Após, a perda de Brahimi, no final da época passada, a “custo zero” pelo facto do contrato que o ligava ao FC Porto expirar, as alas dos dragões ficaram reféns de magia ou pelo menos ficaram mais pobres. Por esse facto, a direção dos azuis e brancos tinha como um dos vários objetivos neste mercado de verão encontrar um digno sucessor do mago argelino.
Desta forma, logo no início de julho, o FC Porto esteve perto de contratar o jovem internacional português, Bruma, no entanto, à última da hora um último “pressing” lançado pelo PSV Eindhoven conseguiu desviar o jogador da cidade invicta.
Contudo, o emblema presidido por Pinto da Costa não tinha tempo a perder e rapidamente virou-se para as alternativas que tinham referenciado. Uma delas era o bem conhecido dos adeptos da liga portuguesa, Shoya Nakajima, que no dia 5 de julho de 2019, assinou um vínculo até 2024 com os dragões. Há que dizer que esta movimentação de mercado por parte do Porto foi algo surpreendente, não pela valia do jogador, mas sim pelo simples motivo que o internacional japonês tinha sido transferido, em janeiro de 2019, para os Emirados Árabes Unidos a troco de uns impensáveis 35 milhões de euros.
Sem grandes surpresas, o futebolista nipónico transformou-se num dos jogadores mais acarinhados pela nação portista. Talvez por terem ainda na memória os dois anos protagonizados pelo atleta ao serviço do SC Portimonense, onde foi dono e senhor de grandes golos e de grandes jogadas deixando os seus adversários, na maioria das partidas, completamente de “olhos em bico”.
Por outro lado, os adeptos mais céticos também ficaram um pouco alarmados pelo avultado investimento que a sua aquisição significou para as contas portistas, dado que o negócio por “Naka”, como é tratado pelos seus colegas, consumou-se por uma quantia a rondar os 12 milhões de euros por apenas 40% dos seus direitos económicos, logo o jogador figurou-se como uma das principais transferências do FC Porto, neste último mercado. O novo desafio em Portugal até começou da melhor maneira, já que Nakajima iniciou esta nova etapa numa zona em que já tinha sido muito feliz, ou seja, no Algarve, localidade escolhida pelos azuis e brancos para realizar o estágio de duas semanas à semelhança do que tinha acontecido na época anterior. Deste modo, pode-se dizer que o atleta sentia-se completamente em casa, pois não tinha melhor sítio para começar esta nova fase da sua vida. Além disso foi titular na primeira partida particular em que o emblema português realizou frente ao Fulham FC, sendo que se exibiu a um bom nível.
Por conseguinte, pareciam estar presentes todos os ingredientes para que o jogador conseguisse um início de temporada auspicioso. Porém, a partir desse momento tudo começou a mudar e Nakajima foi perdendo espaço nos planos de Sérgio Conceição para outros jogadores do plantel, nomeadamente Luis Díaz. É importante frisar que nos seis jogos já realizados pelo FC Porto de forma oficial, o jogador de 25 anos apenas foi titular em apenas um desafio, na derrota frente ao FK Krasnodar, sendo que o resto da sua contribuição foi efetuada a título de suplente utilizado no duelo com o Vitória FC, no Estádio do Dragão. Como se vê, o ex- Al-Duhail SC já falhou mais de 50% do calendário do FC Porto até ao momento. Este facto pode-se justificar por variadas razões, mas agora é o momento de apresentar quatro possíveis justificações que podem explicar melhor este insucesso precoce por parte de Shoya Nakajima.
A afirmação de Luis Díaz
É do conhecimento geral que Nakajima prefere jogar na ala esquerda, já que foi nessa posição a que todos os adeptos em Portugal se habituaram a vê-lo brilhar com a camisola do SC Portimonense, onde foi figura de proa. É nessa zona do terreno que, frequentemente, realiza os seus famosos movimentos interiores com a finalidade de assistir os seus colegas ou então ser o próprio a finalizar o que tinha iniciado, muitas vezes com golo.
Mas, como se sabe, a concorrência num grande clube é mais feroz e não basta apenas ser um bom jogador para se afirmar neste tipo de emblemas, que é o que acontece exatamente no FC Porto. Aqui, o nipónico encontrou atletas de grande valia e, neste caso concreto, tem de enfrentar Luis Díaz, um jovem colombiano adquirido pelos dragões, que tem tido uma preponderância enorme na equipa portista fruto das suas excelentes exibições, que são culminadas com golos, assistências ou então com dribles que ficam na retina de qualquer amante do futebol. Até ver, o internacional “cafetero” tem levado a melhor sobre o seu colega de equipa, mas certamente Nakajima não quererá ficar uma temporada como segunda opção. No entanto, para reverter a sua situação terá de provar que poderá acrescentar mais do que o ex CDP Junior Barranquilla FC, que se diga que, até ao momento, não tem sido pouco!

