
O Rio Ave FC é um clube que milita na Liga Portugal. O emblema de Vila do Conde irá transferir 80% da sua SAD para Evangelos Marinakis.
O Rio Ave FC não vive um momento feliz. A equipa está a cumprir a segunda temporada consecutiva na Liga Portugal, mas encontra-se envolvida na luta pela manutenção. Para piorar a situação, a turma vila-condense esteve impedida de ir ao mercado durante o verão, devido a uma suspensão validada pelo TAD, relacionada com o caso Olinga. Somente em janeiro de 2024 é que a equipa liderada por Luís Freire poderá incorporar novos reforços, de modo a melhorar o seu plantel.
A imagem não é bonita e financeiramente é trágica. O Rio Ave, clube que tinha uma SDUQ na direção do futebol, viu-se obrigada a ir a votos para a criação de uma SAD, de modo a poder salvar-se da crise financeira que vive atualmente. A presidente Alexandrina Cruz explicou bastante bem a situação, com absoluta sinceridade e clareza para com os sócios:
«O Rio Ave necessita, urgentemente, de injeção de capital para continuar a honrar os seus compromissos. Se não o fizer no imediato, o futuro breve do clube está irremediavelmente comprometido», afirmou à Agência Lusa. Prosseguiu, referindo que «A exigência que todos temos nos resultados desportivos do clube não se coaduna com aquilo que são as receitas anuais. Se já antes esse equilíbrio era difícil, a descida de divisão e a privação de vender ativos lançou-nos numa espiral negativa, de onde só conseguiremos sair com parceiros fortes numa futura SAD».
A descida ao segundo escalão do futebol português no final da temporada de 2020/21 não estava nos planos do emblema dos Arcos e isso naturalmente pesou nas contas. As receitas que uma Segunda Liga proporciona não são em nada semelhantes às da Liga Portugal. Alexandrina Cruz alertou os associados do Rio Ave para esta situação, afirmando que era urgente uma mudança, de modo a poder entrar um acionista maioritário:
«Não existe um plano B, na medida em que para o Rio Ave ter viabilidade financeira, para continuar a ter a ambição desportiva, precisa de maior liquidez financeira, que só obterá com o estabelecimento de uma parceria forte com um investidor, através da constituição de uma SAD».
A Assembleia Geral do Rio Ave realizou-se no passado dia 19 de novembro e a transformação da SDUQ em uma SAD foi uma realidade. O investidor já estava mais que identificado e apresentado.

Poucos são os adeptos que gostam que o clube perca a maioria da sua SAD, embora seja um fenómeno com tendência a aumentar, tal como a criação de grupos de multi-propriedade, como no caso da Red Bull Group ou do City Group. No entanto, os vila-condenses aperceberam-se que esta era a única solução para a instituição que amam pudesse sobreviver.
Alexandrina Cruz está a negociar (só falta mesmo a total oficialização) com Evangelos Marinakis a venda de 80% da SAD do Rio Ave. O grego é uma pessoa conhecida no futebol europeu, conseguindo inclusivamente alguns resultados com as equipas que detém. Apesar disso, é igualmente cógnito o seu feitio e pouca paciência. Jorge Mendes está igualmente por trás deste negócio, algo assumido pela dirigente aos microfones da TSF:
«Este contacto surgiu pelo reaproximar de parcerias do passado. Parcerias que, para mim, foram muito importantes e que, no passado, já nos fizeram crescer muito. Ficaram de alguma forma suspensas num passado recente. Felizmente, conseguimos reanimar essas parcerias. Falo em concreto da Gestifute e de Jorge Mendes».
A Gestifute traz boas memórias ao Rio Ave. O emblema teve nas suas fileiras alguns craques como Fabinho (somente ao nível contratual, pois esteve sempre cedido ao Real Madrid CF e ao AS Monaco), Bebé, Diego Lopes, Jan Oblak entre muitos outros por esta parceria. A instituição era usada pela empresa para que alguns jogadores pudessem ganhar rotinas no futebol português e europeu. Havia uma ligação clara entre Rio Ave, SL Benfica, AS Monaco e Valencia CF, da qual a turma do norte de Portugal saiu com bastante lucro. Há a esperança que com Marinakis esses tempos voltem, mas para já existem poucas promessas (algo que até pode nem ser mal visto, já que em várias ocasiões, quando se promete muito, pouco ou nada se cumpre).
Até ao verão de 2024, o helénico garantiu um investimento na ordem de 40 milhões de euros, que será usado para reduzir o passivo, pagamento de dívidas a curto prazo e cumprimento de salários, além de uma pequena verba para o mercado de janeiro de 2024, de modo a providenciar Luís Freire com algumas armas.
O Rio Ave vai passar a ser parceiro do Nottingham Forest FC e do Olympiacos FC. Marinakis conseguiu dominar a Grécia com o clube do Pireu e está a conseguir manter os ingleses na Premier League, pese as dezenas de contratações já realizadas.
Podemos considerar uma manobra de salvação esta venda. No entanto, já vimos movimentos semelhantes em Portugal a correrem muito mal, com equipas a terminarem em escalões inferiores ou inclusivamente a desaparecerem. Neste caso, com a proteção e aconselhamento da Gestifute, o Rio Ave conseguiu um parceiro com provas dadas e não um desconhecido sem qualquer ideia do futebol nacional ou europeu. A manutenção de dois administradores da SAD por parte da equipa de Alexandrina Cruz, vai permitir um aconselhamento com conhecimento de causa aos três elementos que serão enviados por Evangelos Marinakis.
O Rio Ave conseguiu atingir o objetivo de sobreviver a curto prazo e esta transação vai ser o teste do funcionamento da multi-propriedade em Portugal (o Casa Pia AC também está integrado em uma agremiação deste estilo, mas muito mais tímido). Em caso de sucesso, os poderosos podem ser chamados à atenção e voltarem-se para o nosso país, independentemente do estado económico do clube que desejem.
