Quando Federer enfrenta outros tenistas, comuns mortais, a sensação que fica é a de que o encontro é injusto, porque nunca um ser humano deveria ser colocado em posição de tentar derrotar um extraterrestre. Não é natural, não é humano, não é possível. Quando o suíço está bem fisicamente, tenistas como Djokovic, Murray ou Wawrinka parecem vulgares, tal é a facilidade com que FedEx devolve pancadas que parecem destinadas a terminar em winner, coloca-se numa posição de domínio do ponto, e acaba por vence-lo.
Sempre que Federer lança a bola para servir, a sensação é a de paragem do tempo, semelhante à que se sente quando Ronaldo se eleva entre os centrais ou quando Michael Jordan se suspendia no ar em direção ao cesto. O pânico estampado na cara dos adversários assemelha-se àquele que os guarda-redes não conseguem esconder quando Messi avança, isolado, em direção à baliza. O que irá sair dali? Serviço chapado? Em slice? Ao corpo? Para o “T”? Bola no ar, movimento imaculadamente coordenado, braço bem levantado, contacto com a raquete…ás. A cara de pânico do adversário transforma-se em expressão de impotência, em misto de reconhecimento da superioridade do suíço com incredulidade pelo facto de ter que defrontar alguém tão esmagadoramente superior.
Dentro e fora dos courts, Roger Federer é um exemplo para várias gerações. Muito mais do que um tenista, o Maestro trata-se de um desportista de eleição, alguém capaz de criar e recriar a arte da modalidade que pratica, alguém cujos gestos fora do court fazem perceber que há vida para além da atividade profissional e que é também (ou sobretudo?) na família e no altruísmo que se constrói o caminho para a felicidade. O mundo há-se sentir a falta de Federer, do seu ténis e do seu exemplo enquanto ser humano. Enquanto isso, o suíço conquista mais um título, ergue os braços e sorri, abraça Mirka Federer, olha para os seus quatro filhos e chora. É assim no ténis, como na vida, e é essa a capacidade maior de Roger Federer: ser um Deus da sua modalidade e, na sua condição de divindade, permitir que nos sintamos mais próximos daquilo que é terreno. Obrigado, campeão!
Foto de Capa: ATP Wimbledon