O FC Porto 2024/25 e a ‘dependência’ dos dragõeszinhos

    FC Porto Cabeçalho

    O FC Porto já começou os seus trabalhos de pré-temporada, com Vítor Bruno ao comando. Falamos de uma nova era, com uma nova equipa técnica, uma nova estrutura e um novo rosto de comando do projeto. André Villas-Boas assumiu a presidência dos dragões ainda em 2023/24, mas contou com a presença de Pinto da Costa ao seu lado em várias ocasiões (como se se tratasse de uma espécie de desmame, depois de 42 anos no cargo). Pelos lados do Olival (bem longe da Maia) trata-se de uma época de novidades, de um novo estilo. Sentimos, de fora, que se respira melhor.

    No entanto, algo não mudou de um dia para o outro e não vai modificar-se assim tão cedo. Falamos obviamente da questão financeira. O FC Porto é um clube com uma saúde financeira precária, com a UEFA de olho, sendo que André Villas-Boas se viu encurralado a pagar salários do seu próprio bolso. A gestão danosa a que assistimos nos últimos anos, poderia ter levado a uma situação inimaginável, caso os resultados do último ato eleitoral tivessem sido distintos.

    No séc. XXI, um clube sem capital dificilmente consegue vencer, numa era em que há cada vez mais investidores privados a colocar dinheiro nas SAD’s e onde o sócio tem cada vez menos poder de decisão. Felizmente, em Portugal ainda não chegámos tão longe. Há alguns exemplos de ‘messias’, como no caso do Rio Ave, mas nos casos de FC Porto, Benfica e Sporting, o clube ainda tem a maioria e a capacidade de dirigir o seu futuro.

    Em termos de montagem de plantel, há algo essencial ao que não podemos escapar. Sem dinheiro, não há luxos, não há nomes sonantes, que fazem capas e deixam os aficionados a salivar pelo próximo duelo. Tal como o algodão não engana, o momento do FC Porto também não. Podemos recordar a célebre frase de Márcio Braga em 2009, que resumiu a situação do Flamengo nessa fase:

    «Acabou o dinheiro», referiu o dirigente numa conferência de imprensa, num tom sério e pouco agradável ao ouvido.

    Hoje em dia, esta expressão é um ‘meme’, mas ao olharmos para o FC Porto, a mesma assenta que nem uma luva. Depois de investimentos absurdos, como nos casos de David Carmo, Saidy Janko, Paulinho, Ewerton, Samuel Portugal ou Gabriel Veron, a torneira tinha que fechar e Vítor Bruno saberá disso. Não existiram 15 milhões de euros para contratar Mika Faye (fala-se que o teto máximo estabelecido por André Villas-Boas situa-se nos cinco milhões de euros), que é um defesa central promissor. Não vão existir 15 milhões para ninguém, nem para Erling Haaland ou Kylian Mbappé.

    Falamos de uma temporada (ou mais) de poupança, onde se vai ter que olhar para dentro de casa, ao mesmo que se pedirão os três pontos a cada fim de semana,. Antes de vermos alguns nomes interessantes que poderão ser aproveitados pela equipa técnica, vale a pena citarmos um exemplo semelhante. O caso Rúben Amorim está demasiado esmiuçado e não nos podemos esquecer que Frederico Varandas teve a capacidade de oferecer alguns elementos ao antigo médio, como Pedro Gonçalves e Nuno Santos. O trabalho é brutal, não é isso que está em questão.

    Leonardo Jardim assumiu o Sporting no verão de 2013, depois de uma boa prestação em clubes internacionais e no Olympiacos, onde a sua saída nunca foi bem explicada. O emblema de Alvalade vivia um período conturbado, depois da presidência de Luís Filipe Godinho Lopes ter dado errado, com uma meia final da Liga Europa (onde se eliminou o Manchester City pelo caminho) maquilhou muitos temas. Bruno de Carvalho assumiu-se com o enfant terrible do futebol português e acabou por contratar o madeirense para o cargo de treinador. Gostando-se mais ou menos do polémico dirigente e do que aconteceu em seguida, apanhou o clube num caos absoluto. O resto é uma história que para este tema não vale a pena ser esmiuçado. O que entregou a Leonardo Jardim estava bem longe de ser um Ferrari. A fazer lembrar o FC Porto de Vítor Bruno.

