O Passado Também Chuta: Mário João

Mário João. Um dos muitos intérpretes nascidos e criados em pleno Barreiro, escola de vida como não houve outra na história do SL Benfica. Ingressou na CUF ainda miúdo e por ali continuou, como era apanágio à época – o futebolista concilia o desporto com a profissão, dado que os dinheiros da bola para pouco servem.

Em 1957, e metido na transferência de Arsénio, passa o Tejo e instala-se no lar do jogador, cedido por cinco anos com licença sem vencimento da entidade patronal. Era o sonho de uma vida: defender as cores da águia.

De avançado aguerrido, pronto para a guerra, vê-se pouco depois no meio-campo. Para aproveitar melhor as suas características e pela qualidade de outros que deambulavam na frente, diria Otto Glória.

Quando Béla Guttman chega, em 1959, transforma-o definitivamente no defesa multifunções que ganharia fama. Seria atrás que faria carreira e as maiores proezas da sua vida enquanto atleta. Em 1960-61, tapado por Saraiva e Serra, efectua cinco jogos oficiais até à final de Berna.

Mas acabado de chegar à Suíça, surpreende-se por ver o seu nome entre os titulares. Jogado aos lobos? Pelo contrário, diriam os jogadores do Barcelona. Puxou dos galões, foi pronto-socorro no amasso culé e seria uma das principais figuras daquela vitória. Pela alma e sentido prático demonstrados, o espírito combativo que ajudou à construção da Mística. Ganhou aí a titularidade, antes de entrar para a última época de contrato.

Num corte in extremis que se tornou famoso, frente ao Barcelona
Fonte: UEFA

Em 1961-62, já figura de proa e medalha de Mérito, escudava agora as selvagens divagações na frente dos meninos prodígio António Simões e Eusébio da Silva Ferreira. Cá atrás, a cortar tudo e a dar segurança à miudagem, acompanhava-o Costa Pereira, Ângelo, Germano, Cruz e Neto. Foi então com toda a naturalidade que se atingiu a segunda final da Taça dos Campeões consecutiva. O destino era Amesterdão.

Nos preparativos para a batalha, informam-no de que vai ter a tarefa de marcar Paco Gento. O craque madridista tinha sido titular do penta europeu do Real e era tão temido quanto Di Stéfano. Quase como um acordo de cavalheiros, combinou com Cávem – incumbido do outro craque – que não dariam azo a brincadeiras. Assim aconteceu, mas esqueceram-se de combinar o mesmo com o responsável por Puskas: e o Major Galopante, percebendo a falha na marcação, aproveitou como pode. Fez um hat-trick em 38 minutos e levou o Real a ganhar 2-3 para o intervalo.

Mas, na cabina, acertou-se tudo como deve ser. Se Gento e Di Stéfano já estavam no bolso, Puskas para lá foi rapidamente. Este acerto na estrutura defensiva foi o catalisador de toda a potência encarnada lá na frente e, no final, o 5-3 que tornou aquela equipa lendária. Volta a Portugal e ainda é titular na final da Taça, frente ao Vitória sadino (3-0). Seria aí a sua despedida, obrigado a regressar à base – ou continuava empregado na CUF, ou ficaria 100% como profissional do Benfica. Incrivelmente, a fábrica dava mais dinheiro.

«Na época 1960/61, quando ganhámos a primeira Taça dos Campeões, recebíamos três contos por mês, que não dava para nada. Na segunda época, o ordenado subiu para quatro contos, mas continuava pouco. Em 1962, a CUF escreveu-me uma carta a dizer que ia acabar a licença sem vencimento. Aí, escolhi sair do Benfica e optei por regressar ao Barreiro para trabalhar na CUF e jogar por eles. Ou ficava no Benfica e perdia o emprego, ou voltava à base. O salário não era muito diferente, mas sempre recebia dos dois lados: como empregado e como jogador. Graças a isso, agora tenho estabilidade. Sou reformado da CUF. Se ficasse no Benfica, seria ultrapassado por alguém mais novo, porque estavam sempre a chegar jogadores novos ao Lar do Jogador e depois andava aí aos caídos.» disse em conversa com Rui Miguel Tovar, em 2016.

Em 1965, marcaria numa visita à Luz, numa derrota por 6-1. Continuaria jogador até 1968. 

Completou 89 jogos em cinco épocas de Benfica, conquistando três títulos de campeão nacional, três Taças e as duas Taças dos Campeões Europeus. Jogou três vezes com a camisola da Seleção.

Fez, no dia 6 de Junho, 85 anos. Um dos grandes.

Artigo revisto por Inês Vieira Brandão

Pedro Cantoneiro
Pedro Cantoneirohttp://www.bolanarede.pt
Adepto da discussão futebolística pós-refeição e da cultura de esplanada, de opinião que o futebol é a arte suprema.

Subscreve!

Artigos Populares

Nuno Dias: «Mais um troféu e uma vitória categórica que não deixa dúvidas»

Nuno Dias analisou o desfecho do duelo entre o Sporting e o Benfica. Leões conquistaram a Supertaça de Futsal em Gondomar numa vitória por 6-1.

Cassiano Klein: «Competir contra a arbitragem emocionalmente é desafiante. Não podemos, estamos aqui para jogar e eles para arbitrar»

Cassiano Klein analisou o desfecho do duelo entre o Sporting e o Benfica. Leões conquistaram a Supertaça de Futsal em Gondomar com um 6-1 na final.

Sporting goleia Benfica por 6-1 e vence Supertaça de Futsal

O Sporting não deu quaisquer hipóteses ao Benfica na Supertaça de Futsal. Triunfo contundente por 6-1 dos leões sobre o eterno rival em Gondomar.

Nun’Álvares vence Benfica no prolongamento e conquista Supertaça Feminina de Futsal

O Nun'Álvares venceu a Supertaça Feminina de Futsal. Na final diante do Benfica, triunfo por 3-2 só surgiu no prolongamento.

PUB

Mais Artigos Populares

Jeremiah St. Juste pede respeito ao Sporting e garante: «O verde e o branco bombeia nas minhas veias e vou vestir a camisola da...

Jeremiah St. Juste reagiu em comunicado à decisão do Sporting em despromovê-lo à equipa B. Defesa pediu mais respeito e garantiu que vestirá a camisola com orgulho.

Frederico Varandas com mensagem de confiança aos adeptos do Sporting: «A nossa estratégia é igual desde 2018 e ninguém ganhou tantos campeonatos como nós»

Frederico Varandas falou antes da final da Supertaça de Futsal. Presidente do Sporting tocou nos temas quentes do universo leonino, do mercado ao plantel.

Frederico Varandas responde aos agentes de Viktor Gyokeres e Conrad Harder: «São excelentes agentes porque fiz 90 milhões de euros e não paguei comissão»

Frederico Varandas falou antes da final da Supertaça de Futsal. Presidente do Sporting tocou nos temas quentes do universo leonino, do mercado ao plantel.