8 a 1: Superioridade encarnada nos clássicos SL Benfica x FC Porto na Taça

    A rivalidade azul e vermelha, antípoda relacionada com vários confrontos titânicos da cultura ocidental, representa em Portugal muito mais que a oposição de duas instituições futebolísticas. Das disparidades entre o norte industrial e o sul centro de decisões, FC Porto e SL Benfica tornaram-se símbolos dessa dicotomia da geopolítica portuguesa.

    Este Sábado defrontam-se mais uma vez em decisão pela prova rainha, naquela que será a 10ª vez que disputam o troféu no jogo final e o balanço favorece largamente as águias, com oito vitórias. Registo fulminante e que traduz o domínio arrasador visível na Taça de Portugal, onde a superioridade dos encarnados é acentuado: no total de 35 jogos, o SL Benfica venceu 21 e empatou 5, relegando os portistas para papel secundário na contagem de conquistas, 26 contra 16.

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    O histórico começa no final da época 1952-53, estávamos no 28º dia do mês de Junho, e o calor abrasador não impedia a enchente no Jamor para assistir a um dos jogos mais aguardados do ano.

    Em campo mediam forças o FC Porto de Cândido de Oliveira, que ali procurava a glória perdida num quarto posto final no campeonato; no outro banco sentava-se o seu grande amigo e companheiro na fundação de A Bola, António Ribeiro dos Reis, que o SL Benfica tinha procurado a meio da época em missão de salvamento, dada a fraca produção ante um Sporting dos Violinos.

    Um jogo onde havia muito a ganhar e onde até se oferecia relógio de ouro a quem inaugurasse o placardRogério Pipi não se viu por meias medidas, fez o que gostava de fazer na sua prova preferida e meteu o primeiro aos 35 minutos, abrindo caminho a uns estonteantes 5-0 com a assinatura especial de Arsénio, com hattrick.

    Rogério Pipi inaugurou o marcador e recebeu prémio pelo feito: um relógio de ouro
    Fonte: SL Benfica

    Quanto ao acessório valiosíssimo, Rogério ofereceu-o à direcção do clube para financiar as obras do futuro Estádio da Luz – e foi neste clima de entre-ajuda e companheirismo que o plantel jantou alegremente perto de Alvalade e festejou noite dentro na Feira Popular, onde estava montado pavilhão benfiquista.

    Cinco anos volvidos, primeira e única vitória portista no Jamor frente aos lisboetas. O 1-0 construído por Hernâni – que Pedroto considerava o «melhor avançado de sempre do futebol português» – foi o culminar de uma época conturbada para a barricada azul, em polvorosa estava com a guerra interna entre o craque e Dorival Yustrich, o histórico técnico brasileiro que comandou o Porto à primeira dobradinha, em 1955-56.

    No Verão de 1956, armou barraca numa digressão à Venezuela, ameaçou funcionários e presidente, foi despedido e recuperado poucos meses depois com a vitória de outro candidato nas eleições do clube. As feridas, no entanto, nunca sararam e o choque entre a personalidade implacável e controversa do técnico e do herói dessa partida ditou o fim precoce do segundo compromisso, em Março de 1958.

    Nessa final do Jamor já era confronto de Ottos, já que foi Otto Bumbel o sucessor e levou a melhor sobre o benfiquista Glória. Acerca do jogo fica o frango de Bastos, apesar de defendido pelo autor do golo – «Bastos não foi culpado, a bola partiu com efeito, aquele efeito a que os brasileiros chamam folha seca» – e as queixas do timoneiro do Benfica em relação à arbitragem, no seu estilo inconfundível de palavra desmedida: «Arbitragem? Não houve… Um moço apitando, um moço que se vestiu de árbitro e mais nada…»

    Festejos de ‘58, Carlos Duarte e Osvaldo Silva seguram no troféu
    Fonte: FC Porto

    Vingança houve no ano seguinte. 1958-59 marca a chegada de Bélla Gutmann a Portugal, com estadia inicial no Norte. Seria vencido pelo comandante derrotado do ano anterior, com golo único de Cavém a dar o recíproco 1-0. Quites ficaram.

    Próximo encontro: 1963-64. O SL Benfica, já bicampeão europeu e com ressaca do inglório 1-2 frente ao Milan na terceira final consecutiva, viria a tirar a barriga de misérias com um 6-2 ao FC Porto comandado por… Otto Glória. Que mais uma vez foi figura por declarações que deixaram legado no futebol português, após derrocada disciplinar nas quatro-linhas.

