As derrotas com Sporting CP e FC Porto estamparam na realidade a necessidade de terminar a ligação com o treinador, que aconteceria pouco depois por problemas internos entre si e o plantel.
Entrando Nélson Veríssimo, que readoptou o 4-4-2 e tentou elogiar Lage ao entregar a posição de apoio ao avançado a um prodígio da cantera, fechar-se-ia o espaço para Roman. Ramos começou a emparelhar com Darwin Núñez, Everton ocupou a esquerda – e só em situações de extrema necessidade de golos é que o uruguaio voltava à ala, abrindo espaço para o ucraniano no 4-2-4 que deu resultados, por exemplo, frente ao AFC Ajax na Luz.
Roman marcou nesse jogo, mas já vinha sendo notória a falta de rotinas entre avançado e restantes colegas no novo estilo de jogo: desde a entrada do novo técnico, apenas um golo (e apenas três titularidades), ao contrário dos 7 feitos com Jorge Jesus. Situação que provocou inclusive declarações pouco pensadas do ucraniano.
Ao todo, até princípios de Abril, foram 8 golos e 6 assistências em 1952 minutos – participação em 39 jogos – o que perfaz um golo a cada 244 minutos ou uma contribuição para golo a cada 139’. Neste segundo capítulo, não se aproxima da marca de Darwin (que contribui para golo a cada 69 minutos) ou de Taremi (a cada 85’), mas encosta o ombro em Paulinho (a cada 152’), Evanilson (109’) ou Gonçalo Ramos (190’).
Comparando com outros protagonistas dos top 5 da tabela, percebe-se que Abel Ruiz (278’) ou Fran Navarro (193’) ficam longe, sendo apenas ultrapassado por Vitinha (109’). É um bom indicador e que consolida esperanças para o futuro, esperanças essas que se mantêm inatacáveis principalmente pelos dados de rendimento que consegue ter ao serviço da seleção.
Assume-se de forma muito mais fluída como pivot ofensivo e integrante da construção de jogo da equipa, tendência sobretudo visível pela vantagem no número de remates por jogo (2,1 pela Ucrânia contra apenas 1,5 ao serviço do SL Benfica), pelo número de passes-chave (1,5 contra 0,4), pelos dribles bem sucedidos por jogo (0,6 contra 0,4) ou pela impressionante diferença nos passes por jogo (22,5 contra… 8,9!) – números que atestam o quão em sub-rendimento se encontra ainda o atleta em Lisboa.
Yaremchuk mantém pela camisola do seu país uma preponderância que não atingiu ainda no primeiro ano de SL Benfica: desde o Euro2020, Yaremchuk foi convocado para todos os jogos da sua selecção – sete – sendo titular em 5 deles e entrando suplente utilizado nos outros dois, cumprindo ao todo 453 de 630 minutos possíveis.
Foi mais uma vítima da instabilidade técnica que o SL Benfica viveu neste ano. Assim como foi, a partir de Fevereiro, um jogador ainda mais distante – obrigado a sê-lo – pela situação inacreditável vivida no território do seu país. A partir daí, todas as considerações em relação ao seu futebol e ao que produz foram e serão fúteis.
As cicatrizes emocionais irão impedir o rendimento desportivo integral durante muito tempo, ainda que as qualidades enquanto ponta de lança de referência se lá mantenham para serem aproveitadas.
Por enquanto, não é de todo o momento para fazer avaliações ou sugerir uma dispensa na preparação de 2022/23, cabendo neste momento ao SL Benfica o papel de defensor da sua integridade emocional e exigindo-se marcação apertada à falta de bom senso e à desumanização, à impaciência e ao impulso de uma venda por “oportunidade de negócio”.
Artigo revisto por Gonçalo Tristão Santos