José Mourinho | Dedinho ou dedão

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Só agora, 22 dias depois de confirmar com uma rubrica o regresso ao Benfica, Mourinho conseguirá ter uma verdadeira fase de transição, de preparação e efectivo trabalho de campo. A tempestade de calendário ainda vai a meio, que ainda precisa o Benfica de segurar a Taça em Trás-os-Montes e salvar a Champions em Newcastle upon Tyne; Outubro terminará então com as portas abertas para o futuro quando os associados forem às urnas. Mourinho, esperto, nunca se associou a esse momento nem quis prometer apoios e alianças – comprometeu-se simplesmente com o Benfica. 

E teve mérito nessa empreitada. Não sendo animadores os resultados ou as exibições, haverá diferenças significativas na compostura defensiva da equipa. Há mérito na forma como Mourinho conseguiu transformar alguém que se deixou derrotar pelo campeão azeri na primeira equipa da temporada a travar as intelectualidades táticas fariolanas. Pragmático como sempre, percebeu as circunstâncias e ordenou aos seus jogadores que obrigatório seria, numa primeira fase, não deitar tudo a perder.

Fruto das avassaladoras directrizes do calendário, a pré-época atabalhoada e em cima do joelho impossibilitou que a equipa se construísse saudavelmente. Lage tentou sempre o mesmo que Mourinho tenta agora – garantir objectivos, o resultadismo sobre a nota artística. Em constante modo de sobrevivência, treinador e plantel não aguentaram mais. Emocional e fisicamente de rastos, Mourinho percebeu imediatamente que não interessariam radicais mudanças; O problema não seriam as dinâmicas técnico-táticas, mas algo muito mais profundo.

Inexplicavelmente, com Mourinho o plantel pareceu muito mais curto. Tentando segurar o barco, confiou sobretudo nos marinheiros mais capazes, que lhe dão mais imediatas garantias. Não é altura para a muita e promissora juventude ter o destaque, protegendo-os até de outras eventuais hecatombes.

Arrumando o conjunto em 4-3-3 puro, acreditou ser essencial um bloco mais baixo, resguardando a última linha. Compactos, com saídas rápidas direcionadas para Pavlidis em apoio e com Lukebakio e Sudakov a surgirem das extremas, o Benfica enfrentou Londres e Porto nesta perspectiva mais conservadora – interessava não perder, mais que tudo, principalmente atendendo às maleitas da equipa e da escassa oportunidade de treinos. A estatística conta uma história curiosa: além da clara intenção em surpreender nos minutos iniciais, a superioridade nos remates (nove, para oito do Chelsea) que traduzem fielmente uma segunda parte onde se viram registos mais acutilantes em termos de pressão alta e circulação.

No Dragão, a mesma postura recatada, mas uma estranha acalmia. Em termos mentais, é difícil lembrarmo-nos dum Benfica tão à vontade no controlo das incidências, com tanta naturalidade no constante bloqueio das imaginações portistas. Não deverão mesmo existir muitos registos dum Benfica tão tranquilo e tão seguro de si a jogar em casa do rival. A missão mantinha-se – importante não perder, neste momento que as vitórias não caiem do céu. Mourinho, assume-o, percebeu bem cedo no jogo e teve essa mesma conversa franca com os jogadores. Pelos vistos, o consenso era de que sim, o empate serve.

Por isso, no relvado, tanta harmonia no estacionamento do autocarro: eles que venham que nós aguentamos. Barrenechea seguiu Froholdt para todo o lado, Ríos não largou Veiga, Varela encaixotou-se atrás de Pavlidis e Sudakov, e Farioli viu-se amarrado. Meio irónico, meio embasbacado, assumiria na conferência de imprensa, que é «incrível» como Mourinho «convence jogadores de topo a sacrificarem-se”.

Obviamente que se houve concordância sobre a postura a adoptar, que o ímpeto ofensivo não seria tão necessário. Por isso que a Opta tenha alertado que os quatro remates tentados eram um mínimo histórico na Liga, pelo menos desde 2018-19.

A paragem veio em boa altura. Se ainda não chegou a meter o dedo, pede-se que o faça agora. Se ninguém se surpreendeu pela nova capacidade benfiquista na organização defensiva, caberá apenas e só a Mourinho mostrar ao mundo que ainda será capaz de meter uma equipa a jogar futebol de olhos na baliza adversária.

Em Chaves, viagem exigente, mas que possibilitará que nos mostre em que miúdos confia e quem deles pode alargar o tal leque de 13 ou 14; e veremos se em Newcastle aquelas transições rápidas de Stanford Bridge, protagonizadas quase sempre pela irreverência de Lukebakio na condução, se podem traduzir em golos e numa tão necessária vitória.

Pedro Cantoneiro
Pedro Cantoneirohttp://www.bolanarede.pt
Adepto da discussão futebolística pós-refeição e da cultura de esplanada, de opinião que o futebol é a arte suprema.

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