Pinto da Costa no Contraste | Um portismo incondicional

    “Eu não fui portista por ser presidente, eu fui presidente por ser portista”. 

    Esta frase (proferida numa entrevista brilhantemente conduzida por Inês Simões no programa Contraste, da TVI Player) sintetiza na perfeição o sentimento que Jorge Nuno Pinto da Costa tem pelo seu FC Porto. 

    Uma profunda paixão, dedicação e entrega ao clube dos seus amores.

    A sua chegada à presidência foi no longínquo ano de 1982 depois de trabalhar alguns anos como seccionista em outras modalidades. É impossível dissociar os primeiros anos de Pinto da Costa ao comando do FC Porto sem se falar no nome de José Maria Pedroto, um dos melhores treinadores da história do futebol português. 

    Sem Pedroto, provavelmente o sucesso do clube não teria sido tão imediato, porque foi ele que criou as bases para que o clube obtivesse os seus primeiros grandes êxitos (como a antiga Taça dos Campeões Europeus em 1987 sob o comando do seu discípulo Artur Jorge, título que é um dos tópicos abordados nesta entrevista).

    Mas o mérito tem que ser igualmente repartido com Pinto da Costa por ter sido ele que o voltou a contratar, para que juntos conseguissem mudar o panorama e a dimensão de um FC Porto que até ao momento, era um clube de pouco impacto a nível nacional e sem nenhuma expressão a nível internacional.

    Fonte: FC Porto

    Um presidente que ao longo de 42 anos consegue 69 títulos no futebol e mais de 1300 (!) títulos em todas as modalidades, tem que ser considerado obrigatoriamente e legitimamente o melhor dirigente desportivo de todos os tempos.

    O impacto de Pinto da Costa é tão grande que até tem um cântico entoado pelos adeptos em sua homenagem, algo único no futebol mundial.

    O sentimento da generalidade dos adeptos portistas em relação ao seu líder é de profunda gratidão e de quase veneração e em muitos casos, chega a roçar o fanatismo, como se de uma religião se tratasse, o que não é necessariamente positivo.

    Foi sob a presidência de Pinto da Costa que o clube conseguiu quebrar a hegemonia histórica dos outros dois grandes clubes do futebol português: Benfica e Sporting.

    Nesta entrevista, Pinto da Costa falou abertamente sobre a saída do clube ao fim de mais de 42 anos. Tem para si bem presente o motivo pelo qual foi derrotado nas últimas eleições por André Villas-Boas, um dos treinadores de maior sucesso durante o seu reinado, apesar de só ter treinado o FC Porto durante uma época.

    Atribui essa derrota por números tão expressivos à narrativa criada por alguns meios de comunicação social sobre possíveis negócios obscuros e a sua eventual associação aos desacatos da Assembleia Geral de sócios prévia às eleições presidenciais (e que desencadeou a operação Pretoriano, que levou posteriormente à condenação de Fernando Madureira, líder dos Super Dragões).

    Fernando Madureira FC Porto
    Fonte: Diogo Cardoso/Bola na Rede

    Por esse motivo, Pinto da Costa considera que o seu maior rival fora das quatro linhas foi o Ministério Público, porque pensa ter sido alvo de várias campanhas de difamação em virtude de denúncias anónimas que foram minando a sua imagem junto dos associados do FC Porto e a consequente aposta por um novo ciclo em detrimento da continuidade.

    Pinto da Costa falou igualmente de forma descomplexada sobre o fato de ter sentido que muitos dos seus colaboradores lhe viraram as costas quando começaram a sentir a sua liderança fragilizada, mas reconhece-o com imensa naturalidade e aborda o assunto sem qualquer tipo de mágoa ou ressentimento.

    Tem bem ciente quem são os seus verdadeiros amigos, quem esteve sempre lá com ele nos bons mas principalmente nos maus momentos e admite não se arrepender de nada do que fez, porque assume que o fez fruto do seu portismo e porque sentia que era o melhor para o clube naquele momento.

    Sintomático desse amor pelo clube, é o fato de dizer que muitas vezes evitou as vendas de determinados jogadores da equipa de futebol porque não queria enfraquecer o plantel. Foi um presidente que se focou essencialmente na obtenção de títulos e não noutras questões que se tornaram cada vez mais fundamentais no futebol de hoje em dia, que se tornou num negócio.

    Assume que o seu portismo muitas vezes lhe toldou o raciocínio e agiu muitas mais vezes com o coração do que com a razão. 

    O antigo presidente portista afirma por exemplo que se continuasse na presidência do clube, não teria vendido Evanilson pela quantia pela qual foi vendido (37 milhões de euros). Informa ter tido ofertas maiores no ano transacto pelo jogador e que se recusou a vender porque sabia que isso iria ter um impacto muito grande a nível desportivo.

    Pinto da Costa não está errado quando afirma que a maior parte dos adeptos está interessado única e exclusivamente na obtenção de títulos, mesmo que com isso o clube apresente contas negativas.

    Pinto da Costa FC Porto
    Fonte: Todos Pelo Porto

    Mas uma coisa é o sentimento dos adeptos, outra coisa tem que ser necessariamente o sentimento do presidente, mas Pinto da Costa nunca deixou de priorizar o seu fervor clubístico em detrimento de tudo o resto.

