A bielorrussa Aryna Sabalenka venceu o US Open, derrotando na final a norte-americana Amanda Anisimova pelos parciais de 6-3 e 7-6 (3) em 1h36 minutos de jogo. Foi o quarto Grand Slam da carreira de Sabalenka, que se torna assim na primeira tenista a revalidar o título no Grand Slam norte-americano, depois da campeoníssima Serena Williams o ter conseguido nas edições de 2013 e 2014.
Só um aparte para destacar o recorde de tie-breaks consecutivos ganhos em torneios do Grand Slam, onde Aryna Sabalenka leva 17 (!) seguidos, recorde só superado pelo sérvio Novak Djokovic, que conseguiu conquistar 19 tie-breaks consecutivos entre os anos de 2005 e 2007. Este registo de Sabalenka é bem demonstrativo da sua capacidade de jogar o seu melhor ténis nos momentos de maior pressão, e isso está ao alcance de muito poucos.
No percurso para a final, Sabalenka chegou aos quartos-de-final sem perder um único set, onde beneficiou igualmente da desistência da checa Marketa Vondrousova pouco antes de entrar em campo, sendo que nas meias-finais e numa reedição da final do ano passado, Sabalenka voltou a levar a melhor sobre a norte-americana Jessica Pegula, conseguindo recuperar da perda do primeiro set, ultrapassar um evidente nervosismo inicial, ganhar o jogo com os parciais de 4-6, 6-3 e 6-4 em pouco mais de duas horas de jogo, marcando assim presença na sua terceira (!) final consecutiva do Open dos Estados Unidos.
Quanto a Anisimova, realizou um torneio absolutamente fantástico, e da mesma forma que enalteço os resultados tão consistentes de Sabalenka em torneios do Grand Slam este ano, também devo elogiar tudo aquilo que a talentosa norte-americana conseguiu nos últimos dois meses, tendo atingido duas finais consecutivas em torneios do Grand Slam.
Na final Wimbledon, foi vergada a uma das derrotas mais copiosas (duplo 6-0) da história das finais do Grand Slam. Contra a polaca Iga Swiatek, Anisimova cedeu à solenidade da ocasião e não conseguiu ganhar um único jogo nesse encontro, acabando lavada em lágrimas no momento em que se preparava para fazer o discurso na cerimónia de entrega dos troféus. Uma imagem impactante, e um momento que poderia ter aniquilado a sua confiança.
Mas Anisimova pôde ultrapassar rapidamente esse desaire tão pesado, pois quis o destino que tivesse a sua oportunidade de vingança no Grand Slam seguinte. Nos quartos-de-final contra Swiatek, assistimos a uma exibição dominante e categórica da tenista norte-americana, demonstrativa de uma grande fortaleza mental, no qual comprovou que o que se tinha passado naquela final de Wimbledon tinha sido apenas e só um acidente, e que o seu valor não se coaduna com o resultado humilhante daquela final.
Superou Swiatek em todos os aspetos do jogo e conseguiu marcar presença nas meias-finais contra a ex bicampeã do torneio Naomi Osaka (cujo regresso ao melhor nível saúdo de forma muito particular).
Nessa meia-final (que já acabou depois da uma da manhã em Nova Iorque), provavelmente assistimos ao melhor jogo do torneio feminino, que terminou com os parciais de 6-7 (4), 7-6 (3) e 6-3 a favor de Anisimova. Um jogo de elevadíssima qualidade e uma batalha muito intensa entre duas tenistas bastante ofensivas, ambas com grande capacidade de resposta ao serviço, o qual se definiu em ínfimos detalhes, só concluído ao fim de quase três horas, e onde Anisimova desperdiçou dois match points (salvando de forma muito corajosa dois break points pelo caminho) antes de poder comemorar a sua presença na final do Open do Estados Unidos, cuja conquista do mesmo é o seu maior sonho, conforme já o afirmou por diversas vezes.
Mas essas duas grandes batalhas (uma mais mental contra Swiatek por tudo o que tinha acontecido da última vez que se tinham defrontado e outra muito física contra Osaka), fizeram com que Anisimova não se tivesse conseguido apresentar da melhor forma nesta final.
À partida para esta final, Sabalenka sabia que ia defrontar uma adversária extremamente motivada e que lhe havia derrotado nas meias-finais de Wimbledon, impedindo a bielorrussa de conseguir a proeza de disputar todas as finais de Grand Slam no mesmo ano, e de jogar a sua primeira final na catedral do ténis. Mas também era consciente de que estaria mais fresca fisicamente, e que esse podia ser um fator decisivo numa final que se esperava tão igualada.
Anisimova liderava o confronto direto entre ambas, tendo-lhe ganho seis vezes em encontros anteriores, apenas tendo sido derrotada três vezes ao longo de toda a sua carreira. Foi o terceiro encontro consecutivo em torneios do Grand Slam este ano, sendo que em Roland Garros, Sabalenka levou facilmente de vencida a tenista norte-americana nos oitavos-de-final do torneio, mas Anisimova conseguiu desforrar-se dessa derrota, travando a ultra-favorita Sabalenka nas meias-finais de Wimbledon, como anteriormente mencionado.
Antes desta final, todos (incluindo Anisimova) esperavam que Sabalenka tomasse constantemente a iniciativa dos pontos. Mas esta surpreendeu tudo e todos, jogando um ténis inteligente, sendo agressiva e visando as linhas de forma cirúrgica, mas convidando Anisimova a ser ela a tomar a iniciativa do ponto e a desgastar-se tanto mental como fisicamente.
