Galegos de perder a paciência | SL Benfica

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E assim chegados ao quarto jogo de pré-temporada, prontamente encontrou o Benfica aquilo que na época passada só tinha acontecido mais para a frente, já na Eusébio Cup: uma equipa que lhe desse cabo dos trabalhos ofensivos, que oferecesse aos encarnados um real desafio de estaleca competitiva.

O Celta de Vigo, que Carvalhal salvou da descida em 2022-23, é agora comandado por Rafa Benítez e apresenta-se fiel à sua moda, em bloco médio, linhas apertadas e com objectivo primordial de impedir devaneios adversários; ora, o Benfica, que com o Al Nassr se deixou embebedar pela própria criatividade e se divertiu à brava, sentiu-se enganado pela desfaçatez galega e pareceu surpreendido com tanta rigidez posicional. Constrangido até. O espaço era pouco, os de lá eram arrebitados nos duelos e atrevidos nas intenções de ataque à baliza de Samuel Soares – impertinentes, chatos, sem dar grandes abébias. No duro.

O Benfica, apresentando praticamente o mesmo onze da segunda parte do dia anterior, mais Rafa, Neves e Ramos, circulou, tentou descortinar as esquinas táticas que pudessem tornar-se atalho para o golo. Missão inglória: se com o Al Nassr teve oito oportunidades na primeira metade, agora não contou nenhuma; se com os árabes a equipa ria, gargalhava e descontraía com os malabarismos, hoje andou enrolada no chão, à conta das faltas sofridas.

Tanto se circulou a bola dum flanco ao outro que quarenta e cinco minutos pareceram duas horas; mas lá chegou, enfim, o intervalo. Com algumas certezas: que a versão benfiquista com Aursnes e João Mário nos corredores é muito útil em contendas de alto gabarito, pelo equilíbrio que dá à equipa, mas que o futebol se vai mastigando quanto pior e mais se encolhe o adversário; falta largura, e nem Bah a levitar pela direita dá a acutilância necessária.

É preciso os dotes dum verdadeiro extremo, alguém que saiba esticar e depois sim esmiuçar espaços interiores – Neres e Di Maria, ao entrarem para a segunda metade, rapidamente demonstraram as manhas necessárias para desvendar caminhos nunca antes palmilhados. Se Benítez mantinha a equipa chata e rabugenta, agarrada que nem lapa às suas prioridades defensivas, brasileiro e argentino foram abrindo campo e a introduzir diplomacia na tensão gestual a meio-campo; o Benfica começou a carburar um nível acima, os passes já entravam nas entrelinhas, a bola já chegava à lateral vinda da zona central e a presença dos tanques Tengstedt e Musa, em descoordenada, mas activa parelha, já tinham espaço para se movimentar.

Talvez com Gonçalo Ramos ainda em campo tivesse dado golo mais cedo. A certa altura, parecia pirraça dos galegos – que deixavam tudo acontecer até ao momento decisivo e num último instante desviavam para canto ou mandavam a barra meter-se ao caminho, como aconteceu num cabeceamento glorioso de Lucas Veríssimo – a responder a livre exemplar de Kokcu, que mais uma vez foi comandante e gestor de ritmos, tão convictamente que parece mesmo sprintar em aproximação ao melhor Enzo Fernández…

Já o despertador gritava a plenos pulmões a alertar do final quando surgiu um penalty por pontapé perigoso onde mais doía num azarado Tengstedt – que voltou a mostrar pormenores vistosos, mas ainda longe de justificar integração num plantel viável – e Di María enganou, em mais um truque de magia, com a bola a passar sonolenta no lugar de onde o keeper nunca devia ter saído, como só os mestres sabem executar.

Estava finalmente derrubada a muralha celta e claro, depois de tão perto do sonho da conquista do reputadíssimo troféu, a resistência foi-se, o emocional desabou e a equipa caiu num choro contínuo; a tristeza atingiu níveis tais que, na reposição de bola, o passe saiu desleixado para a retaguarda, como fazem as crianças durante uma birra – e Musa, ainda sedento do golito da praxe, continuou a jogar a sério, esforçou-se ao limite como sempre fez e pegou na bola, entrou por ali adentro e matou definitivamente um conjunto espanhol que fará muitos inimigos temporada fora – por todo o tédio imposto aos mais bonacheirões fantasistas, naquele ilusionismo tático que fez de Benítez um monstro dos jogos a eliminar, na primeira década do milénio.

Se lhe derem as armas para ferir em contra-ataque, as indicações são optimistas para repetir bons feitos do passado. Pelo menos mais elementos da categoria de Iago Aspas, reconvertido no nove-e-meio que dará ordens, ou Carles Pérez – que não são da laia de Aimar-Vicente ou Gerrard-Luis Garcia, mas darão ao técnico garantias de eficácia. Na sua última temporada completa em Espanha, saiu título no Valência (2003-04).

Exactamente 20 anos depois, volta para alcançar coisas bonitas num projecto interessante em que se lhe pede, para já, o top10.

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Vítor Miguel Gonçalves
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Para Vítor, os domingos da sua infância eram passados no velhinho Alvalade, com jogos das camadas jovens de manhã, modalidades na nave e futebol sénior ao final da tarde.

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