O Académico – Entrevista a José Viterbo (Parte I)

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“Estou mesmo a chegar, a 20 metros”, diz José Viterbo, pelo telefone. Vou buscá-lo, conforme combinado, à porta do café Galeria. Chega sem tiques de vedetismo ou superioridade, e, depois de todo o cordialismo que este homem do futebol merece, começamos logo a falar de “bola”.

A presença de José Viterbo é notada pelas pessoas que connosco partilham a esplanada, como seria normal para com um treinador a quem Coimbra ainda agradece a manutenção na Primeira Liga, na época passada, mas quase que passava despercebida, tal a humildade que a figura do ex-treinador da Briosa emana.

Viterbo senta-se, pede um descafeinado e depois de uma ou duas impressões sobre futebol e o Bola na Rede, sente-se preparado: “Então, vamos a isto?”. “Claro que sim, Mister!

“Em Coimbra, quase ninguém acreditava”

Bola na Rede (BnR): Comecemos pelo momento em que soube que viria a integrar o panorama de futebol português. O momento em que concretiza o sonho de orientar a equipa principal da Académica. Como é atingir algo dessa magnitude aos 52 de idade?

José Viterbo (JV): Foi o culminar de muitos anos de trabalho na Académica. Foram 15 anos de trabalho ao serviço da AAC, muitos deles ligados à formação e ao projeto da equipa B. A 18 ou 19 de Fevereiro de 2015 surge a oportunidade, com a saída do Paulo Sérgio. A partir daí penso que desenvolvemos um trabalho interessante, principalmente nas primeiras quatro jornadas, em que somámos dez pontos bem assim com o empenho de todos os jogadores, equipa técnica, dirigentes conseguimos reverter uma situação que muita gente considerava quase impossível – em Coimbra, quase ninguém acreditava.

BnR: Não chegou a rapar o bigode, como tanto se falou…

JV: (risos) Foi uma brincadeira de alguns jogadores e também dos adeptos, mas nunca o prometi! Ninguém ouviu da minha parte essa promessa.

BnR: Como conseguiu gerar a grande empatia que ainda hoje tem com o universo da Briosa?

JV: Sabendo que eu era um homem da casa, que tinha um trajecto como atleta e treinador, de muitos anos, as pessoas envolveram-se com a equipa e com o treinador. Na altura em que eu chego, também terminam aquelas crispações entre dirigentes e adeptos e passa a haver maior união em redor do clube.

BnR: Em alguma circunstância julgou que o objetivo da manutenção foi colocado em causa, nomeadamente no jogo com o Gil Vicente, em que a equipa perde em casa e fica a quatro pontos de distância?

JV: Não senti isso, porque apesar de não termos feito um bom jogo frente ao Gil Vicente e de termos perdido com dois lances de grande penalidade perfeitamente evitáveis, sabíamos que o calendário do Gil seria difícil, pois ainda teria de jogar com o FC Porto e Benfica. Apesar de eles terem ficado com vantagem no confronto direto, estavam a quatro pontos de distância, o que nos dava margem de manobra para assegurar a continuidade na primeira Liga.

BnR: A goleada por 5-1, na Luz, foi a derrota mais pesada que sofreu no comando da Académica. O que se passou?

JV:  Sofremos três golos em 20 minutos e logo aí, deita por terra tudo o que tínhamos pensado e planeado para esse jogo. A estratégia era condicionar um pouco o jogo interior, as combinações diretas e indiretas que o Benfica fazia e o Sporting deste ano faz – imagem de marca claramente de Jorge Jesus. Sofremos um golo através de um canto, outro de penalty, a partir daí tudo se tornou quase impossível … mas o Benfica era melhor.

BnR: Nos jogos com o Benfica (na época passada) e com o Sporting (esta época) optou por reforçar o corredor central, alterando um pouco aquilo que era a estrutura normal da equipa. Considera ser essa a melhor maneira de travar equipas grandes ou, neste caso (por ter enfrentado e tirado proveito disso), o Sporting desta época?

JV: Para travar os grandes, acho que há três aspetos fundamentais: o mental, o tático de forma a que a equipa se mantenha coesa e organizada e chegar ao intervalo sem estar a perder. Uma equipa que volte do balneário sem estar em desvantagem, regressa com o ânimo renovado. Outro aspeto importante tem haver com o nível de eficácia ofensiva da equipa. Veja-se o recente caso do União da Madeira com o Sporting.

