É evidente que o FC Porto está a construir um caminho novo na relação com os seus associados, na maneira de pensar o mercado e na metodologia para atingir o sucesso. A equipa técnica que comanda a formação do Dragão, sofreu uma grande reestruturação e a estrutura para o futebol vem cara lavada para a nova época.
Contudo, estamos a meio de julho e nenhum reforço parece estar perto de rumar à Invicta. Para um plantel que terminou a 18 pontos do primeiro lugar na última edição da liga, parece que esta inércia é contraproducente e pode comprometer as aspirações dos Dragões à reconquista do campeonato, apesar de ter uma explicação: tesouraria.
Mas afinal quais são as necessidades da equipa liderada por Vítor Bruno para a nova época, sobretudo no eixo defensivo que se ressentiu com a saída do capitão Pepe ou com a potencial transferência de Diogo Costa?
Na baliza, os Dragões vão ter dificuldades em segurar Diogo Costa. Ainda assim é uma posição que o plantel não tem grandes carências. Mesmo contando com a saída do internacional português – e não faltam interessados para garantir o jackpot a André Villas-Boas – Cláudio Ramos tem qualidade necessária para ser o dono da baliza.
Ao fim de quatro épocas e já depois de renovar no início do verão, parece que o ex-Tondela pode ter a sua oportunidade de ser titular num clube grande. Diogo Costa é um dos melhores guarda-redes do mundo e não é prudente entrar em grandes loucuras na sua substituição quando Cláudio Ramos já mostrou estar pronto para assumir protagonismo.
Em alternativa existem Samuel Portugal, Diogo Fernandes e Gonçalo Ribeiro. Este último tem potencial para atingir um nível altíssimo e poderá passar pela cabeça de Vítor Bruno promovê-lo a 2.º guarda-redes dos Dragões, sempre à espreita de uma oportunidade. A aposta na formação foi um dos alicerces da candidatura da nova Direção e tem que passar para o campo e não ficar apenas pelo papel.
Samuel Portugal continua sem ter oportunidades em qualquer competição. A contratação do ex-Portimonense continua a carecer de sentido e deverá continuar a ser visto como um terceiro guarda-redes pela equipa técnica do Dragão.
No centro da defesa, Vítor Bruno não se pode queixar de falta de opções – pelo menos para já. David Carmo regressa da Grécia com o estatuto de campeão da UEFA Conference League.
Despachado por Sérgio Conceição, o central ex-Braga reencontrou o seu melhor futebol no Olympiacos e, pelas mais recentes declarações de Jorge Costa, percebe-se que Vítor Bruno conta com o defesa para a nova época. David Carmo já foi visto como um dos defesas centrais com maior potencial no futebol português, fazendo grandes épocas no Minho, ao serviço do Braga.
O peso do preço na sua transferência para o Estádio do Dragão pesaram e tem tido algumas dificuldades de afirmação num dos grandes de Portugal. A boa metade de época que fez na Grécia pode relançar e devolver confiança ao central internacional pela Angola. Otávio Ataíde vai iniciar a primeira época completa de Dragão ao peito. O ex-Famalicão teve algumas exibições interessantes e não tremeu na eliminatória ao mais alto nível contra o Arsenal FC na Liga dos Campeões.
É um central jovem com muito potencial e tem as condições necessárias para se afirmar na nova época com a saída de Pepe, tornando-se um dos patrões da equipa.
Por outro lado, Iván Marcano é uma incógnita. Teve um arranque brutal em 2023-2024, com alguns golos decisivos que disfarçaram algumas debilidades da equipa azul e branca.
Ainda tem alguns meses de recuperação e não sabemos como é que o central espanhol vai regressar aos relvados. Além disso, é uma voz importante no balneário do Dragão e pode ganhar ainda maior peso tornando-se o novo líder do plantel. Fábio Cardoso tem perdido algum espaço no plantel portista, sobretudo depois da ascensão de Zé Pedro. Não é descabido que perca ainda mais preponderância e que saia durante a janela de transferências. Com o regresso de Marcano e com a promoção de Gabriel Brás à equipa principal, faz pouco sentido manter Fábio Cardoso no plantel.
Zé Pedro, entrou sob os olhares desconfiados do público do Dragão depois de alguns jogos pela equipa B, mas tem muita maturidade e amealhado alguns jogos muito competentes. Ganhou ainda mais estatuto com a exibição de encher o olho na final do Jamor ao conseguir anular Viktor Gyokeres. Além disso, é um jogador “barato” para os cofres da SAD e útil de ter no balneário por ser sempre cumpridor quando é chamado.
Para terminar o eixo central, Gabriel Brás surge como uma das maiores promessas do Olival. Um central rápido, forte no jogo posicional e muito bom de pés. Está pronto para ser lançado como alternativa a vir do banco e com excelente margem de progressão. Pode ter um papel semelhante a Eduardo Quaresma ou Tomas Araújo. Na minha opinião, surge mesmo à frente de Marcano ou de Fábio Cardoso.
Nas laterais, o FC Porto tem um problema crónico no lado esquerdo. Zaidu tem muitas limitações técnicas e, para agravar, teve uma lesão grave que ainda o vai retirar dos relvados durante algumas semanas. Além disso, é incompreensível que Zaidu Sanusi ainda faça parte de um plantel principal do FC Porto em 2024-2025.
Wendell, a viver um dos melhores momentos da carreira ao ser convocado pela seleção canarinha para uma grande competição, é um jogador muito inconstante. Além de ter muitas debilidades defensivas, é um jogador de “momentos” e “fases”. Nenhum destes dois laterais esquerdos dão garantias para se afirmar uma época inteira numa equipa com as aspirações do FC Porto. Parece-me evidente que é uma posição que o plantel está carenciado e é onde a estrutura tem que investir. Já se falou de Juan Miranda e de Alex Sandro, mas o que é certo é que ainda não chegou nenhum lateral esquerdo ao Dragão.
No lado direito, Martim Fernandes chega não como uma promessa, mas como uma solução para o imediato. Fez exibições muito positivas durante a fase final da época transata e com o João Mário algo inconstante derivado a lesões, pode ser a época de afirmação de Martim Fernandes e somar muitos minutos na equipa principal. Pepê é outro nome para esta posição, mas deve ser visto como uma solução de recurso. O brasileiro é um craque e um jogador polivalente, mas rende mais no último terço e um dos maiores talentos da Liga no processo ofensivo.
Numa época em que a equipa não vai ter grandes recursos financeiros e paira a saída de Diogo Costa, a estrutura deve canalizar os seus esforços para colmatar a falta de profundidade no lado esquerdo da defesa e na contratação de um central destro que possa pegar de estaca na equipa.
A ausência de Pepe pode pesar e pode prejudicar as aspirações portistas, mesmo que David Carmo reencontre o melhor futebol no Dragão e Otávio se assuma como o novo patrão da defesa. Wendell também pode estar de saída e pode deixar a posição que já é a mais carenciada do plantel há vários anos consecutivos, em piores lençóis.