A tardia reestruturação do futebol português

Nas últimas semanas foram anunciadas novas medidas para o futebol português. Algumas delas estão já aprovadas e outras ainda em análise. Essas mudanças passam pela criação da Liga 3, a redução de equipas a competir na Primeira Liga, a mudança da Taça da Liga e a possível alteração das meias-finais da Taça de Portugal.

Começando pela Taça da Liga, as modificações estão confirmadas e irão ter efeito na próxima época. Existirá uma redução do número de equipas na fase de grupos, passando cada grupo a ter três equipas, diminuindo assim o número de jogos. Esta é uma boa notícia para a modalidade no nosso país, pois desde a criação da competição e o aumento do número de jogos na Primeira Liga que o calendário das equipas que disputam as competições europeias, sobretudo, está completo, obrigando a que essas equipas fossem forçadas a rodar mais o plantel e, por vezes, a menosprezar esta Taça. Esta mudança pode vir a permitir que a Taça da Liga deixe de ser vista como uma altura para rodar o plantel e que tenha mais interesse e competitividade, embora a competição em si seja sempre vista como a terceira ou quarta competição em Portugal e, ao ter a sua fase final no meio da temporada, não permite que exista um interesse tão grande. O seu término seria muito mais agradável, pois os valores e a visibilidade envolvidos nesta prova não são elevados, e fora a Final Four, nunca apresenta grandes sucessos de bilheteira que auxilie assim tanto os clubes. Pelo menos temos uma solução para diminuir o número de jogos.

Outras mudanças propostas pela Liga Portugal e pelos clubes do nosso futebol são a disputa da meia-final da Taça de Portugal num só jogo e em campo neutro. É algo que já devia ter sido feito há muito mais tempo e que não se percebe como a competição mais democrática do nosso país dá oportunidade a que o derrotado acabe por ter uma segunda oportunidade. É verdade que cada equipa joga na sua “casa”, mas esta opção vem permitir que tenhamos outros finalistas, pois ao haver apenas um jogo é sempre mais provável existir uma surpresa.

Já em relação à redução de equipas da Primeira Liga, a questão é o porquê da demora. Seis épocas depois do aumento do número de jogos, eis que surge a notícia de que a Liga propõe a redução de equipas em disputa a partir da época 2022/23. É algo que ainda está a ser discutido, mas que espero ansiosamente que seja aceite. A nossa liga não tem capacidade competitiva que justifique tantos jogos por temporada, e esta redução só vem mostrar que o aumento de equipas foi um “tiro no pé” e que não resultou. Tentaram competir contra as grandes ligas europeias ao nível de tornarem a nossa mais competitiva, mas o que obtiveram foram equipas desgastadas e com calendários cheios. Temos de ser sinceros, a maioria das nossas equipas não tem plantéis tão extensos e que permitam a rotação necessária. Podemos contra-argumentar que não será fácil esta decisão ir para a frente devido à redução de jogos e aos contratos televisivos que os clubes têm, mas será que a maior competitividade e atração que esta decisão pode vir a trazer não impulsionará a nossa liga para outro patamar de interesse?

A outra alteração, e esta já aprovada, é a Liga 3, uma nova competição da Liga Portugal que se coloca entre a Segunda Liga e o Campeonato de Portugal. Nesta liga jogarão 24 equipas divididas em duas séries, na primeira fase. Na segunda fase, existirá uma Fase de Apuramento de Campeão, em que os quatro primeiros classificados de cada série são separados em dois grupos e, no final, as duas primeiras equipas de cada grupo sobem ao segundo escalão. Também nesta fase existe uma mudança na Segunda Liga, pois os segundos classificados desta fase jogarão entre si e o vencedor enfrentará o 16.º classificado da Segunda Liga, para poder subir de Divisão. A outra fase, a Fase de Manutenção e Descida, será dividida em quatro séries com as restantes equipas, sendo que os últimos classificados de cada grupo descerão ao Campeonato de Portugal, com quatro equipas dessa mesma divisão a fazerem o caminho contrário.

Esta é a competição que mais altera o sistema de escalões no futebol em Portugal, uma vez que é uma competição até aqui desconhecida e que, apesar de ser comparada por muitos a antigas competições, é demasiado diferente dessas. Com esta nova competição teremos uma maior competitividade, uma vez que é na sua maioria composta por clubes já profissionais e com projetos mais apelativos, afastando-os assim dos “passeios” que tinham no Campeonato de Portugal, onde muitos não tinham adversários à sua altura. Também esta liga traz mais visibilidade aos clubes, já que ao existirem menos equipas é mais acessível um acompanhamento televisivo e também o sistema da liga ser mais fácil de compreender do que o Campeonato de Portugal. Mas também é neste ponto que existe um contra: a criação desta liga irá fazer com que o interesse no Campeonato de Portugal seja ainda mais diminuto, pois as equipas mais acompanhadas irão subir para um novo escalão. Este escalão é uma inovação que tem tudo para ser positiva, pois traz competitividade, visibilidade e também novos objetivos aos clubes, que muitas vezes ficavam estagnados no escalão inferior devido às poucas subidas.

O futebol português parece estar a dar passos importantíssimos para a inovação da modalidade e para a tornar mais competitiva, sendo capaz de ouvir os seus intervenientes e não ter medo de dar um passo atrás, para dar dois à frente no futuro. Resta agora saber se estas decisões irão ter os resultados esperados e se o futebol português se torna realmente mais atrativo.

Artigo revisto por Inês Vieira Brandão

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Pós graduado em Comunicação, Cultura e Tecnologias da Informação, é no desporto que possui um dos maiores amores, com especial atenção ao futebol. Ávido adepto da Primeira Liga nacional, mas é na Premier League que encontra o futebol que mais ama e assiste.Tem como grande objetivo singrar no mundo do jornalismo desportivo.                                                                                                                                                 O João escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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