É verdade: as exibições do Benfica, nalguns jogos, têm sido apenas medianas. Compreender as causas, parece-me, todavia, tarefa ao alcance de qualquer criança. À razão de, por vezes, o resultado superar a exibição – tal como aconteceu no empate do Dragão – os nossos adversários directos, os seus sócios e adeptos, os seus comentadores amadores e profissionais, parecem ter encontrado um amável paliativo da dor. Claro que, para tal, e ao contrário dos benfiquistas (como eu), isso permite-lhes abdicar da leitura arrogante da realidade, optando, em alternativa, por um complexo exercício de contorcionismo intelectual que, por exemplo, os impede de ver que, no passado domingo, se encontraram dentro das quatro linhas 100 por cento de FC Porto contra apenas quarenta de Benfica.
Acho curioso ignorar-se o facto de Jonas, a grande referência ofensiva da equipa, autor de 67 golos nas últimas duas épocas, não estar disponível. Acho curioso ignorar-se o facto de Jardel, o melhor “central” da equipa nas últimas duas épocas, não estar disponível. Acho curioso ignorar-se o facto de Grimaldo e Fejsa, os melhores jogadores em Portugal nas respectivas posições, não estarem disponíveis. Acho curioso ignorar-se o facto de Rafa, um dos grandes reforços da equipa – natural substituto de Gaitán no “onze” –, não estar disponível.
Daí a importância das próximas três semanas. Este hiato competitivo será fundamental tendo em vista a recuperação física e mental dos nossos jogadores. Quando Jardel, Luisão, Grimaldo, Fejsa, Rafa e Jonas, todos potenciais titulares, ou muito perto disso, estiverem aptos, preparados individual e colectivamente, será certamente permitido à equipa exibir-se com maior qualidade; atingir a tal nota artística, tão reclamada, aliando os resultados e as exibições, para conforto geral. Pessoalmente, basta-me o pragmatismo que nos tem valido a liderança e que, na prática, decide sempre a questão do título. Não sou, porém, egoísta: o nosso campeonato, o futebol deste país, ainda vai a tempo de ser bocejado, perdão, bafejado pelo talento daquela que é a sua melhor equipa.
Texto revisto por: Carlos Valente