Ciente da enorme qualidade da resposta ao serviço de Anisimova e do seu consequente poder de fogo, Sabalenka serviu em grande nível nos pontos mais importantes, variando a colocação do seu serviço nesses momentos-chave do encontro. Ao longo deste set e de todo o encontro, Sabalenka apostou por um ténis agressivamente controlado, jogando de forma profunda mas sem exagerar na profundidade da sua bola. Foram raros aqueles pontos em que Sabalenka perdeu a compostura e atacou demasiado cedo no ponto, daí ter cometido pouquíssimos erros.
“Nos outros jogos em que perdi este ano em torneios do Grand Slam, permiti que as emoções tomassem conta de mim. E eu prometi a mim mesma, que desta vez não iria deixar que isso se passasse, acontecesse o que acontecesse”, disse uma eufórica Aryna Sabalenka na conferência de imprensa posterior à final.
E eu considero que esse foi o segredo da sua vitória. Manter-se estável emocionalmente, estando presente em todos os momentos do jogo. Apresentou um ténis sólido, que terá desconcertado Anisimova, que esperava uma Sabalenka mais ofensiva e consequentemente mais precipitada, uma vez que tinha a pressão de não ter ganho um único título do Grand Slam este ano, e de ter perdido duas finais de forma muito dolorosa e essencialmente por demérito próprio.
Sabalenka também admitiu nessa conferência de imprensa que terá subestimado as suas adversárias nas derrotas anteriores, e que lhe tinha faltado humildade e seriedade nesses momentos, tendo aprendido a lição da pior forma possível. Esse reconhecimento dos erros enobrece a tenista bielorrussa, que aprendeu que nenhum jogo é ganho antes de ser disputado, e que as suas adversárias têm exactamente a mesma ambição e merecem um maior respeito de sua parte.
No primeiro set, o ascendente do encontro foi mudando constantemente, sendo que houve qualquer coisa como cinco quebras de serviço, onde Sabalenka acabou por se impor devido à sua maior experiência nestes grandes palcos. Nesse set, Sabalenka fez só três winners, mas também cometeu apenas quatro faltas não provocadas (!), o que é elucidativo da tática mais conservadora que a bielorrussa escolheu para este jogo.
Depois de ganhar o primeiro set por 6-3 ao cabo de 39 minutos, no segundo set manteve-se a mesma toada do set inaugural. Anisimova sendo a jogadora mais agressiva, mas a que cometia mais erros. Apesar da tenista norte-americana ter afirmado que se encontrava bem fisicamente (contrariamente ao que admitiu após a final de Wimbledon), é inegável que foi a jogadora mais precipitada em várias tomadas de decisão. Não teve a paciência, que sim Sabalenka teve, sabendo esperar o seu momento para desferir a estocada final, e tendo um auto-controlo absolutamente invejável para alguém tão temperamental.
Uma tenista eminentemente ofensiva, mas que nesta final disparou apenas 13 (!) winners, o que é quase inédito na carreira da tenista bielorrussa. É ainda mais raro terminar com menos winners do que a sua adversária. No total, Anisimova fez 22 winners, mas também cometeu 29 erros não forçados, ao passo que Sabalenka apenas cometeu 15 (!) erros não forçados. Na última final de Grand Slam que tinha disputado, a tenista de Minsk tinha cometido um número absurdo de 70 (!) erros não forçados contra Coco Gauff em Roland Garros.
Uma final que podia ter apresentado um resultado mais desnivelado, caso a tenista bielorrussa (a servir com 5-4 no marcador para fechar o jogo a seu favor) não tivesse falhado um “smash” aparentemente fácil quando tinha o court todo aberto e podia ter ficado ali com o primeiro match point da partida. Os nervos voltaram a atraiçoá-la novamente, e muitos foram aqueles que pensaram que Sabalenka ia voltar a entrar numa espiral interminável de erros não forçados, tal como tinha acontecido na final do Open da Austrália e de Roland Garros este ano.
Viu o seu serviço quebrado nesse jogo, Anisimova fez um excelente jogo de serviço em seguida para ficar à frente do marcador (6-5) pela primeira vez na partida desde o primeiro jogo desta final, mas Sabalenka demonstrou que aprendeu com os erros de finais anteriores e jogou de forma impecável no jogo de serviço seguinte, encaminhando o segundo set para um tie-break, evitando dessa maneira a perda do segundo set (e quem sabe o que teria provocado na sua confiança o fato de ter de disputar um terceiro set).
No tie-break, jogou de forma brilhante os pontos mais importantes. Depois de mais uma resposta falhada de Anisimova ao seu serviço, Sabalenka pôde finalmente exteriorizar todas as suas emoções.
Na cerimónia de entrega dos troféus, uma desgostosa e chorosa Anisimova afirmou que não tinha lutado o suficiente pelo seu sonho, ao passo que Sabalenka elogiou a sua rival dizendo que seguramente ela irá ganhar um Grand Slam no futuro. Uma enorme mostra de desportivismo e de respeito mútuo, que já tinha sido visível com um sentido e fraterno abraço após a conclusão do jogo.
Com esta vitória no Open dos Estados Unidos, Aryna Sabalenka está muito próxima de terminar a temporada como número um do Mundo pelo segundo ano consecutivo. A atual líder do ranking mundial feminino reforçou e consolidou esse estatuto, sendo que a vantagem no ranking nesta altura é realmente confortável: 11.225 pontos face aos 7.933 de Iga Swiatek. A carismática Aryna Sabalenka volta a ter Nova Iorque aos seus pés.