Pela segunda época consecutiva, Farense e Benfica mediram forças no Algarve num encontro a contar para os oitavos de final da Taça de Portugal. Tal como havia acontecido na temporada anterior, o desfecho voltou a ser favorável aos encarnados, que seguiram em frente na prova com um triunfo por 2-0, um resultado que acaba por espelhar, de forma justa, o que se passou ao longo dos 90 minutos.
Apesar das seis alterações promovidas por José Mourinho em relação ao último jogo, o Benfica apresentou-se como a equipa mais forte e foi capaz de controlar o encontro durante a maior parte do tempo. Do outro lado, o Farense realizou ainda mais mudanças, sete no total, relativamente ao compromisso mais recente para o campeonato, sinal claro de que a prioridade não passava por surpreender o Benfica, mas sim por gerir esforços num para estar no máximo no campeonato.
Ainda assim, a equipa algarvia entrou de forma positiva no jogo. Nos primeiros minutos, conseguiu conquistar dois cantos em pouco tempo, demonstrando que, mesmo sem estar na máxima força, poderia criar alguns problemas ao adversário. Esse ímpeto inicial, contudo, perdeu-se após o golo do Benfica aos 11 minutos. A partir daí, os encarnados assumiram claramente o controlo do jogo, instalando-se no meio-campo ofensivo e condicionando a capacidade do Farense em ligar jogo. Esse domínio poderia ter sido ainda mais cedo refletido no marcador, não fosse o penálti desperdiçado por Otamendi aos 28 minutos.


Na segunda parte, o Benfica voltou a ser a equipa que entrou com mais iniciativa e rapidamente ampliou a vantagem. O segundo golo surgiu aos 56 minutos, por Ivanovic, que não marcava desde o encontro frente ao Arouca, a 25 de outubro. Esse momento acabou por retirar qualquer margem de dúvida quanto ao desfecho da eliminatória, permitindo aos encarnados gerir o jogo com maior tranquilidade.
Do ponto de vista tático, este jogo trouxe algumas nuances interessantes por parte do Benfica. Ao contrário do que vinha acontecendo nas últimas partidas, a equipa adotou uma construção em 2+1/4+1, abdicando de um dos médios na linha dos centrais. Numa fase inicial, foi Richard Ríos quem surgiu como médio mais recuado, mas, com o passar dos minutos, Manu Silva passou a baixar para essa zona, permitindo que Ríos e Sudakov se posicionassem na mesma linha, formando um triângulo invertido no meio-campo.
Com esta dinâmica, o Benfica conseguiu colocar os seus dois interiores mais próximos do centro do jogo. Como o Farense defendia com muitos jogadores do lado da bola, o extremo do lado oposto assumia um papel importante como apoio para a variação do centro de jogo, o que facilitava a aceleração tanto pelos corredores laterais como pelos half-spaces.


Já o Farense iniciou o encontro com a intenção de sair a jogar curto, envolvendo os médios e procurando aplicar o princípio do terceiro homem. No entanto, os médios do Benfica ajustaram rapidamente para uma marcação mais apertada, o que levou a equipa algarvia a optar por um jogo mais vertical, recorrendo com maior frequência a bolas longas direcionadas para o ponta de lança.
Em termos individuais, o destaque positivo vai para Manu Silva. Titular e a cumprir os 90 minutos, o médio entrou com vontade evidente. Numa fase inicial, cometeu o “erro” de querer estar constantemente no centro do jogo e de tocar demasiadas vezes na bola, algo compreensível para um jogador que regressa após um longo período de ausência. Com o decorrer do jogo, especialmente após os primeiros 20 minutos, tornou-se mais posicional e revelou boa leitura tática. Tecnicamente cometeu alguns erros, mas a iniciativa e a disponibilidade que apresentou acabam por ser sinais encorajadores.
A nota negativa da noite prende-se com as lesões de Samuel Soares e Sudakov. No caso de Samu, importa lembrar que, sob as ordens de José Mourinho, tem tido oportunidades sobretudo na Taça, e nenhum jogador quer desperdiçar esse tempo precioso de jogo. Já Sudakov, de acordo com as palavras do treinador, deverá estar apto para regressar à competição já na próxima segunda-feira, frente ao Famalicão.

