Kokçu e Benfica | Um arrufo ou divórcio milionário?

Benfica

Kokçu, internacional turco de 23 anos e eleito o melhor jogador da liga holandesa na temporada passada, chegou ao Benfica no último verão por uns sonantes 25 milhões de euros. Uma verba que, para a realidade portuguesa, traduz um investimento ousado e de grande compromisso para com o clube e com o futuro no mesmo.

Depois de uma época em que a camisola número 10 das águias não havia sido utilizada em honra à morte de Fernando Chalana, foi o próprio Rui Costa que concedeu a responsabilidade a Kokçu de carregar o peso da mesma camisola esta época. Face a todo o envolvimento da transferência, foram depositadas muitas esperanças no jogador e naquilo que o mesmo poderia entregar ao serviço das águias, no entanto, até esta altura da temporada, alguns rasgos de genialidade e de verdadeira qualidade não foram suficientemente consistentes para convencer a massa adepta, o treinador, a direção e o próprio jogador.

Kokçu a jogar pelo Benfica
Fonte: Luís Batista Ferreira/Bola na Rede

Numa época que não se transparece nem fantástica, nem horrenda, mas sim medíocre, Kokçu junta agora a todo este envolvimento desportivo à sua volta, um problema pessoal. Numa entrevista concedida pelo mesmo a um órgão de comunicação social dos Países Baixos, Kokçu revelou alguma insatisfação no Benfica e criticou alguns aspetos que o têm vindo a transtornar esta temporada, tanto a nível do que acontece dentro das quatro linhas como fora delas. Uma entrevista que apanhou de surpresa os responsáveis encarnados e que deixou o jogador fora da ficha de jogo frente ao Casa Pia pela ação que havia tomado, sem a autorização do clube.

Posto isto, há que analisar a situação em que o jogador e o clube se inserem neste momento.

A RAZÃO REPARTIDA ENTRE KOKÇU E SCHMIDT

Procurar o herói e o vilão numa história é normalmente o caminho mais recorrente para entender a mesma, no entanto, há histórias em que isso não precisa necessariamente de acontecer. Aquilo que Kokçu pensa e acaba por dizer é aquilo que já se questionou várias vezes anteriormente, e não é sem fundamento.

Desde o início da época que o jogador tem atuado num meio-campo a dois, acompanhado por João Neves, onde ambos devem exercer ações ofensivas e defensivas, visto que não está presente nenhum médio que se denomine como defensivo, à semelhança de Florentino. Kokçu é um jogador de ligação, de grande importância na criação do ataque e de situações perigosas. Em nenhum momento se caracteriza como um médio com capacidade de recuperar defensivamente, nem de apoiar a equipa nessas tarefas, as suas características não têm essa conotação. No processo de construção, o seu papel já pode recuar alguns metros, mas no que diz respeito a tudo o resto, a sua utilização naquela posição não favorece em nada as suas capacidades, nem a própria equipa, que perde um elemento importante em certos momentos.

Roger Schmidt
Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

O pensamento mais simples irá apontar para a falácia de que o dinheiro investido no jogador requer que o mesmo jogue onde for preciso, da forma que for preciso, mas a verdade é que, no momento da compra, já se conheciam as características do atleta e aquilo que o mesmo seria capaz ou não de fazer. Nem todos os jogadores têm a capacidade de se adaptar a outras funções com bastante critério, como é o caso de Aursnes. Não se pode usar o exemplo do médio norueguês para desculpar o facto de não existirem mais casos como o dele, até porque o próprio Aursnes também vai sendo prejudicado por não ser utilizado na sua posição de origem. Serve como solução e alternativa de forma constante, mas não consegue demonstrar o seu verdadeiro potencial desta forma. É apenas sacrificado jogo atrás de jogo.

Do lado oposto ao do jogador, está o treinador. Roger Schmidt utilizou esta formação tática desde que chegou ao Benfica, e, apesar de algumas tarefas e exigências dentro de campo terem mudado, a disposição dos jogadores dentro das quatro linhas é igual. É aqui que surge o erro que leva à interferência entre o treinador e todo o conjunto. Roger Schmidt tem tentado adaptar os jogadores a funções e funções a jogadores, nunca seguindo uma linha reta de pensamento e de ideias. Na temporada passada, a equipa estava moldada de forma funcional e equilibrada. Todos os elementos funcionavam de forma perfeita no terreno porque se completavam e sabiam funcionar juntos. Esta época, não se verifica o mesmo. Passa a ideia de que não existe um critério entre potencializar o modelo a ser imposto ou as características dos jogadores. O técnico alemão tenta equilibrar os dois aspetos prejudicando depois alguns elementos da equipa, sendo obviamente um deles, Kokçu.

Kokçu, uma das contratações do SL Benfica
Fonte: Paulo Ladeira/Bola na Rede

Ainda assim, Roger Schmidt já utilizou em algumas ocasiões esta época um sistema diferente, o 4-3-3. Sistema esse que encaixa mais com as características de alguns jogadores, mas que, para o técnico alemão, não é a melhor opção. Nessas circunstâncias vimos Kokçu atuar um pouco mais adiantado no terreno, e consequentemente, ser mais influente no jogo. Mais livre, mais destemido, com mais chegada à área, com mais hipóteses de assistir os colegas. Para azar do médio, esses momentos não passaram de testes ou experiências para Roger Schmidt e a verdade é que o planeamento da equipa cabe unicamente a uma pessoa: o treinador.

Apesar disso, e com toda a insatisfação presente, o médio turco apresenta-se como o terceiro elemento com mais participações em golo de todo um plantel. Um dado que mostra, sobretudo, o potencial bruto a retirar do jogador.

O CONTEXTO DESFAVORÁVEL

Se em alturas “normais” as declarações não cairiam da melhor forma, numa altura determinante da temporada como esta, a entrevista concedida por Kokçu anula qualquer tipo de razão ou fundamento que o mesmo poderia ter. Numa primeira instância, há que olhar para a situação em que o clube figura. O Benfica encontra-se a lutar por três competições, e tem pela sua frente um calendário exigente e apertado, que requer o maior compromisso possível de toda a equipa para o alcançar dos objetivos, e nesse aspeto, Kokçu mostra algum desrespeito face à situação conjunta da equipa.

Além disso, nos últimos jogos, Florentino tinha vindo a ganhar espaço no onze titular, e, desta forma, Kokçu concede ainda mais espaço ao médio português. A ascensão de Florentino tem-se registado progressiva e Kokçu com esta ação acaba por estender ainda mais a passadeira para o protagonismo do colega.

Um facto que até pode favorecer a equipa, mas que, a nível individual, prejudica bastante o próprio jogador.

Orkun Kokçu e João Neves no jogo entre o Benfica e o RB Salzburgo
Fonte: Carlos Silva/Bola na Rede

A verdadeira solução não passará certamente por uma multa ou uma suspensão, mas sim, pela compreensão que a história de Kokçu no Benfica ainda tem muito que escrever. 

Dito isto, e face às posteriores declarações de justificação do jogador, espera-se um período de redenção, que, à semelhança de casos anteriores, se resolverá puramente dentro das quatro linhas.

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Guilherme Terras Marques
Guilherme Terras Marques
Orgulhoso estudante da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, vê no futebol e na sua cultura uma paixão. É apenas mais um jovem ambicioso que sonha fazer do jornalismo desportivo a sua vida. Escreve com o novo acordo ortográfico

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