    O técnico teve que aproveitar o que tinha e continuar a desenvolver certos atletas que Jesualdo Ferreira já tinha começado a trabalhar em 2012/13, quando assumiu o papel de treinador, com o Sporting mais perto da despromoção do que do primeiro lugar. Foi neste momento que nomes como William Carvalho, Eric Dier, Carlos Mané Cédric Soares, André Martins ou Wilson Eduardo tiveram que puxar do protagonismo, para levar os leões ao segundo posto da Primeira Liga, num trabalho considerado unanimemente como brutal. O plantel tinha nomes que hoje em dia são ‘irreconhecíveis’ como Fabrice Fokobo, Zezinho, Salim Cissé ou Diogo Salomão, sem contar com os jovens que treinavam várias vezes com o plantel principal como Kikas, Luka Stojanovic, Sambinha ou Juary Soares. No computo global, o plantel não era entusiasmante, apesar de ter alguns nomes sonantes. Mas teve que ser Leonardo Jardim a desenvolvê-los e a retirar de si a sua melhor versão, porque não havia dinheiro para mais. Interessava mais sobreviver e potenciar elementos para vender, de modo a equilibrar as contas.

    No caso do FC Porto não estamos tão longe deste cenário. Não sabemos se todas as estrelas da formação dos dragões vão dar jogadores profissionais, com uma carreira de topo (Zezinho ou Fokobo sempre foram apontados como diamantes em ascensão, mas William Carvalho, que poucos lhe deram crédito até aos 21/22 anos, é que fez uma boa carreira, com o Euro 2016 no seu palmarés). Porém, temos a certeza que Vítor Bruno vai ter que recorrer a muitos destes jovens ao longo de 2024/25. O plantel será obrigatoriamente curto, com várias saídas e poucas entradas. Nomes como André Franco, Iván Jaime ou David Carmo, que estavam bem longe do foco de Sérgio Conceição, terão que somar minutos com a nova equipa técnica, podendo ser inclusivamente protagonistas.

    Rodrigo Mora parece ser o jovem com maiores possibilidades de estar no plantel principal a 100%. O médio ofensivo é o protagonista da sua geração e tem um toque como poucos. Não se colocando em equação a possibilidade de ser titular no começo de temporada, não é descabido que o será no final da mesma. Martim Fernandes tem todas as capacidades para continuar a ser aposta, levando a que não seja necessário contratar um suplente para João Mário, com uma dupla de laterais direitos 100% formada no Dragão. Martim Cunha, com a sua capacidade de jogar a lateral esquerdo e a defesa central, pode permitir uma venda de Wendell, servindo de ‘respaldo’ a Zaidu Sanusi. Gonçalo Sousa, capaz de jogar na direita do ataque e no apoio ao ponta de lança, faz com que haja mais uma opção para esses dois postos, embora haja quantidade e qualidade nos mesmos no plantel atual.

    Estes jovens encontram-se sob a tutela de Vítor Bruno, mas não nos podemos esquecer dos que não estão e podem vir a evoluir ao longo de 2024/25. Nomes como Vasco Sousa (este já mais conhecido), Gabriel Brás, João Teixeira, Gil Martins, Dinis Rodrigues, Jorge Meireles ou até mesmo jovem de 16 anos Anhá Candé, poderão ter o gosto de treinar com os A do FC Porto, sonhando com a possibilidade de somar minutos na Primeira Liga. Gonçalo Ribeiro é igualmente promissor, mas com Diogo Costa na baliza, é complicado ser utilizado em algum momento (mesmo nas taças a vaga será de Cláudio Ramos). Muito dependerá das exibições que vão fazer ao serviço de João Brandão, na equipa B, que promete ser uma fornecedora de talento para o plantel principal, pela qualidade e por necessidade.

    Nada vai ser como d’antes. O FC Porto terá que aprender a ganhar sem luxos, sem novidades bombásticas. Não estamos na era das ‘vacas gordas’. Contudo, é nestas fases que a formação assume o protagonismo. Já o vimos acontecer por várias ocasiões e é com os jovens que os azuis e brancos vão conseguir recuperar financeiramente e obter bons resultados (não esquecer que Sérgio Conceição terminou a sua etapa com um terceiro lugar). Não se pode é voltar a fazer um all-in, quando não há capacidade para tal. Não fica nada mal olhar para dentro antes de cobiçar o que pode custar caro.

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