Numa noite de segunda-feira fria e chuvosa no Estádio do Dragão, o FC Porto recebeu e venceu o Estrela da Amadora por 3-1, com dois golos de Samu e um de Francisco Moura. Abraham Marcus, que protagonizou a ‘lei do ex’, marcou o único golo do Estrel..
Farioli não proporcionou grandes alterações no 11 inicial, apenas o regresso de Alan Varela em detrimento de Pablo Rosário. Vale o destaque para a manutenção de Rodrigo Mora no estatuto de titular, onde vive o melhor momento da temporada. Também João Nuno apenas promoveu uma alteração desde o jogo frente ao Arouca, com a entrada de Alexandre Sola por Jovane Cabral no 11 titular.
No cômputo geral, é um jogo sem grande história. Talvez seja a personificação perfeita da resposta que damos ao nosso colega de trabalho quando nos perguntam como é que foi o fim de semana: “meh, passou-se”.
Perante a sua gente, o Porto manteve-se igual a si próprio: uma equipa rígida estruturalmente que se caracteriza pelo momento de pressão alta e de construção em formas geométricas dignas de exame nacional de geometria descritiva. O Estrela, por conseguinte, viajou até ao norte de Portugal para tentar jogar como o seu treinador quer que jogue: não abdicou da pressão alta em 4-4-2 e tentou sair a jogar tanto quanto possível, não menosprezando bolas longas em momentos de maior aflição.
Em boa verdade, vale a pena destacar a forma como o Estrela tentou encabeçar o FC Porto e como isso também acabou por facilitar a vida aos portistas. É certo que a equipa de Francesco Farioli preza-se pela forma como asfixia o adversário e recupera a bola perto da área do adversário, criando situações de perigo. Por outro lado, é uma equipa com mais dificuldades em ataque posicional e, por isso, tem a vida dificultada quando o adversário apresenta um bloco baixo; principalmente em sistemas com muitos jogadores em zonas recuadas, como o 5-4-1.


Não obstante, o Estrela tentou sempre olhar o Porto nos olhos e não abdicou da pressão alta. De facto, João Nuno estudou bem este Porto e, mesmo na fase de construção, era notório que as intenções do Estrela eram esticar o campo, de modo a que as linhas intermédias da equipa da casa ficassem expostas e que houvesse espaço para explorar nas costas da pressão portista. Certo também é que o Estrela não dispõe da qualidade individual para construir desde trás, principalmente frente ao atual líder do campeonato.
No momento oposto, o Estrela pressionava em 4-4-2, sendo que a principal função dos homens da frente era não deixar Alan Varela receber a bola e jogar ‘de cadeirinha’- um momento ao qual José Mourinho designou como “matar três com dois”. No entanto, este momento não foi tão eficaz como pretendido devido à forma como o Estrela abordava a situação: os homens mais avançados do Estrela, Kikas e Abraham, acabavam por anular-se a si próprios, uma vez que um ficava à frente do outro.
Ou seja, ao mesmo tempo que um jogador marcava individualmente Alan Varela, o outro ficava à sua frente, encaixando no meio dos centrais do Porto, formando, momentaneamente, um 4-4-1-1. Ora, isto fazia com que fossem os centrais do Porto a decidir como, quando e por onde jogavam- sendo que o homem mais avançado do Estrela não convidava o Porto nem para a esquerda nem para a direita, bastava aos centrais do Porto trocarem a bola e esperarem um movimento ora de Rodrigo Mora nas costas, ora de Samu enquanto apoio frontal, ou de uma desmarcação pelas laterais. Não forçando o Porto para nenhum lado, o Estrela não controlava o Porto, mas ficava na expetativa, tornando-se mais difícil defender, principalmente quando há uma diferença considerável de qualidade individual entre as equipas.


Deste modo, Rodrigo Mora deu continuidade ao seu momento de forma e foi capaz de receber entrelinhas, causando desequilíbrios à equipa de João Nuno. Também Samu, muitas vezes errático nesse capítulo, foi capaz de servir enquanto apoio frontal e enquadrar companheiros de equipa. No fundo, a postura arrojada e frontal do Estrela é a imagem do seu treinador (pessoalmente, é algo que irei sempre louvar) mas também formou espaços que a equipa de Farioli conseguiu explorar.
Fora o corredor central, o Porto também foi inteligente ao explorar o lado fraco do Estrela (o lado esquerdo) e atacar a profundidade, principalmente através de Alberto Costa- foi assim que nasceu o penalty que dá origem ao primeiro golo caseiro. Aliás, defino como o momento do jogo a jogada que antecede esse mesmo penalty, onde Alan Varela lateraliza-se pela direita e isola Alberto Costa. Não sendo algo recorrente, é uma solução interessante para a fase de construção, já bem estudada pelos adversários.

