Judas, o filme

Topo Sul
Confesso que não estava nada à espera do acontecimento mais escandaloso de que me lembro de assistir no futebol português. Estou triste, ou melhor, estou desiludido. Jorge Jesus é um dos melhores treinadores do mundo e, por isso, orgulhei-me durante os últimos anos de que fosse o meu treinador e loucamente festejei os titulos que me deu. Como treinador, terá, como sempre teve, o meu respeito e a minha admiração, como ser humano continua e continuará a demonstrar que é ingrato, desrespeitador e sobranceiro e por isso não merece, como nunca mereceu- e quem leu os meus textos sabe ao que refiro- a minha consideração.

Tenho uma opinião muito clara em relação a esta manhosa transação. Luis Filipe Vieira não quis Jorge Jesus; Bruno de Carvalho sempre quis muito JJ, mas queria ainda mais destruir o Benfica. Nesta equação, JJ não gostou do comportamento de Vieira, mostrou que faz o que quer e bem lhe apetece, olhando apenas para si próprio, e apunhalou-o nas costas, tal como fez a milhões de benfiquistas. Em toda esta história só vejo vilões e maus de fita. Tipos vaidosos, gananciosos, que só pensam no seu umbigo e que querem ser sempre os protagonistas. Analisando friamente todo este filme, e olhando para o perfil dos actores que o protagonizam, consigo encontrar uma lógica para o enredo, mas há demasiada coisa por explicar e eu estou ansioso pelo desfecho desta longa-metragem.

Vamos por partes, e comecemos pelo lado do campeão nacional, o Benfica, clube de adeptos, jogadores, dirigentes e, também, de treinador e presidente. Tudo se encaminhava para a conquista do bi-campeonato e o treinador do Benfica ainda não tinha o seu futuro definido no clube. As provas de qualidade de Jorge Jesus pareciam não ser suficientes para convencer Viera de que o melhor para os encarnados era continuidade de um técnico bi-campeão nacional.

Os meses vão passando e a expectativa cresce. Vieira e Jorge Mendes (empresário de JJ) preparam uma jogada para colocar Jesus num clube grande estrangeiro, uma opção que agradava quer ao presidente encarnado, quer ao aclamado empresário. O primeiro conseguia aquilo que sempre quis: alimentar o seu bebé chamado Caixa Futebol Campus, contratando um treinador que aposte na formação, como é Rui Vitória; O segundo encaixava mais uns milhões no seu bolso com o ingresso de JJ num Milan, Marselha ou num clube árabe qualquer. Tudo isto ia acontecendo nas costas de Jesus que, apercebendo-se de que poderiam estar a empurrá-lo para a saída do Benfica, começa a ceder aos engates de Bruno de Carvalho, presidente do Sporting, outro dos protagonistas deste escândalo.

Estou certo de que o presidente leonino sempre quis o treinador do Benfica no seu clube e a partir do momento em que lhe acenaram com uns milhões sabe-se lá vindos de onde, a sua prioridade foi resgatar o treinador do seu maior rival, num golpe de “cinema” que coloca em êxtase a maioria dos sportinguistas e em depressão a maioria dos benfiquistas (não é o meu caso). Assim começaram os encontros entre Bruno de Carvalho e Jorge Jesus, lá nos longínquos meses de Janeiro e Fevereiro, numa altura em que o BdC estava farto de Marco Silva e Jesus cansado de lutar com Vieira pelo trono da vaidade.

Jorge Jesus, de adorado para odiado num ápice; Fonte: Facebook do Sport Lisboa e Benfica
Jorge Jesus, de adorado para odiado num ápice;
Fonte: Facebook do Sport Lisboa e Benfica

Chegamos a Junho e rebenta a bomba: Jorge Jesus vai ser treinador do Sporting. Procuram-se motivos, heróis, culpados e coitadinhos e por mais estranho que pareça todos os vaidosos protagonistas do filme acabam satisfeitos da vida, menos Jorge Mendes, o único que se lixou. Vieira vai ter Vitória para apostar nos meninos e assim consumar o projecto, futebolisticamente falando, que criou quando chegou ao Benfica: ganhar campeonatos, ir a finais europeias e apostar nos jovens da formação; Jesus vai treinar “o seu clube do coração”, vingando-se da falta de vontade de Vieira em segurá-lo, mostrando uma enorme ingratidão e egoísmo para com um clube que sempre lhe deu tudo o que este exigia; Bruno de Carvalho consegue roubar o “treinador de sonho” ao seu maior rival; O coitado do Jorge Mendes é que não conseguiu nada com este negócio e, por isso, espero eu, vai aliar-se com Vieira no mercado de transferências para reforçar o plantel encarnado.

Como crítico deste filme, aceito que Vieira se tenha cansado das exigências de Jesus e do facto de atribuírem ao técnico os louros do sucesso, e não a Vieira, que sozinho segurou JJ numa fase difícil do clube, no final de 2013. Contudo, este era o momento menos próprio para o presidente encarnado deixar de ceder aos caprichos do técnico, depois de um inédito bi-campeonato, numa machada brutal ao rival F.C. Porto. Para o clube, nada era melhor do que a continuidade de JJ e Vieira pôs-se a jeito da machada da aliança Carvalho-Jesus, acreditando que tal cenário seria impensável. Quanto à prestação de Jorge Jesus, dar-lhe-ia zero estrelas porque não gosto de actores mesquinhos, reles e ingratos. Jesus é um daqueles indivíduos que passam por cima de tudo e todos para conseguir o que quer e não tem o mínimo respeito pelas instituições que representa. Neste sentido, não me espanta a saída conturbada de JJ (já tinha saído desta forma do SC Braga). Agora, o seu objectivo é provar que consegue fazer milagres numa equipa como o Sporting, numa tentativa de vingança para com a passividade de Vieira. Coisa de egos!  Pode ser que o próximo papel de o treinador seja o de actor secundário, pois normalmente é o que acontece quando se assina pelo Sporting.

Este filme está a ser um sucesso de bilheterias e a comunicação social agradece. Os sportinguistas estão loucos, como sempre estão entre Maio e Setembro, até que o Inverno lhes resfria, como sempre a alma e coração leonino. Nós, benfiquistas, habituados a ser liderados por um bando de corruptos, egoístas, vaidosos e ingratos, lá vamos levando com estes abonões, que por muito que se fale, não beliscam a paixão de um lampião que é bi-campeão. Porque o mítico chavão “as pessoas passam, o clube fica” nunca fez tanto sentido.

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João Pedro Óca
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