    Jaime, jogador azul, comete entrada ríspida à volta da meia-hora, falta para penalty e para expulsão, mas a decisão do juiz foi polémica e motivou comportamento impróprio da trupe nortenha. Com a avalanche emocional do lado azul-e-branco, a goleada consumou-se naturalmente com a presença do quarteto fantástico composto por José Augusto, Eusébio, Torres e Simões, todos autores de golos. Seu Otto, sem maneira de mudar o rumo da partida, perdido em mil fúrias, deixou sair frase que patrocinou todo um paradigma duas décadas depois: «O árbitro anulou o esforço de toda uma região…»

    E aí chegamos. Benfica e Porto só se voltam a encontrar em 1979-80, exactamente no auge do Verão Quente portista e da inultrapassável postura da dupla Pinto da Costa-Pedroto na luta contra a centralização do nosso futebol.

    No Jamor houve Santa Aliança, com os adeptos sportinguistas a reunirem com os benfiquistas no apoio à equipa. Tornou-se famoso o slogan «Campeonato p’o Sporting, Taça p’o Benfica», consumado com vitória magra encarnada, 1-0, com o brasileiro César a marcar o primeiro golo estrangeiro de sempre do clube em finais.

    Mário Wilson era um treinador feliz e pouca atenção deve ter dado ao facto de Pedroto, que o tinha como ódio de estimação, ter decidido descarregar nele a frustração da derrota ao afirmar, sem filtros, que «Mário Wilson, como de costume, utilizou a velha rábula do palhaço. Com o ar esfíngico que lhe é característico, lançou a pedra e escondeu a mão, suplicando controlo anti-doping», contextualizando as insinuações da seguinte forma: «Gostaria, contudo, que me explicassem o comportamento do jovem e talentoso Carlos Manuel, que me pareceu, estranhamente, de cabeça perdida».

    No ano seguinte, reencontro com mais golos. Desta vez quatro tentos benfiquistas, um deles na própria baliza, traduzindo em 3-1 final marcado pelo hattrick de Néné. Mas não foi jogo de fácil resolução, nem tampouco de fácil concretização: o FC Porto ameaçou a não comparência no jogo e só alterou ideias quando a Federação lhes garantiu todas as condições de segurança, num processo conduzido por Teles Roxo, director do departamento de futebol profissional dos portistas.

    E, não conseguida a falta de comparência, conseguiu-se o deslocamento da entrega do troféu para as Antas. Em 1982-83, houve desassombro do Conselho de Disciplina da Federação no súbito abandono do Jamor. O Benfica recorreu da decisão, mandou os jogadores de férias, mas preparados foram para regresso a qualquer instante, que só aconteceu no início da temporada seguinte, com o jogo a realizar-se em Agosto. Eriksson não estava preocupado e muito menos ficou quando Carlos Manuel descobriu o caminho das redes adversárias a 30 metros, num remate ao seu estilo.

    O técnico sueco saiu em 1984. Sentiu que a equipa não lhe possibilitava o assalto à Taça dos Campeões Europeus, depois da capotagem frente ao Liverpool de Dalglish e Ian Rush. A equipa tinha sido espremida na totalidade, não havia volta a dar e o interesse da Roma – sua vítima na caminhada rumo à final da UEFA, em 83 – lançava-lhe cantigas de amor, que não demoraram a seduzi-lo. Era o Calcio, centro futebolístico da Europa.

    Sai e deixa o lugar para Pal Csernai, técnico reputado que tinha levado o Bayern a duas Bundesligas. Cá chegou arrogante na abordagem e intransigente nos métodos, cavando fosso profundo entre si e o plantel. A final da Taça foi vista como bóia de salvação de uma época penosa e, chegados à final, foram os jogadores que fizeram o onze. Explicou Bento, no momento da celebração: «Não foi Csernai quem fez a linha para a final, por isso ganhámos, Carlos Manuel e Pietra é que lhe abriram os olhos», declarações que justificam a forma comprometida com que os jogadores encararam e despacharam o rival por claros 3-1.

    O nono e último encontro dos dois gigantes em matéria de decisões de Taça ocorreu já no século XXI, estava quase completa a temporada 2003-04. Vivia-se intensamente em Portugal o fenómeno Mourinho. Uma semana antes de Gelsenkirchen e da vitória frente ao Mónaco, o FC Porto foi incapaz de se superiorizar a um SL Benfica inspirado pelas ganas de José António Camacho e pela responsabilidade em honrar a memória de Miklos Féher, falecido meses antes. Foi jogo rasgadinho, duro – dez amarelos e um vermelho – onde a chapelada de aba larga de Simão, já no prolongamento, marcou o renascimento do Benfica competitivo, com uma equipa que constituiria a base da campeã do ano a seguir.

    Artigo revisto por Joana Mendes

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    Pedro Cantoneiro
    Pedro Cantoneirohttp://www.bolanarede.pt
    Adepto da discussão futebolística pós-refeição e da cultura de esplanada, o Benfica como pano de fundo e a opinião de que o futebol é a arte suprema.