O maior do Ribatejo | Alverca

O regresso do maior representante da terra das tertúlias e da tauromaquia no mapa futebolístico nacional vem sob pompa e circunstância, depois duma recuperação assinalável a partir do momento que Vasco Botelho da Costa pegou – de sernelha, já fora de tempo – na equipa.

Estávamos em Setembro e o Alverca andava em zona perigosa da tabela, talvez ainda nem Vinícius Júnior saberia em que clube investir. O promissor treinador português entra, à jornada 13 estabiliza no ataque aos lugares de play-off e a partir da jornada 21, foi em sprint. Uma derrota na segunda parte da época e um recorde: a melhor volta de sempre do Alverca num campeonato profissional.

E tinha que ter sido mesmo a partir da jornada 21 que o sonho era assumido e sublinhado pela performance da equipa – há 21 anos que o Alverca não andava pelas elites.

A última temporada primodivisionária havia sido 2003-04, com uma equipa cheia de nomes daqueles que nos ecoam no fundo da nostalgia: com Yannick na baliza, Nélson Veríssimo como capitão, Bruno Aguiar e Torrão como determinantes artigos definidos e Rodolfo Lima a cumprir dezena de golos – e a predominância de nomes benfiquistas são, como lembrarão muitos, fruto da inevitável ligação aos encarnados como clube satélite e como rampa de lançamento de Luis Filipe Vieira nas lides do dirigismo.

Nesse 2003-04, o Alverca até tinha conseguido flutuar em zona de pé durante quase todo o ano, até chegar ao momento de se meter na cara do último touro e levar uma ripada de todo o tamanho: seis derrotas nas últimas oito jornadas, com igualdade pontual com outros dois concorrentes históricos na entrada para a última pega.

Só que enquanto os ribatejanos perdiam em Moreira de Cónegos, a Briosa espetava quatro bandarilhas no já afundado Estrela. O Belenenses, mesmo perdendo por dois na recepção ao Braga, beneficiou do confronto directo para se manter.

Era o fim do Alverca e do Ribatejo de primeira, que não mais voltou a ter representantes – e que não se atreva ninguém a mencionar o Casa Pia em Rio Maior, logo agora que as notícias dão conta que um regresso a Pina Manique só lá para 2027 ou 28…

Foram seis anos de Alverca na praça dos grandes, saudosos mais não seja pela simplicidade da forma – o futebol aguerrido, de transição, a materializar bem os valores do ideal ribatejano de valoroso trabalho braçal e orgulhosa força – ou pela estética da coisa, quando nos começávamos a aperceber que a cor das bancadas e a circulatura da praça davam parecenças – indesmentíveis, digam lá – à Palha Blanco.

O azul berrante a casar com o vermelho só coincidam com aquela tendência da  festa brava de cores garridas. De principal vestido é que o paso doble entrava bem.  

Mais à frente, certo dia, explicou-se porque acabou tudo tão abruptamente, com o Alverca obrigado a recomeçar a escalada toda da pirâmide a partir de 2005. O trambolhão foi grande porque… «No Alverca aquilo era para não subir ou para não descer. Pronto, era para andar ali» dizia Luís Filipe Vieira ao Diário de Notícias, em 2007. [1]

A caminhada durou então duas longas décadas. Em 2024, a equipa construiu-se com nomes de craveira, gente experimentada e de qualidade inegável para o contexto Segunda Liga. Mas à jornada 8, o Alverca tinha ganho… uma vez. À décima jornada, a segunda vitória.

A mudança de chip, diz Botelho da Costa, deu-se à jornada doze, depois de mais uma derrota, desta vez em casa dos meninos do Benfica. «Comecei a acreditar ali a partir do jogo do Seixal, comecei a olhar para a qualidade de jogo que estávamos a conseguir colocar dentro de campo. Acho que conseguimos ser, na maior parte dos jogos, durante largos períodos, superiores aos adversários. No fundo, o compromisso que assumimos e a sensação que começámos a ter era que poderíamos disputar e ganhar o jogo com e a qualquer equipa».[2]

E foi uma tourada para os favoritos à subida. O Alverca estava a onze pontos da liderança depois dessa derrota, no final de Novembro. À jornada 21, no inicio de Fevereiro, já o Alverca piscava o olho a Tondela e a Penafiel, a apenas dois passos. Até parece estranho que a subida directa fosse apenas consumada na última jornada…

E o que esperar para o ano? Bem, sem o timoneiro, a estrear-se na Liga por outro projecto ambicioso, o dos donos do Bournemouth, a sua substituição dá-se com a entrada de Custódio, excelente volante e jogador de Selecção, mas com currículo apenas como treinador de formação; e Anthony Carter, o MVP com 23 contribuições para golo na época, é substituído pela sua versão Liga 3.

Se o plantel do Alverca que subiu tinha maturidade competitiva para aguentar o abalo do início periclitante, aquele que Vinícius e seu agente agora ajudam a construir parece não assentar nas mesmas bases – até porque já se perderam Ricardo Dias e Bicalho, líderes incontestados; Bravim, guarda-redes menos batido e totalista; Sema Velásquez, o experiente internacional venezuelano; E ainda não se conseguiu convencer Diogo Martins, o pilar da intermediária, a acertar a renovação.


[1] https://www.dn.pt/arquivo/diario-de-noticias/grande-entrevista-a-luis-filipe-vieira-(contin.):-%22enquanto-eu-estiver-no-benfica-falham-todos-os-berardos%22.html

[2] https://www.zerozero.pt/noticias/aos-36-anos-vasco-botelho-da-costa-soma-trofeus-duas-subidas-e-chegou-a-primeira-estou-a-habituar-me-mal-/817098

Pedro Cantoneiro
Pedro Cantoneirohttp://www.bolanarede.pt
Adepto da discussão futebolística pós-refeição e da cultura de esplanada, de opinião que o futebol é a arte suprema.

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