Fonte: Bola na Rede
Os ideais de Sérgio Conceição
Este é talvez um dos motivos que maior consenso reúne entre a generalidade dos adeptos e da imprensa desportiva, ou seja, o facto das características ou das maiores qualidades de Nakajima não encaixar na tática definida por Sérgio Conceição. Um ponto que com o passar do tempo tem ganho maior destaque ou consistência para justificar esta “falsa partida” do atleta ao serviço do Porto.
Como se sabe, Sérgio Conceição, desde que assumiu o comando técnico da equipa nortenha, tem adotado um estilo de jogo muito vincado no aspeto físico dos seus jogadores. Isto é, assenta muito no ataque à profundidade apelando à velocidade e à intensidade incutida pelos seus atacantes, bem como na procura de espaços livres que possam provocar danos aos seus rivais. Tenta implementar uma forte pressão, no momento sem bola, aos seus adversários, que só é possível com futebolistas altamente resistentes e com uma complexidade física assinalável.
Desta forma, há uma opinião pública que assume que o “timoneiro” português despreza atletas com maiores requisitos técnicos do que físicos, como é o caso do Nakajima. Situação que veio ganhar mais força com a saída de Óliver Torres, onde muitos adeptos e comentadores acusaram Sérgio Conceição de não conseguir tirar maior proveito do médio espanhol e que, de certa forma, desaproveitou o talento do atual atleta do Sevilha FC, que durante as suas épocas como azul e branco foi sempre dos mais acarinhados pela massa adepta portista.
Com isto, é habitual dizer que o treinador, campeão nacional em 2017/2018, “prefere a força à técnica”, algo muito dito no mundo do futebol, e pelo facto do japonês se destacar pela sua grande capacidade técnica, pela sua capacidade de passe ou pela sua visão de jogo é frequente dizer que Nakajima não se enquadra no estereótipo de jogador que agrada a Sérgio Conceição.
A adaptação a uma nova realidade
Pode parecer um pormenor pequeno ou então sem grande importância, mas a verdade é que o FC Porto é o primeiro grande desafio que o pequeno génio japonês enfrenta na sua carreira. A cobrança pela perfeição é uma constante e a pressão pela vitória ou pela conquista de títulos é muito maior do que qualquer outro emblema que Nakajima tenha representado e o facto é que nem todos os jogadores se adaptam a esta nova realidade. O mundo do futebol está cheio de casos onde certos atletas eram protagonistas em clubes de menor dimensão. Quando deram o salto para um desafio mais aliciante não conseguiram corresponder às expetativas criadas aquando da sua transferência.
Além disso, há outro facto que pode estar a dificultar a adaptação do nipónico ao FC Porto, ou seja, é o facto dos dragões não lhe terem proporcionado um tradutor particular que o acompanhasse no seu dia a dia, um luxo que o mesmo usufruía em Portimão.
Como referi, no inicio deste ponto, pode parecer algo insignificante, mas para alguém que é oriundo de um país diferente, de uma cultura distinta da portuguesa, é algo que vale muito e a “língua” é uma ferramenta de comunicação essencial para a nossa vida e que neste caso pode dificultar a relação ou a criação de relação de Nakajima com os seus colegas de balneário.
A vida privada
Infelizmente ou felizmente, depende da perspetiva, as cabeças dos jogadores não funcionam como nos jogos virtuais, onde a vida particular de um atleta não influencia com o seu rendimento desportivo.
Recentemente, Nakajima foi pai, e inclusive foi autorizado por Sérgio Conceição e restante direção portista a deslocar-se ao Japão para assistir ao nascimento do seu primeiro filho. Porém, o final de gravidez e o parto do bebé do internacional japonês não foi um processo fácil, algo que mexe inevitavelmente com a cabeça de qualquer jogador e que por uns tempos breves pode retirar o foco do individuo do trabalho.
Por incrível que pareça para algumas pessoas, os futebolistas também são seres humanos, e por vezes, não conseguem dissociar a sua vida privada do futebol, o que pode provocar uma quebra de rendimento e para estes casos talvez falte uma maior proteção dos clubes para com os seus ativos.
Assim, foram aqui apresentadas 4 razões que podem estar por detrás do mau arranque de Shoya Nakajima ao serviço do FC Porto. Porém os argumentos enunciados não significam que a situação se mantenha até ao final de época, até porque o futebol já nos habituou que qualquer jogador, treinador ou dirigente pode passar de “bestial a besta” ou vice versa muito depressa.
Por fim, há também a finalidade de querer fazer entender que uma má fase de um jogador numa determinada realidade pode não ter a ver apenas com os seus aspetos técnicos ou futebolísticos, mas também com outros problemas que afetam imensos atletas e que nem sempre tem a devida atenção por parte deste grande mundo que é o futebol.
Agora, cabe ao jogador e a toda a estrutura que o envolve conseguir alterar este panorama que até aos dias de hoje não é muito animador para ambas as partes. Sendo assim, a pergunta que se coloca é se Nakajima conseguirá transformar-se no verdadeiro “Samurai do Dragão”?
Foto de Capa: FC Porto
Revisto por: Jorge Neves