Paulo Turra no Vitória SC | Conseguirá estar perto de nomes do passado?

Paulo Turra foi apresentado como novo treinador do Vitória SC. O antigo jogador do clube (em 2004/05), entrou para o lugar de Moreno, outro ex-atleta do emblema vimaranense, mas com muito mais peso na história do Vitória SC, tendo sido inclusivamente capitão.

O futebol português (e respetiva evolução) está intimamente ligado com técnicos brasileiros, até a uma certa marca temporal, onde os treinadores lusos atingiram um patamar igual ou superior a estes. Neste momento, são mesmo os portugueses que dão cartas no Brasileirão, o que torna a chegada de Paulo Turra ainda mais surpreendente, adensando este fenómeno de surpresa os nomes de técnicos livres que existem no mercado (o exemplo mais esclarecedor é o de Pedro Martins) e que podiam ter sido eleitos.

Porém, historicamente há treinadores brasileiros que fizeram crescer o desporto rei no nosso país. Otto Glória merece a primeira referência, já que foi o homem chave para a profissionalização do futebol português, com a criação e implementação de normas e horários, entre outras medidas que anteriormente não existiam. Conseguiu vencer cinco vezes o campeonato desde 1954, ano em que cruzou o Atlântico, treinando os melhores clubes da época: SL Benfica, FC Porto, Sporting CP e CF Os Belenenses (com mais sucesso na capital). Foi igualmente selecionador de Portugal, levando a nossa equipa à melhor classificação de sempre num Mundial, com o terceiro posto em 1966. É a Otto Glória que tem que se agradecer a criação do Lar do Jogador, que servia de casa a atletas que viessem de fora, nomeadamente de províncias ultramarinas, como Eusébio. Nos anos 50 e 60, o técnico brasileiro levou o nosso futebol para outro patamar, algo ao que estaremos eternamente gratos.

Coincidente no espaço temporal com Otto Glória, Dorival Knipel, mais conhecido como Yuritsch, aterrou no Porto para orientar os “dragões”, no ano de 1955. Conhecido pelo seu forte temperamento, que provocava conflitos com qualquer um, o brasileiro quebrou um jejum de 16 anos, ao fazer os “azuis e brancos” levantarem o troféu, após 16 anos de ausência de celebrações. Se Otto Glória tem uma grande influência no desenvolvimento do futebol lisboeta, o natural de Belo Horizonte foi o primeiro obreiro do crescimento do futebol no norte do país.

Existiram outros nomes brasileiros com sucesso (total ou relativo) no futebol português, como Marinho Peres, Paulo Autuori, Abel Braga ou Carlos Alberto Silva, mas nenhum atingiu o patamar dos primeiros, nem do último nome pelo qual nos vamos debruçar, antes de observarmos/analisarmos um pouco o trajeto de Paulo Turra: Luiz Felipe Scolari.

É verdade que o técnico não orientou nenhum clube em Portugal, mas foi o responsável pelo salto dado pela Seleção Nacional. Após o Mundial 2002, que venceu pelo Brasil (e que para Portugal foi um desastre), Scolari chegou a acordo com a Federação Portuguesa de Futebol, que procurava fazer um brilharete no Campeonato da Europa de 2004. A partir desse momento, a nossa seleção não voltou a falhar nenhum Europeu ou Mundial, alcançando com Scolari a final do Euro 2004 e o quarto posto do Mundial 2006, aproveitando uma geração recheada de talentos como Ricardo Carvalho, Maniche, Deco, Costinha ou Cristiano Ronaldo, entre muitos outros. Scolari soube trabalhar de maneira exímia uma série de jogadores, levando-os a realizar performances de grande quilate pela Seleção e produzindo resultados que anteriormente eram inimagináveis (excluindo o Mundial 1966, com Otto Glória), com um estrangeiro ao volante.

Por muito que estes nomes sejam relevantes para o desenvolvimento de Portugal no seio do desporto mais importante do Mundo, a realidade é que o último brasileiro que conseguiu troféus em solo nacional foi Carlos Alberto Silva, ainda no principio dos anos 90, no FC Porto. Depois disso a presença de brasileiros foi-se reduzindo, com os últimos a serem autênticos flops, como Milton Mendes ou PC Gusmão, ambos pelo CS Marítimo e com resultados terríveis. Os maus trabalhos dos treinadores brasileiros pela Europa nos últimos 15/20 anos, levam a que o público crie uma certa desconfiança perante os técnicos do outro lado do Atlântico. Ao contrário dos timoneiros argentinos, os brasileiros deixaram de estar na moda e aparentam estar parados no tempo. O sucesso português de Abel Ferreira ou Jorge Jesus agrava a situação.

Paulo Turra é um nome conhecido do futebol nacional, mas pelas suas passagens como jogador no Boavista FC e no Vitória SC, onde esteve relativamente bem. Como treinador será a sua primeira experiência fora do Brasil, como técnico principal. Habituado a ser adjunto de Scolari nas últimas temporadas (terá bebido algum conhecimento do agora treinador do Clube Atlético Mineiro), o antigo defesa arrancou 2023 ao serviço do Athletico Paranaense, onde estava como adjunto.

Os seus números são algo enganadores, no clube do Paraná. Foram 25 vitórias em 36 jogos, mas não nos podemos esquecer que grande parte destas partidas contaram para o Campeonato Estadual do Paraná, que não é conhecido pelo seu equilíbrio e onde não perdeu qualquer jogo. O maior rival é o Coritiba, que nem se saiu particularmente bem, sendo eliminado nos quartos de final, deixando caminho aberto para o emblema de Paulo Turra. No Brasileirão, a conversa foi diferente, com 10 jogos, cinco vitórias, um empate e quatro derrotas, números que resultaram na sua saída. Não eram resultados para um despedimento, já que o Paranaense não luta pelo título e estava no sétimo posto. A saída de Scolari para o banco do Atlético Mineiro (ele era diretor do Ahtletico e indicou Turra para treinador, no começo do ano), foi verdadeiramente o motivo para a sua saída.

Apesar de ser considerado um técnico “retranqueiro”, Paulo Turra regressou facilmente ao ativo, sendo apresentado no Santos FC em junho de 2023. Durou somente sete jogos, onde conseguiu uma vitória, dois empates e três derrotas, o que desacreditou a sua imagem, apesar de ter aceite um desafio complicado.

O Vitória SC é um projeto totalmente distinto, cujo objetivo passará pela quinta posição e um bom trabalho nas taças internas. Com uma massa associativa que espera sempre o máximo, Paulo Turra terá uma missão difícil, nomeadamente pelas críticas que sofreu nos últimos meses. Não abona o facto de os anteriores técnicos do Brasil terem tido passagens para esquecer, além dos portugueses estarem a brilhar no Brasileirão. Caso corra bem, poderá ter um espaço no coração dos adeptos vimaranenses, que não é fácil de conquistar. Algo que pode ser uma vantagem para Paulo Turra é que 80% dos adeptos estão à espera que falhe, podendo ser a revelação de 2023/24.

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