Este artigo foi inspirado na receção do Sporting ao Casa Pia, uma partida a contar para a oitava jornada da Primeira Liga Portuguesa de Futebol 2024-2025.
Se o futebol chegou a um ponto de regular e intensivo escrutínio tático ou estatístico de cada pormenor, detalhe ou ação, há um elemento fundamental que prevalece e que é ainda difícil de ser prontamente analisado: o génio individual.
A capacidade individual de saber fazer é ainda a principal razão pela qual os adeptos se deslocam aos estádios para poder sentir a emoção de um jogo de futebol. Jogo esse que surge fruto da inspiração de humanos que acabam por fazer das suas melhores características uma arte a ser apreciada por outros. Esse é o principal fundamento do futebol. Não aquele que junta um conjunto de seis ou sete indivíduos à frente da grande área e faz de tudo para impedir o bom funcionamento de um bom jogo de futebol em prol de uma estratégia que pouco olha à beleza e aos fundamentos do desporto rei.
É importante ter em conta essa mentalidade para que o futebol não caia nas lamúrias da robotização do desporto ou da atividade humana.
Aquilo que leva os adeptos aos estádios é a paixão pelo desporto, pela emoção, pelo ambiente, por tudo aquilo que lhes promove picos de excitação enquanto se encontram no local. Normalmente, esses estados de espírito são fomentados pelo futebol de ataque, pela iniciativa individual que tem a capacidade de surpreender, pela magia de sentir o esférico lentamente mais próximo da baliza adversária, pela sensação de poder gritar golo. Esse é o futebol no seu estado puro.
A beleza não se encontra no exato oposto que coloca, a toda a força, o ser humano num estado de privação das suas qualidades individuais de forma a sair de uma partida com um potencial ponto, dificilmente conquistado dessa forma.
Isto porque do outro lado, do lado que tenta tombar à bruta esse método vil, está a emancipação da liberdade individual dos atletas. Só dessa forma se pode combater a sistematização do jogo. É a partir de jogadores marcadamente irreverentes e imprevisíveis que se decidem jogos e que se levam pontos para casa. De outra forma não seria possível.
Não é agradável para nenhum dos envolvidos (jogadores, treinadores e adeptos) ver a bola deambular vezes e vezes sem conta as marcas da grande área durante minutos infindáveis. O encanto está na procura pelo golo, ou pelo menos no seu esforço ou tentativa.
A evolução do futebol tem nos demonstrado que a dominância tática e estratégica é obviamente um fator decisivo na preparação de jogos ou competições. Ainda assim, essa procura não pode nunca obstruir a procura pela capacidade e liberdade individual de cada atleta dentro das quatro linhas. É aí que está a capacidade de definição, a capacidade de decisão. Isso não se estuda nem se prepara com a mesma facilidade.
No fim do dia cabe à inspiração e ao alento dos jogadores a resolução dos problemas que surgem no terreno. É nesse momento que se encontra a beleza do futebol, e ainda bem.