitar as derrotas com graciosidade e de enaltecer as qualidades dos seus adversários, não deixando de ter um profundo sentido de autocrítica e usando essas derrotas (algumas delas pesadas) como um estímulo para trabalhar mais e se tornar um melhor jogador em todas as superfícies.

    Nunca deu um ponto por perdido e renasceu várias vezes das cinzas para ganhar encontros épicos. Se tivesse que definir Nadal numa palavra, utilizaria a palavra resiliência.

    Foram 20 anos de uma profunda idolatria onde inclusive deixei várias vezes de ser racional e imparcial por sua causa, fundamentalmente na intencional desvalorização do talento do seu grande rival e amigo Roger Federer.

    Talvez aquele célebre momento das suas mãos entrelaçadas (numa das fotos mais emblemáticas da história do desporto) na despedida do tenista suíço, me tenha amolecido o coração e feito despertar para a necessidade de voltar a rever todos os momentos desta intensa rivalidade e revisitar a carreira do sublime tenista suíço.

    A sua rivalidade está repleta de batalhas épicas. Um contraste de estilos como nunca se viu no mundo do ténis e onde muitas vezes se superiorizou o tenista espanhol, pois tinha o tipo de jogo (o peso e a altura da sua bola para a esquerda de Federer devido ao efeito e rotação produzidas pela sua pancada de direita em top spin, da sua intensidade de jogo, passando rapidamente da defesa para o ataque, etc…) que incomodava Federer e não o fazia explanar as qualidades de uma forma consistente, raramente o deixando confortável.

    Mas esse “ódio” que acabei por desenvolver pelo Federer era algo visceral e centrado no fato do Nadal se ter tornado mais do que um ídolo. Acredito que muitos nadalianos padeceram do mesmo mal. Queria que Nadal ganhasse sempre, não admitia a sua derrota. Queria que fosse sempre o melhor.

    Sentia as suas derrotas como minhas e isso tolheu por várias vezes o meu raciocínio e me fez perder o discernimento mental na hora de analisar as suas exibições.

    Ficou por realizar o sonho de o ver jogar, devia ter abdicado de outras coisas para o concretizar.

    Perdurarão as memórias e os momentos de pura felicidade (de tristeza também com as lesões que nunca o abandonaram) que me proporcionou.

    Por Nadal madruguei, fiz diretas, deitei-me a horas impróprias, vibrei, saltei, ri, chorei, gritei, inclusive chegando a cancelar compromissos pessoais e profissionais.

    Os adeptos deixaram de o considerar o melhor de sempre pelo número de títulos conquistados, mas no meu coração sê-lo-á sempre. 

    Por mais que me seja difícil, devo reconhecer e aceitar que o tenista espanhol já merece descansar e tomou a decisão correta. 

    Nadal assume que os seus dois últimos anos foram muito complicados e que foram raras as vezes que jogou sem limitações.

    Como seu fã e por mais que o continuasse a querer ver jogar, não seria de todo satisfatório vê-lo perder em primeiras rondas, ou constatar que o seu corpo já não lhe respondia, como na última final que disputou em Bastad este ano, contra o tenista português Nuno Borges.

    O próprio tenista nacional admitiu que foram evidentes as dificuldades físicas de Nadal nesse jogo e que tirou partido desse fato para poder ganhar o seu primeiro título no circuito ATP, não deixando de o conseguir com total mérito.

    Nadal foi um dos atletas mais competitivos da história e não se poderia permitir “arrastar-se” em campo e continuar a ser derrotado por tenistas de valia inferior à sua. Um super campeão como ele não pode ceder à tentação de fazer um tour de despedida por todos os torneios marcantes da sua carreira, por mais que esteja profundamente agradecido aos seus adeptos. 

    Rafa consegue ser competitivo durante dois ou três jogos? Sim, mas infelizmente, o seu corpo muito fustigado por lesões, já não lhe permite exibir-se ao nível desejado e necessário para lutar pela conquista de torneios importantes. Essa é a dura realidade, na qual Rafa caiu nos últimos tempos e que o levou a tomar esta decisão tão difícil.

    “El Toro” será sempre recordado igualmente pelo seu espírito guerreiro, por desesperar os seus adversários conseguindo prolongar os pontos através de uma brutal capacidade defensiva, que o fazia chegar a bolas impossíveis. 

    O catálogo dos melhores pontos do Rafa é digno de ser visto e revisto por todos os amantes da raquete.

    Certamente que uma carreira como a sua merecia outro final. Por tudo o que deu ao ténis, pelo seu comportamento exemplar dentro e fora do court, por ter sido alguém que lutou até à última gota do seu suor.

    Rafa é o próprio a admitir que teve uma carreira mais exitosa do que alguma vez pensou, e estará certamente orgulhoso da mesma.

