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Formar não é fácil. Exige sobretudo sensibilidade, conhecimento e paciência. Será que em Portugal estamos conscientes dos desafios que esta questão coloca? Creio que estamos a meio-gás. Tão depressa encontramos bons exemplos, onde a abordagem e a metodologia postos em prática são adequados, como de repente encontramos abordagens e comportamentos que lembram uma aproximação ao trabalho infantil e um ensaio sobre a ausência de qualquer sentido pedagógico em instituições de formação desportiva e social. Este último caso é grave, muito grave na verdade.

Actualmente é fundamental combater este último cenário. Formar significa educar e transmitir conhecimento aos atletas para que estes possam num futuro próximo ser atletas competentes e cumpridores (tanto faz se amadores, se semi-profissionais ou se totalmente profissionais). Significa igualmente oferecer-lhes ferramentas técnicas, tácticas, físicas e psicológicas para que possam realizar a respectiva prática desportiva de forma sustentável e também para que esta seja potencializada de forma contínua ao longo dos anos. Ora, os resultados são sobretudo um factor de avaliação, motivação e distinção, mas não podem ser o elemento principal. E o problema essencial que aqui se coloca é a infeliz proliferação de abordagens que apenas se concentram na obtenção de resultados e na formação de atletas focada apenas nesse fim. Crianças de seis anos não podem nem conseguem disputar uma partida de futebol como um adulto de trinta anos. Será que alguém já pensou sobre isto?

Creio que a continuada insistência neste método é pura falta de conhecimento e de reflexão. Temo que possa também ser irresponsabilidade – o que é grave, quando estamos a falar de pessoas e instituições que possuem “responsabilidades”. E como é evidente o prejuízo que daqui advém é excessivamente grande para o tamanho do nosso futebol. Penso que esta abordagem apenas trava o nosso desenvolvimento porque “castra” os atletas, porque os forma de forma deficiente (o foco nos resultados retira tempo e espaço a dados processos pedagógicos estruturantes), porque queima etapas fundamentais e porque, em muitos casos, lhes transmite maus princípios como o clássico “ganhar a qualquer custo”. Penso, acima de tudo, que esta abordagem desenvolve níveis de pressão e de stress que até aos 17 anos são prejudiciais e impedem que o atleta se desenvolva de forma “natural” e dentro do ritmo mais adequado. Na verdade, há tempo para tudo, inclusive para perder e aprender com esse momento.

Partida de escolinhas de futebol na Eslováquia. Fonte: Flickr
Partida de escolinhas de futebol na Eslováquia
Fonte: Flickr

É óbvio que tudo se torna mais simples quando se formam atletas debaixo do som da vitória. Já dizia o outro: é mais fácil formar do que ganhar. E é, mas isso não significa que quem perde esteja a formar mal. As vitórias não dizem tudo sobre o sucesso dos projectos formativos. E a derrota faz parte do processo, sobretudo em idades menores, quando o foco é a transmissão de conhecimentos básicos sobre o jogo e o desporto, quando se procura desenvolver o contacto com a bola e quando se pretende sobretudo dar minutos de jogo e convívio às crianças. Aqui, perder ou ganhar pouco importa. Importa sobretudo ter o cuidado de transmitir o conhecimento e a prática em doses correctas, no espaço certo e no momento certo. Se assim for, podemos ter a certeza de que amanhã será muito mais fácil ganhar.

Isto coloca-se desta forma porque se assiste com frequência ao surgimento de atletas em idade júnior e sénior que apresentam a ausência de conhecimento, práticas e atitudes que lhes permitam continuar a evoluir. Aliás, em diversos casos assiste-se ao surgimento de “maus” atletas: que não são maus por jogarem mal, mas porque acima de tudo são péssimos nas questões relacionadas com a responsabilidade, com o trabalho no dia-a-dia e com a forma de estar dentro e fora de campo. Falta-lhes o chamado “treino invisível”. Isto sucede porque talvez ninguém os educou nesse sentido ou porque apenas lhes pediram para vencer a qualquer custo.

Em simultâneo assiste-se pelas mesmas razões ao surgimento de atletas que apresentam problemas no desenvolvimento técnico e táctico. Um desses problemas é o facto de terem sido “formatados” tacticamente demasiado cedo e por terem despendido mais tempo a praticar rotinas tácticas do que a compreender o jogo e, a título de exemplo, a melhorar a sua relação com a bola. Enfim, um caso prático é facto de hoje em dia, debaixo do nome de grandes clubes portugueses, ser possível ver crianças de sete e oito anos a serem forçadas a interiorizar um modelo de jogo rígido e missões colectivas e individuais. Esta “pressa” em termos práticos apenas queima etapas e retira tempo e espaço ao que realmente importa para a realidade das crianças com esta idade. De um modo simples, o que importa é o seu desenvolvimento sustentável e não o modelo de jogo, o treinador e as vitórias.

Se temos de falar de um modelo de jogo, temos de falar num modelo de formação e da idade com que estamos a trabalhar. O modelo de formação dita as orientações de desenvolvimento técnico e táctico e o modelo de jogo e a sua complexidade depende do escalão. É evidente que uma equipa de Benjamins A (sub-11) tem um modelo de jogo. Enfim, tem uma forma de jogar que é afecta aos jovens atletas, ao treinador e ao modelo de formação, mas esse mesmo modelo de jogo é apenas uma ferramenta para auxiliar os jovens a praticar futebol, assim como é um meio para lhes transmitir conhecimentos básicos sobre a prática da modalidade. Jamais poderá ser um mecanismo para alcançar vitórias e troféus.

No fundo, é fundamental pensar sobre os princípios pedagógicos e sobre a abordagem que temos vindo a utilizar em Portugal. O jogador português necessita de ter a sua criatividade potencializada e sobretudo necessita de ter as suas etapas de desenvolvimento respeitadas. Isto se no futuro pretendemos ter melhores atletas e, se possível, ter profissionais que façam a diferença em qualquer campo. Na realidade, este não é um caminho fácil e tão-pouco é algo instantâneo. Formar jovens leva tempo e exige paciência. Talvez treinar apenas para se ganhar seja o caminho mais fácil, mas é sem dúvida o menos compensador a médio ou longo prazo.

Os atletas e os treinadores de excelência são aqueles que trabalham de forma consistente e árdua, são aqueles que dominam a técnica, são aqueles que conhecem o jogo e as suas diversas dimensões, são aqueles que respeitam e se dão ao respeito, são aqueles que vencem mas também são aqueles que perdem e conseguem extrair o sucesso futuro dessa mesma derrota. Penso que o sucesso do nosso futebol (e do nosso desporto) está exactamente neste tipo de atletas e treinadores de excelência – sejam eles amadores ou profissionais.

Foto de Capa: Hybreed Designworks

Gonçalo Borges
Gonçalo Borgeshttp://www.bolanarede.pt
Treinador de Futebol, Sociólogo e professor assistente na University of Wisconsin-Milwaukee, Gonçalo é também adepto do SL Benfica e amante das paixões do futebol.                                                                                                                                                 O Gonçalo não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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