O resistente Vlachodimos | SL Benfica

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Aos 29 anos, a melhor época da carreira de Odysseas Vlachodimos, que com números avassaladores cumpre a convicção popular de que é na chegada aos trintas que se pode testemunhar o auge de qualquer keeper que se preze. O alemão tornado grego por ascendência cumpriu o maior número de jogos desde que aterrou em Lisboa (54), arrebatando muitas clean sheets além das exibições de lhe tirar o chapéu – lá fora, foi-se começando a emparelhar o seu nome com o de Ter Stegen, como o mais eficaz do ano na Europa.

Se o processo defensivo gloriosamente coordenado por Schmidt permitiu à equipa um grande à vontade no controlo das ameaças adversárias, Vlachodimos rejubilou nessas fases de maior fulgor da equipa e assumiu as últimas responsabilidades, evidenciando-se a excelente nível. Recorrentemente entre as figuras da semana na UEFA, acompanhava o hype que a equipa adquiriu na fase de grupos da Champions.

No cômputo geral da temporada, o melhor Vlachodimos de sempre aproveitou para melhorar (e muito) os seus índices – porque 20 golos sofridos em 34 jogos são números de guarda-redes campeão e representam 0,58 golos sofridos por jogo, bem acima dos 0,78 conseguidos em 2019/20, a melhor marca até 2023; sem comparação com as marcas de 2018/19 (30 golos sofridos em 34 jogos, 0,88) ou de 2020/21 (16 em 18, 0,88); e menciona-se 2021/22 apenas por teimosia (30 em 32, 0,93).

O que, tudo somado, não retirou Vlachodimos da retaguarda num hipotético ranking de guarda-redes encarnados neste milénio. Ao já referido Quim, juntam-se Moreira, Ederson, Júlio César ou Oblak, os mais preponderantes: e qualquer um deles com melhor taxa de golos sofridos por jogo – o que mais se aproxima de Odysseas (que com 214 golos sofridos em 223, sofre 0,95 por partida) é Moreira (130 sofridos em 144), o titular da baliza no mítico campeonato de 2004-05 e que defendeu um Benfica em reconstrução, francamente menos preparado tática e tecnicamente que o Benfica actual.

Se formos para a tabela das clean sheets, é Moreira (59 nesses 144 jogos, 40%) o único que perde para o alemão (que tem 93, 41%), que olha para cima e vê, por ordem, Quim (79 em 177, 44%), Júlio César (38 em 83, 45%), Ederson (32 em 58, 55%) e lá ao fundo, muito distante, uma entidade sobrenatural a levitar dum púlpito em talha dourada – o esloveno que é agora do Atlético de Madrid, que em Lisboa fez 26 jogos e sofreu… seis golos, conseguido 22 clean sheets (84%)!

Dirão, com toneladas de razão, os mais conhecedores ou os mais moderados, os mais justos e os mais gratos – que um guarda-redes não se mede só pelos números, que Vlachodimos já deu muito ao Benfica, sobretudo naquilo que são as exibições onde tenha passado a maior parte do tempo entre os postes: o jogo de Amesterdão na vitória frente ao Ajax, ou o jogo em Eindhoven contra o PSV de Schmidt, além da já referida proeza contra o PSG; E lembrarão, do lado oposto, aqueles que ficaram sobretudo marcados por descontracções caricatas que se foram acumulando e moldaram a apreciação difusa entre benfiquistas, o 2-2 frente ao Belenenses – que impediu Bruno Lage de fazer o pleno de vitórias – ou os jogos frente a FC Porto ou Inter deste ano.

Vlachodimos, se de elite sobre a linha de golo continua, apesar da evolução assinalável, permanece desconfortável nas acções fora da pequena-área, como a saída a cruzamentos ou o jogo de pés, aspecto fundamental nas equipas de topo europeu: exactamente contra FC Porto e Inter, foi pela técnica de Diogo Costa ou Onana que o Benfica começou a ser vulgarizado, pela incapacidade em pressionar alto e impôr o seu ritmo.

E com grande aproveitamento nesse capítulo, já espreitam do banco Samuel Soares e André Gomes, os dois prodígios que criaram nome pelas equipas de formação das águias e esperam agarrar o futuro com as mãos. Aos dois faltará experiência de futebol de primeira e o empréstimo deverá ser o próximo passo no seu desenvolvimento; e por isso mesmo, a aparição de rumores como Sommer vêm alimentar esperanças de grande franja de adeptos encarnados – que, exigindo subida de patamar competitivo, querem sangue novo na baliza sem que isso implique apressar o crescimento das joias da coroa.

Se é pela baliza que se constroem as grandes equipas, como alguém proverbiou um dia, há quem veja em Vlachodimos apenas um bom atleta, sem potencial para se tornar num keeper consistente, astuto em todos os momentos do jogo e que por isso consiga transmitir total confiança à sua linha defensiva.

Desde que chegou ao Benfica, já deverá Odysseas ter aprendido a conviver com essas desconfianças: dos colegas, dos adeptos e dos treinadores. Bruno Lage, que com ele foi campeão, tratou logo naquele Verão de pedir um substituto – e deram-lhe Perín, que aterrou em Lisboa a coxear e não passou os exames médicos; depois Jesus, que tentou forçar investida no mercado de inverno ao fazer trocar, sem grande aviso, Vlachodimos por Helton Leite a meio da época.

Porém, nada disso interessa muito por agora. Pelo menos para Vlachodimos, que com o título de campeão no bolso e o prémio de guarda-redes menos batido da Liga, se compromete com os objectivos helénicos para os jogos particulares frente a Irlanda e França a meio deste mês de Junho.

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Adepto da discussão futebolística pós-refeição e da cultura de esplanada, de opinião que o futebol é a arte suprema.

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