    Nunca teve o melhor serviço, nunca teve o melhor jogo de rede, nunca teve a melhor resposta de serviço (optando por ficar muitos metros atrás da linha de fundo para poder dar profundidade à sua bola e ganhar vantagem na discussão do ponto), nunca foi o mais dotado tecnicamente mas superou essas adversidades, foi sempre encontrando soluções para ser um dos maiores da história e derrotar várias vezes os melhores de sempre e em distintas superfícies. Ainda lhe dou mais mérito pela estelar carreira que teve, dadas essas condicionantes.

    A sua regularidade exibicional era impressionante e levava os seus adversários à exaustão.

    Vou mais longe e digo-vos o seguinte, caros leitores. Apesar da era dourada na qual Nadal jogou, não fosse o tenista espanhol tão propenso a lesões, e estaríamos a falar do melhor tenista de todos os tempos.

    A sua mente sempre foi privilegiada e durante os seus anos de maior vigor físico, a sua superioridade far-se-ia sentir e teria certamente ganho mais uns quantos títulos do Grand Slam.

    Quando Rafa começou a sua carreira profissional em 2002, o recordista de títulos de Grand Slam era o americano Pete Sampras, com 14 títulos no total.

    Só em Roland Garros, Nadal conseguiu a incrível e diria que irrepetível façanha de ganhar por 14 vezes (!) aquele célebre torneio na terra batida (o piso mais exigente do ténis) de Paris, onde o tenista espanhol é o maior dominador e melhor jogador da história.

    Mas apesar da importância de Federer na sua carreira, teremos que dizer que o seu grande rival foi o sérvio Novak Djokovic, um dos poucos tenistas que tem vantagem no confronto direto com Nadal e com quem protagonizou uma das maiores rivalidades do desporto mundial, tendo jogado mais de 60 (!) encontros um contra o outro. Uma autêntica barbaridade.

    Foram 92 títulos (!). Entre eles estão 22 Grand Slams, duas medalhas de ouro olímpicas, 36 Masters 1000 (muitos deles ganhos quando se jogavam a cinco sets) e quatro Taças Davis. 

    É totalmente descabido dizer que Rafa foi um jogador unidimensional. 

    Nadal ganhou todos os torneios de Grand Slam por mais de uma vez, e é o único jogador a ser número um mundial em três décadas diferentes.

    Foi campeão olímpico em 2008 a jogar em piso rápido, derrotou o rei da relva Roger Federer naqueles que muitos consideram o melhor jogo de ténis de todos os tempos (a final de Wimbledon em 2008) e ganhou uma final do Australian Open em 2022 (depois de estar a perder por dois sets a zero contra Daniil Medvedev), quando as limitações físicas já eram mais do que evidentes e mais uma vez as superou para vencer o 21º Grand Slam ao fim de mais de cinco (!) horas de jogo.

    Quando se soube desta decisão traumática de pôr fim à sua carreira desportiva, o mundo do desporto foi unânime nas mostras de carinho ao tenista espanhol.

    Desde a atual número um mundial do ténis feminino Iga Swiatek, a Coco Gauff, a Aryna Sabalenka, Andy Murray, Cristiano Ronaldo, Andrés Iniesta, Pau Gasol Jannik Sinner, etc…

    Alguns tenistas admitiram que começaram a jogar ténis por causa de Rafael Nadal e, tal como outros desportistas, também destacam a sua humildade, espírito de sacrifício e dimensão humana.

    Não sai pela porta grande, sai quase forçado devido às circunstâncias mas decidiu dar-se uma nova oportunidade de adicionar mais um título ao seu brilhante palmarés.

    A sua última dança será na Davis Cup Finals representando o seu país, em Málaga. Já que não pôde ser em Roland Garros (a sua terra prometida) com mais um ouro olímpico, este será o cenário ideal para o último capítulo da história de um dos melhores atletas de sempre e indubitavelmente o melhor desportista espanhol de todos os tempos.

    E que melhor passagem de testemunho poderia haver, se Rafa e os seus companheiros da seleção espanhola, conseguissem ganhar mais uma Taça Davis junto da nova grande estrela do ténis espanhol e mundial: o entusiasmante e carismático Carlos Alcaraz.

    Num país onde o futebol é o desporto rei e muito pautado por guerras políticas e um profundo regionalismo, Nadal foi durante quase duas décadas o único ponto de consenso, que teve o condão de unir um país, não só pela sua qualidade tenística, mas por tudo aquilo que Nadal transmitia quando jogava ténis, assim como pelos seus valores humanos.


    Como o próprio Nadal referiu, tudo na vida tem um princípio e um fim.

    Sou e serei nadaliano para o resto da minha vida. 

    O seu “Vamoooos” ecoará na minha cabeça para sempre.

    O físico venceu o mito. Obrigado por tudo, Rafa!

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