Ou ainda como era o Terceiro Anel a condicionar o próprio jogo da equipa:
«Nós na altura não éramos gajos muito inteligentes. Nós não sabíamos gerir o jogo, tínhamos de ir para o ataque… Havia uma exigência!… Até porque se não fôssemos caía-nos o Estádio da Luz e o terceiro anel em cima! Logo! Se tivéssemos ali tec tec tec… “Não vais para a frente porquê?” […] Era uma coisa impressionante».
Memórias que atestam bem o peso da importância de uma massa adepta aguerrida e exigente, até implacável muitas vezes. Servindo como filtro meritocrático, o constante debate de ideias é o único caminho fiável na propagação dos sucessos consecutivos. A mais recente manifestação de oposição ao poder vigente no clube, as tarjas exibidas de Norte a Sul do país com a mensagem intrínseca – Rua Vieira! – partilhada por todos, é mais um grito de ordem de um dos rostos da oposição, que há muito se degladia contra as práticas incoerentes e submersivas de uma direção a quem apontam não ser sequer… benfiquista!
E incompreensíveis são as tentativas de sossegar essas mesmas manifestações como se, silenciando a paixão da massa adepta, se resolvessem todos os problemas estruturais do clube. As tarjas, sempre com mensagens incisivas na atualidade encarnada, complementaram-se ao buzinão de 24 de Fevereiro, levando Jorge Jesus a reagir de forma intempestiva, pedindo “carinho” dado os problemas que o plantel tem sofrido com o Covid-19.
Declarações que originaram a mais famosa das tarjas, onde se lia “Queres carinho? Levaste com um Paok?”, num jogo de palavras entre uma das suas recentes declarações em conferência de imprensa e um alusão à eliminação precoce de um dos principais objetivos da temporada.
Os “Rua Vieira” espalharam-se por todas as avenidas, travessas e pracetas, símbolo das mais convictas críticas à direção de Luís Filipe Vieira. Argumenta-se que, ao longo de 17 anos, e apesar de todos os méritos financeiros, da obra construída e da obtenção de um inédito “tetra”, tornaram-se insustentáveis as práticas duvidosas na gestão do clube, manobras financeiras obscuras que geraram desconfiança na opinião pública, abrindo espaço a inúmeras intromissões da justiça no seio da instituição e o que levou à conspurcação do seu bom nome. Nada disso, consideram, é adequado na liderança do maior clube português.
Maior estranheza causa uma evidente aversão a qualquer tipo de diálogo com os adeptos, e a ausência de compromisso para com as responsabilidades inerentes aos cargos que ocupam – não ajuda o refúgio em justificações extra-campo perante o insucesso da equipa, efeito “bola de neve” que termina na consequente maré de revolta.
Apesar disso, a forma pacífica como tem sido feita esta contestação é mais um dos sinais abonatórios para desvendar o real objetivo da massa adepta interveniente, com a ausência de violência a ajudar à credibilização das críticas.
Parece não haver margem para dúvidas: mais uma vez, o Terceiro Anel apenas pretende o bem do Sport Lisboa e Benfica. E mais: é essencial não confundir o clube com quem o governa, porque “nada nem ninguém é maior que o Sport Lisboa e Benfica”..