    O antigo presidente portista estagnou no tempo e não se adaptou à evolução que o futebol foi tendo nos últimos anos. Como negócio que é, o futebol obriga a que os clubes se preocupem mais com a gestão financeira do que em tempos anteriores.

    O sucesso por vezes debilita e considero ter sido o grande erro de Pinto da Costa.

    A competitividade é maior, os salários dos jogadores aumentaram vertiginosamente e os resultados desportivos são o que mais importa, mas têm que ser acompanhados por uma gestão financeira eficiente. 

    Porque sem isso, os resultados desportivos deixarão de aparecer, pois com menos dinheiro, menos possibilidade há de reforçar o plantel da equipa com jogadores de qualidade e consequentemente, mais longe se estará de obter títulos, devido ao aumento da competitividade que mencionei anteriormente.

    Esta visão romântica do futebol é totalmente desconexa da realidade e esse foi provavelmente o grande problema para o declínio do clube a nível financeiro nos últimos anos, que começou a ter repercussões a nível desportivo.

    Sob a presidência de Pinto da Costa, o FC Porto tornou-se um dos clubes que melhor vendia a nível mundial. Conseguiu encaixes financeiros significativos em vendas de jogadores e também com isso conseguia ter sempre plantéis competitivos (aliado a uma excelente política de contratações) e que lutavam sempre por títulos.

    Mas esse dinheiro não foi empregue. Sucederam-se as contratações falhadas (algo que não era habitual no clube), apostou-se de forma pouco convicta na formação e os resultados desportivos começaram a ressentir-se desse fato.

    Pinto da Costa deveria ter-se reunido de pessoas especializadas na gestão financeira de um clube, que estivessem totalmente conscientes do negócio e que continuassem a investir mas de forma lógica e sustentada.

    Pinto da Costa Goalball Jogadores FC Porto
    Fonte: FC Porto

    Como isso não aconteceu e apesar de todos os portistas (eu inclusive) lhe estarmos eternamente agradecidos por todas as alegrias e conquistas, o clube está mergulhado numa profunda crise financeira e obrigado a fazer negócios como a venda do Evanilson para poder fazer face às regras do fair-play financeiro e não ser impedido de inscrever jogadores.

    O antigo presidente portista afirma que não pretendia cumprir todo o mandato e que a intenção era apenas permanecer um ano para poder garantir a permanência de Sérgio Conceição e a construção da Academia de Futebol na Maia (que considerava fundamental para a evolução do clube), que já não será viável por decisão do novo presidente André-Villas Boas.

    A sua admiração por Sérgio Conceição e por José Mourinho são igualmente tema desta entrevista e é evidente o carinho com que se refere a ambos. De José Mourinho, destaca a sua convicção em dizer que a equipa seria campeã no ano seguinte a ter chegado ao clube (foi contratado a meio duma época desportiva) e que isso contagiou-o a si e a todos os jogadores desde o momento daquela declaração.

    Foram dois anos maravilhosos e históricos do clube com as célebres conquistas da Taça UEFA e da Liga dos Campeões em anos consecutivos, uma das páginas mais bonitas da história do futebol português.

    Em relação a Sérgio Conceição, é quase uma relação de pai e filho. O antigo treinador portista chegou ao clube como jogador com apenas 16 anos (tendo ficado órfão de pais pouco tempo depois) e Pinto da Costa está profundamente agradecido pelos 11 títulos em sete anos que Conceição conquistou no contexto atual em que o clube se encontra.

    Na entrevista, é surpreendente a profunda estima e admiração (devido às suas quezílias e trocas de acusações públicas entre ambos durante os anos da sua presidência) que Pinto da Costa tem por Bruno de Carvalho, antigo presidente do Sporting. Pinto da Costa chega inclusive a dizer que o seu antigo rival foi profundamente injustiçado e que lhe devia ter sido dado mais reconhecimento do que aquele que lhe foi dado.

    Fala também sobre a sua atual relação com outro dos seus últimos grandes rivais: Luís Filipe Vieira. Diz que já enterraram o machado de guerra e que agora têm uma boa relação.

    Pinto da Costa e Sérgio Conceição em treino do FC Porto
    Fonte: FC Porto

    É desarmante a forma descomplexada com que aborda o tema da sua doença (introduzido de forma bastante profissional e delicada por Inês Simões). Pinto da Costa foi diagnosticado com cancro da próstata há três anos e disse que encara a morte com extrema naturalidade e que não se sente minimamente condicionado ou preocupado com o fato de estar a lutar contra uma doença oncológica.

    “A única certeza que temos quando nascemos, é que vamos morrer”, afirma o antigo presidente portista.

    “Vivi a vida que quis, fiz tudo o que quis, apesar de não ter tido uma vida nada anormal”, é outra das suas declarações de maior destaque.

    Por um lado, sente-se aliviado por ter deixado a presidência do seu clube do coração. Já pode acordar às 11 da manhã, ter jantares até horas tardias com os seus amigos e dedicar tempo aos que mais ama.

    Pinto da Costa continua a ir ver os jogos do FC Porto sempre que a sua saúde assim o permite, continua a torcer pelo sucesso do clube e diz que a única coisa que lhe tirava sono era quando o FC Porto perdia.

    O seu legado é algo que irá perdurar no tempo. Será algo único e difícil de repetir.

    Foram 42 anos de uma presidência repleta de sucessos, polémicas, derrotas, vitórias, alegrias, tristezas, mas há algo que é transversal durante todo esse período: o seu portismo incondicional.

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