Um problema de gestão

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Ainda o jogo de ontem. O empate que o Benfica trouxe de Barcelos é o teor da minha reflexão de hoje. O resultado em si pode ser entendido como uma naturalidade, das muitas que o mundo do futebol acarreta. Um empate a uma bola num reduto historicamente difícil, num jogo em que o Benfica jogou mais de meia hora com menos uma unidade. No entanto, este não foi, de todo, um jogo em que imperaram situações normais e previsíveis, mas sim uma série de acontecimentos insólitos.

Comecemos pelo último lance do jogo. Cardozo e Lima juntos, em conferência, a decidirem qual dos dois vai dar a vitória, justa e merecida, ao Benfica. Lima, que minutos antes havia convertido uma grande penalidade, pega na bola e prepara-se para bisar na partida. Cardozo, que regressara aos relvados, três meses depois de ter arrasado o Sporting em jogo da Taça de Portugal, desloca-se até à zona da marca do penálti e tira a bola da mão do seu colega e assume a marcação da penalidade. O paraguaio mostra confiança e vontade em ser herói, mais uma vez. Os adeptos ficam na expectativa, mas confiam no seu matador, que tantas alegrias lhes proporcionara. Cardozo assume as responsabilidades, olha para o guarda-redes, avança para a bola e desfere um remate fraco e mal colocado, permitindo a defesa de Adriano, o guardião gilista. Jesus fica de braços caídos e, resignado, volta a sentar-se no banco. Adeptos e jogadores baixam a cabeça e pensam em mais dois pontos perdidos, que poderão vir a ser cruciais nas contas finais do campeonato.

Situações como esta têm, na minha opinião, de ser analisadas e repensadas, para que não se voltem a repetir. Aquilo que pode ser apenas entendido como um mero acidente é, na minha óptica, um problema de gestão com repercussões consideráveis. É certo que, praticamente desde que chegou ao Benfica, Cardozo se assumiu como responsável da marcação de grandes penalidades e, salve-se uma ou outra excepção, o paraguaio converte em golo a grande maioria das penalidades que marca e é, sem dúvida, um especialista nesse tipo de lances. Acontece que, esta temporada, o Tacuara tem sido assombrado por lesões que o impediram de ser aposta regular do treinador, que, não tendo o camisola sete disponível, optou por Lima para jogar a ponta de lança, sendo o próprio brasileiro a encarregar-se de marcar os penáltis da equipa. A questão que aqui se coloca é o que fazer quando os dois estão em campo, na altura em que há um penálti a favor do Benfica. Ontem, foi um desses casos. Jesus diz que os jogadores, no campo, têm autonomia para decidir o que fazer nesses momentos. Eu, mero adepto e sócio do Benfica, digo que não deve ser assim. Ainda mais nestas circunstâncias, em que Cardozo vem de longa paragem e Lima tem estado exímio na marcação de penalidades, tendo, aliás, convertido uma, de forma irrepreensível, no mesmo jogo.

Óscar Cardozo, pelos golos que marca e pela importância que tem na equipa, tem um peso enorme na manobra da equipa em todos os sentidos; é um elemento que está sempre num subconsciente dos adeptos. Naquela situação, Cardozo sentiu que deveria ser ele a assumir as responsabilidades e guiar, mais uma vez, a equipa, como unidade-chave que é neste Benfica. Eu não o condeno. O paraguaio é um avançado com o faro do golo, daqueles que gostam da pressão dos grandes momentos. Todavia, aquele não era o momento ideal para mostrar esse seu lado. É preciso perceber que o Tacuara vem de uma longa paragem, tem falta de ritmo competitivo e, por isso, não tem o mais desejado índice de confiança, um elemento crucial para aquele momento.

No momento em que o Tacuara, de forma legítima e própria de um goleador nato, avança para a marcação do penálti, Jorge Jesus deveria ter assumido o controlo da situação e protagonizado mais um dos seus habituais ataques de histerismo, berrando para dentro do relvado e apontando para fosse Lima a assumir a marcação. Se há momento indicado para tal acção inexplicavelmente recorrente do treinador do Benfica, aquele era um deles. Independentemente do desfecho do lance, Jesus tem mostrar que é ele quem toma as decisões na equipa, é ele o homem do leme e o responsável máximo da equipa em campo, e nenhum jogador tem mais poder que o treinador, que deve ser o líder da equipa. Em vez disso, Jesus junta mais um episódio à saga de acontecimentos erroneamente geridos pela sua pessoa.

Cardozo e Lima discutem a marcação da penalidade decisivaFonte: A Bola
Cardozo e Lima discutem a marcação da penalidade decisiva
Fonte: A Bola

Não sei quais serão as repercussões deste acontecimento a nível de balneário, mas espero que não afecte a equipa, sobretudo num momento em que os encarnados atravessam a sua melhor fase e são, hoje, uma formação segura, confiante e preparada para enfrentar todos os obstáculos até ao tão desejado titulo. A verdade é que situações como esta podem ser um elemento desestabilizador no seio da equipa. Esperemos que não.  Também duvido de que esta situação fosse tão debatida caso o penálti tivesse entrado e, aí, o Benfica estaria ainda mais isolado na frente, e o herói Cardozo teria o regresso mais auspicioso que se poderia imaginar. O que é certo que, independentemente do resultado, o que aconteceu constitui-se sempre como um problema. Um problema de gestão e de controlo da equipa, para o qual Jorge Jesus deve ser chamado à razão.

Dos insólitos sucedidos, este foi, sem dúvida, o maior e sobre o qual me queria alongar mais, porque acho que o que passou não foi somente um penálti desperdiçado. Isso é normal acontecer e acontece a todos, até aos melhores.

Depois, há a expulsão, tão discutível como infantil, de Siqueira, que naturalmente prejudicou a equipa, e o tão badalado penálti sobre Djurijic, tão duvidoso que só um árbitro tão incompetente e corajoso como Bruno Paixão o assinalaria, ainda para mais no último minuto de jogo, com 1-1 no marcador. Aliás, assinalar um penálti ao Benfica em tais circunstâncias é, também, historicamente falando, um acontecimento insólito. Finalmente, para fechar o capítulo do livro O inacreditável Gil-Vicente vs Benfica, nota para o péssimo estado do relvado, que mais parecia um batatal.

E a isto se resume mais uma partida, a quarta nesta temporada, entre águias e galos. Para a semana, há um escaldante derby lisboeta, entre Benfica e Sporting, num jogo que, nesta fase da época, será muito importante, mas não decisivo, para ambas as formações. Já estamos em contagem decrescente para o fervoroso duelo.

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