As peças do xadrez azul e branco | FC Porto

Parece-me indiscutível que, ao nível dos resultados e até à data, a época do FC Porto tem sido bastante positiva.

Bem sei que o descalabro nos Açores retirou ao clube a possibilidade de disputar/conquistar um título, mas, com franqueza, depois de tantos anos, está claro que a Taça da Liga é mesmo uma malapata que teima em assombrar o clube e é um buraco na vitrine do museu que permanecerá vazio por pelo menos durante mais um ano.

Acreditem que, como adepto, é algo que me causa bastante azia, ainda assim, e já que se fala em maldições (e a altura do ano até é das mais apropriadas), devo confessar que já ouvi falar de algumas bem piores por outros lados…

Mas ora vejamos: se, na abertura da temporada, dissessem a um qualquer adepto portista que, nos primeiros dias de Novembro, o FC Porto iria encabeçar a classificação da Primeira Liga (com um registo de 8 vitórias e 2 empates) e que, na Liga dos Campeões, quiçá no grupo que mais se assemelha a um lago de tubarões, estaria com a Liga Europa no bolso e com francas possibilidades de seguir para os oitavos-de-final da prova, creio que qualquer um assinaria por baixo sem grandes reservas.

Quem já contava com isto, que me perdoe a modéstia.

A verdade, no entanto, é que o sucesso do FC Porto nas principais competições internas e na mais importante prova de clubes do mundo se tem construído com recurso a armas distintas.

Para o caso, e por hoje, interessa-me discutir as peças do xadrez azul e branco, muito mais do a sua disposição em campo ou o seu estilo ou estratégia de ação, que deixo para outras núpcias.

Deixemos de fora desta análise o jogo que o FC Porto disputou contra o Sintrense para a Taça de Portugal (um jogo frente a uma equipa que milita uns escalões mais abaixo seria sempre um outlier sem grande relevância estatística) e foquemo-nos no campeonato e na liga milionária.

As peças-chave do xadrez azul e branco

Diogo Costa xadrez azul e branco FC Porto
O jovem guarda-redes aproveitou a lesão de Marchesín no início da época e aproveitar para se tornar num jogador indispensável para Sérgio Conceição, mesmo com o regresso do argentino.
Fonte: Diogo Cardoso / Bola na Rede

Está claro, ao cabo de já várias partidas disputadas, que Sérgio Conceição não abdica daquilo a que em “futebolês” se costuma chamar, a espinha dorsal da equipa. Diogo Costa, Pepe, Uribe, Luís Díaz, Otávio (pode variar a função, mas não falha na assiduidade) e Taremi são pau para toda a obra.

E se alguma dúvida a este respeito subsiste, recordo que, mesmo em claro défice físico, Pepe e Uribe, em jogos distintos (no caso de Pepe na receção ao Liverpool e com o colombiano no último jogo em Milão), foram forçados pelo treinador portista a apresentarem-se a jogo, mesmo quando se previam graus de intensidade elevados.

As experiências ficaram-se pelo aquecimento, evidenciaram algum amadorismo das equipas técnicas e médicas do clube e, acima de tudo, deixaram a nu a dependência (ou confiança) de Sérgio Conceição no seu núcleo duro.

Por outro lado, nas cinco posições que restam para compor o onze, o treinador do FC Porto tem variado sobremaneira as suas opções e os resultados vão-lhe dando razão. Por conseguinte, o que me parece mais relevante destacar, é que essa alternância nas opções parece ter muito mais que ver com as características dos jogos, do que com questões de performance ou rendimento.

E quando falo em características, refiro-me à dimensão do palco ou pergaminhos do oponente, bem como às questões técnico-táticas inerentes.

Façamos a análise caso a caso.

No centro da defesa, só por impossibilidade física ou disciplinar é que Mbemba não é chamado à ação quando o palco é de Liga dos Campeões. Até ao momento, falhou apenas o jogo com o Liverpool depois de ter recebido ordem de expulsão em Madrid.

Já no que concerne ao campeonato, Sérgio Conceição tem encontrado aí uma via livre para dar minutos a Marcano. Ainda que o congolês mantenha o estatuto de titular, nas provas domésticas perde o rótulo de imprescindível.

Mais, recordo que, após a debacle no jogo com o Santa Clara há pouco mais de uma semana, Mbemba foi um dos jogadores a saltar fora da convocatória para a receção ao Boavista. Apesar do “castigo”, quando a batalha se jogou no tabuleiro da elite, no mítico San Siro, o técnico portista não abdicou de o ter ao lado de Pepe.

Mbemba xadrez azul e branco FC Porto
Apesar de se manter como a primeira escolha para o lugar ao lado de Pepe, o congolês perdeu algum destaque em relação a épocas anteriores.
Fonte: Diogo Cardoso / Bola na Rede

Nas laterais defensivas o panorama tem-se revelado idêntico. Na esquerda, Zaidu, que no campeonato tem sido sempre, ou quase sempre, carta fora do baralho, na Liga dos Campeões cumpriu, em Milão, a sua terceira titularidade em quatro jogos.

