O céu ao virar da esquina

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1. É um paradoxo interessante. Nos últimos sete anos, o Benfica nem sempre fez tudo bem; embora, a bem da verdade, nunca como nesta época havia feito tudo tão mal. Para já, estes “calimeros” – como todos fomos esta semana carinhosamente diagnosticados por um iminente comentador afecto a um rival – têm presença assegurada no sorteio que reúne as melhores dezasseis equipas do futebol europeu. Tendo em conta as circunstâncias, parece-me, neste caso, que o assunto fica instantaneamente arrumado com balanço positivo: a nível desportivo, a realidade não permitirá muito melhor e, quanto a receitas, teremos já atingido valores acima do expectável, superando mesmo a prestação de contas dos plantéis com mais qualidade e quantidade das épocas anteriores.

O percurso do Benfica na Liga dos Campeões demonstra duas verdades contraditórias (que, aviso desde já, prometem ser confusas ao leitor): esta equipa, com as suas lacunas, visíveis a olho nu, é demasiado curta para a grandeza do clube e a ambição dos adeptos. Porém, isso não invalida que, mantendo esta rota de crescimento – com Renato Sanches no “onze” e os regressos de Nelson Semedo e Salvio –, seja capaz de continuar a ser competitiva lá fora e, sobretudo, ter ainda uma palavra a dizer no plano interno, onde, felizmente, não há tubarões à vista, mas onde apenas flutuam uns peixes graúdos e uns moluscos tentaculares, possíveis de serem pescados ou contornados.

Confesso que, há bem pouco tempo, era incapaz de imaginar um desfecho feliz para este campeonato; no entanto, torna-se cada vez mais impossível, vendo os jogos dos nossos principais adversários, impedir que uma luz de esperança me ilumine o distante fundo do túnel. O que me angustia verdadeiramente é a convicção consciente de que esta época, bem pensada e preparada, teria sido, muito provavelmente, o mais tranquilo passeio no parque dos títulos da minha memória.

A força inigualável dos sócios e adeptos benfiquistas é uma das "armas" que o clube não dispensa; Fonte: Facebook do Sport Lisboa e Benfica
A força inigualável dos sócios e adeptos benfiquistas é uma das “armas” que o clube não dispensa
Fonte: Facebook do Sport Lisboa e Benfica

2. Rui Vitória tem errado? Sim, é verdade – posso até encher um bloco de notas com coisas que faria diferente. Mas tento sempre ser justo e creio, visceralmente, que o nosso treinador tem vindo a crescer com o grupo: melhorou no discurso – essencial neste patamar – e libertou-se, finalmente, da herança táctica de Jorge Jesus, começando a definir e a aplicar as suas próprias ideias de jogo com que sempre justificou um percurso célere até ao topo. Não lhe peçam, no entanto, milagres: este Atlético de Madrid de Simeone venceria o campeonato português com siestas pelo meio e só não se apercebe disso quem tem Maccabi de Tel Aviv ou Skenderbeu como termo de comparação. Rui Vitória já demonstrou que, com as “ferramentas” certas, tem as competências necessárias para nos levar às vitórias e de regresso aos títulos.

Concluo assim, recorrendo friamente à observação e à memória: a Norte, Lopetegui para estar de pedra e cal (a coberto do estatuto de aposta presidencial); aqui ao lado, é a bazófia que, normalmente, lá para o fim do jogo e do campeonato, costuma resolver a questão. Com a vantagem de Rui Vitória deter um carácter irrepreensível, como homem e profissional – e, para isso, não é necessário ir até à Albânia ou a Bilbau para fazermos comparações.

3. Sublinho a ideia de que o Benfica de hoje tem todas as condições – físicas e humanas e financeiras – para ultrapassar qualquer obstáculo com que se depare em território nacional. Poderá, eventualmente, perder um ou outro título (como se confirmou já nesta época), mas a regra, essa, terá de cumprir o destino natural e cadente feito à medida do próprio clube. Para isso, basta alavancar e tornar constante a eficácia e a eficiência da estrutura, o que, nos últimos meses não foi devidamente concretizado, devido, essencialmente, a uma alteração polémica e profunda de protagonistas e de estratégia.

Esta é, aliás, a fase por que esperei tantos anos, desde a longa recuperação do clube, iniciada na aurora do século, até à transição para a modernidade. Em nenhum sector, a força da nossa marca é, actualmente, comparável com a dos nossos rivais: como é facilmente verificável, através dos feitos e dos números. Falta, todavia, concretizar essa distância, de forma efectiva e definitiva, dentro das quatro linhas – pois a simpatia dos anunciantes (os das camisolas, da televisão ou, aguarda-se, do estádio) não durará sem glória. Será este o grande objectivo para o próximo par de anos: fazer regressar e fixar a hegemonia do Benfica no futebol português.

João Amaral Santos
João Amaral Santoshttp://www.bolanarede.pt
O João já nasceu apaixonado por desporto. Depois, veio a escrita – onde encontra o seu lugar feliz. Embora apaixonado por futebol, a natureza tosca dos seus pés cedo o convenceu a jogar ao teclado. Ex-jogador de andebol, é jornalista desde 2002 (de jornal e rádio) e adora (tentar) contar uma boa história envolvendo os verdadeiros protagonistas. Adora viajar, literatura e cinema. E anseia pelo regresso da Académica à 1.ª divisão..                                                                                                                                                 O João não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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