Do sonho ao pesadelo:

“O que ditou a minha saída foram os resultados, embora eu achasse que ainda era possível inverter a situação porque estávamos a três pontos da linha de água.”

BnR: Na antevisão à 1.ª jornada da Liga, disse que tinha todos os jogadores que queria. Houve algum jogador que não tivesse rendido tanto quanto esperava?

JV: Há um fator que deve ser bem esclarecido. Disse que tinha todos os jogadores que queria… dentro das limitações orçamentais da Académica. A Académica tinha 17 jogadores com contrato e como é natural havia outros nas nossas coagitações. Aliás, trabalhei muito com o Luís Agostinho nesse sentido. Contratámos os que podíamos, dentro dessas tais limitações e fiquei satisfeito com a contratação desses jogadores, apesar de só o tempo e futuro confirmarem ou não esse contentamento.

José Viterbo foi treinador da Académica OAF entre 2014 e 2015 Fonte: Tomás Resendes
José Viterbo foi treinador da Académica OAF entre 2014 e 2015
Fonte: Tomás Resendes

BnR: Sente saudades de Esgaio?

JV: Sim. Do carácter, da qualidade e de uma coisa fantástica nele: a humildade. Chegou a Coimbra em Janeiro, vindo de um clube grande, ambientou-se bem, com uma paixão pelo treino e uma paixão pelo jogo incrível. Nunca falhou um treino. Podia sair limitado de um jogo, mas estava sempre lá no treino seguinte. Aliás como a esmagadora maioria dos outros jogadores! Todos foram importantes!

BnR: Sente que já passou tempo suficiente para fazer um balanço do que correu mal, esta temporada, depois de deixar a equipa com 5 derrotas noutros tantos jogos?

JV: Já o disse publicamente. Houve um jogo determinante para a minha não continuidade no comando da Académica, que é contra o Vitória de Setúbal (o jogo mais difícil de digerir ao serviço da Académica). Entrámos muito bem no jogo, mas no contra-ataque e na sequencia de uma bola parada a nosso favor, o Suk faz aquele golo monumental. Esse foi o jogo que determinou a minha saída. Com o Sporting, um supercandidato ao título, demos uma boa resposta. Depois, a Académica faz o melhor jogo sob o meu comando do ponto de vista exibicional frente ao Nacional, em que tivemos algumas dificuldades nos primeiros vinte minutos, mas a partir daí libertámo-nos e foi o melhor jogo que vi a equipa fazer nos 18 ou 19 que orientei. Foi um jogo que não deu não televisão, mas foi muito mal perdido e os 2-0 não traduziram em nada o que se passou dentro de campo. Acontecesse o que acontecesse, mesmo antes do jogo com o Boavista, já tinha tomado a decisão de deixar a Académica e não havia ninguém que me pudesse demover dessa decisão.

BnR: O lado emocional, de adepto, não o cegou e olhou, de forma lógica, para as circunstâncias. A pergunta é… quais eram? A equipa não estava consigo, por exemplo?

JV: Se os jogadores, na época passada tinham estado comigo, não havia motivos para não estarem nesta e os elementos que chegaram não tinham qualquer tipo de ascendente negativo sobre o plantel e isso pode ser comprovado. Fiquei com todos eles, com uma relação excelente. O que ditou a minha saída foram os resultados, embora eu achasse que ainda era possível inverter a situação porque estávamos a três pontos da linha de água. Era início de época, mas achei que sair era a melhor decisão a tomar. Não para mim, porque me custou muito e os dias seguintes foram difíceis, mas para a Académica.

BnR: Não continuou em funções na Académica. Foi opção sua ou não o convidaram para continuar na estrutura?

JV: O presidente, no final da época passada, perguntou-me o que eu queria fazer e eu disse “já que acabei a época desta forma, gostaria de dar continuidade a este trabalho”. Era uma ambição legítima da minha parte! O presidente tem falado comigo e recentemente estivemos em Cabo Verde. Estou a equacionar a possibilidade de poder regressar noutras funções, mas é um assunto que deve ficar resolvido em Janeiro.

(2.ª Parte da Entrevista disponível AQUI)

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Pedro Machado
Pedro Machado
Enquanto a França se sagrava campeã do mundo de futebol em casa, o pequeno Pedro já devorava as letras dos jornais desportivos nacionais, começando a nascer dentro dele duas paixões, o futebol e a escrita, que ainda não cessaram de crescer.                                                                                                                                                 O Pedro não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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