Bem sei que Wendell (não sendo um prodígio é claramente melhor jogador) parece ter-lhe ganho a frente e que, não fosse a lesão, haveria uma forte probabilidade de ter sido o brasileiro a ser lançado às feras.

Ainda assim, é indubitável que Sérgio Conceição vê nas provas europeias um cenário mais apetecível para o aproveitamento da velocidade do nigeriano e que aí, num contexto de máxima exigência, por mais paradoxal que possa parecer, esse atributo se suplanta às gritantes dificuldades técnicas e posicionais do lateral-esquerdo portista.

No lado direito, João Mário parece ter-se fixado. Não obstante, parece-me que tal sucede apenas como resultado da alarmante falta de compromisso de Corona para com a equipa.

Relembro que é o mexicano quem avança para a titularidade em Madrid e no jogo com o Liverpool, disputado no Estádio do Dragão, numa altura em que o jovem português já assumia confortavelmente a posição nas provas nacionais.

xadrez azul e branco FC Porto
O jovem já teve momentos altos e baixos na temporada, sendo que neste momento parece ter agarrado a posição.
Fonte: Diogo Cardoso / Bola na Rede

Diga-se, em abono da verdade, que apesar dos resultados positivos nos dois jogos com o AC Milan, não deixaram de ficar comprovadas as dificuldades que João Mário ainda tem no momento defensivo, dando respaldo às hesitações do treinador.

É, contudo, no meio campo, na zona nevrálgica do tabuleiro de jogo, que o balanceamento nas opções de Sérgio Conceição é mais evidente.

Jogadores como Vitinha (assumiu, finalmente, lugar cativo no onze nos jogos de campeonato), ou Fábio Vieira, que vão tendo um papel principal na competição doméstica, estão condenados, para já, na Liga dos Campeões, a entrar no decorrer das segundas partes em momentos em que a equipa necessite ou reclame por jogadores mais capazes de reter a bola e baixar o ritmo de jogo.

Ao invés, Sérgio Oliveira (surpreendentemente arredado das opções iniciais no campeonato) e Grujic (que na Primeira Liga vai servindo apenas para entrar nos últimos minutos quando a vantagem é mínima e a mensagem é de marcha atrás), são as escolhas prediletas do treinador portista para acompanhar Uribe na frente europeia.

A qualidade, maturidade e experiência nessas andanças vão-lhes garantido vantagem e as suas atuações (Grujic esteve brilhante em San Siro) vão justificando a aposta.

Finalmente, no que concerne ao parceiro de Taremi na frente de ataque, dá-me a ideia que, aqui sim, a escolha vai-se baseando mais no momento de forma e no rendimento das alternativas, do que na exigência dos jogos.

Evanilson está, agora, à frente de Toni Martínez e julgo que tal sucede de forma perfeitamente natural. O brasileiro é mais completo e não é assim tão inferior ao espanhol nos capítulos do jogo em que este é mais forte, a velocidade e sagacidade.

xadrez azul e branco FC Porto
O brasileiro, com boas exibições e uma série de golos nas últimas partidas, parece partir neste momento à frente de Toni Martínez.
Fonte: Diogo Cardoso / Bola na Rede

Há que dizer que, tanto nestas, como noutras opções, vão ditando os resultados que Sérgio Conceição tem feito uma gestão inteligente dos seus recursos.

Se me parece que, por exemplo, no caso de jogadores da estirpe e categoria de Vitinha, o futuro terá forçosamente que ditar que sejam apostas mais transversais, é de salutar que o treinador do FC Porto vá gerindo a aposta nos jogadores da formação em doses moderadas e com graus de responsabilidade crescentes ao longo do tempo, sem nunca os privar do tempo de jogo que necessitam para o seu amadurecimento técnico e tático.

Em suma, é notório que o xadrez azul e branco vai balanceando entre a competitividade do Primeira Liga e as exigências da Liga dos Campeões e que a escolha das peças depende, invariavelmente, do tabuleiro em que se joga a partida. Em ambos os estrados, Sérgio Conceição vai dispondo as suas peças com mestria. As partidas (como a procissão) vão, ainda, no adro, mas os portistas anseiam pelo xeque-mate.

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Bernardo Lobo Xavier
Bernardo Lobo Xavierhttp://www.bolanarede.pt
Fervoroso adepto do futebol que é, desde o berço, a sua grande paixão. Seja no ecrã de um computador a jogar Football Manager, num sintético a jogar com amigos ou, outrora, como praticante federado ou nos fins-de-semana passados no sofá a ver a Sporttv, anda sempre de braço dado com o desporto rei. Adepto e sócio do FC Porto e presença assídua no Estádio do Dragão. Lá fora sofre, desde tenra idade, pelo FC Barcelona. Guarda, ainda, um carinho muito especial pela Académica de Coimbra, clube do seu pai e da sua terra natal. De entre outros gostos destacam-se o fantástico campeonato norte-americano de basquetebol (NBA) e o circuito mundial de ténis, desporto do qual chegou, também, a ser praticante.

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