Protagonistas com direito a duplos

eternamocidade

Na passada sexta feira, durante o minuto 63, acredito que a esmagadora maioria dos adeptos portistas sustiveram a respiração. Em pleno relvado do Estádio Municipal de Braga, Jackson Martinez não conseguia corresponder a uma assistência de Ricardo Quaresma. O momento foi dramático – ver o avançado colombiano a cair no relvado com uma expressão de dor pôs a nação portista a fazer contas à vida.

De facto, e tal como disse Julen Lopetegui na conferência de imprensa posterior à vitória na Pedreira, Jackson é, nesta temporada, muito mais do que o capitão ou o melhor marcador do FC Porto. Quem olha para as performances do avançado colombiano, facilmente percebe que o Cha Cha Cha se incorpora no jogo ofensivo portista como nunca. Não raras vezes, vemos Jackson a recuar até à linha do meio campo, seja para arrastar as marcações defensivas contrárias, seja para ajudar a equipa na construção de ataques. Actualmente, Jackson já não é “só” o melhor ponta-de-lança do campeonato português. Actualmente, Jackson é “só” o melhor jogador da Primeira Liga. Por isso, pelo que joga e pelo que dá a jogar, aquele minuto 63 do jogo entre Braga e FC Porto foi um verdadeiro ataque de coração do qual os adeptos portistas não estavam à espera. Afinal de contas, aquele momento trazia uma imagem rara desde que o colombiano chegou ao Dragão, pois Jackson nunca havia falhado um único jogo do campeonato desde que aterrou em terras lusitanas. Numa fase tão decisiva da temporada, em que Benfica e FC Porto se digladiam pelo campeonato nacional, perder Jackson foi um verdadeiro “soco no estômago” para os portistas, como se estivessem a desligar a máquina a uma equipa que tem lutado com todas as suas forças para manter vivo o sonho do título.

Com o resultado em 0-0 e com a perda de Jackson Martinez, devo admitir que com apenas 30 minutos para jogar na Pedreira – e mesmo com o FC Porto a dominar a partida em toda a linha – nunca pensei que a equipa de Lopetegui fosse capaz de se levantar de um golpe tão importante como o que levou Jackson a sair lesionado do terreno de jogo. Também por isso, e mais do que os três pontos – que tiveram tanto de saborosos como de difíceis – aquilo que mais me agradou ver na exibição portista na última sexta feira foi a garra e a determinação com que os jogadores enfrentaram uma das melhores equipas da Liga.

Há duas semanas, escrevi na minha crónica do Bola na Rede que a ausência de Óliver Torres era importante mas que tinha de ser combatida pelo plantel. Apesar da importância evidente do médio espanhol, penso que é claro que, se há plantel na história portista que pode responder a quase todas as possíveis ausências, este é certamente um deles. Ao ver jogadores como Quintero, Quaresma, Hernâni ou Aboubakar no banco, faltando ainda juntar a esta equação Óliver e Adrián López (lesionados), rapidamente se percebe que Lopetegui tem mais do que armas para mexer durante os encontros. Foi assim no Bessa, num jogo em que o empate se arrastava perigosamente; e foi assim em Braga, numa altura em que o 0-0 também não servia para os portistas. Numa e noutra ocasião, o treinador espanhol soube mudar a equipa, dando-lhe mais poder ofensivo. Coincidência ou não, em ambas as situações Julen Lopetegui conseguiu ganhar o jogo e sobretudo ganhar mais opções dentro do plantel.

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Depois de uma paragem devido a lesão, Óliver está de regresso
Fonte: Página de Facebook do FC Porto

No jogo da cidade dos arcebispos, o escolhido foi Aboubakar, um avançado que poucas oportunidades tem tido esta época. Aliás, o camaronês conta apenas com 12 jogos disputados e 4 golos marcados esta temporada. Bem sei que o FC Porto raramente joga com dois pontas- de-lança e que retirar Jackson Martinez do terreno – mesmo quando a equipa está em vantagem no marcador – é uma acto que poucos treinadores no mundo conseguiram praticar. Ainda assim, do pouco que consegui ver de Aboubakar, creio que Lopetegui já lhe deveria ter dado mais oportunidades para mostrar o seu real valor. Afinal de contas, estamos a falar de um avançado internacional e que é titular numa das boas seleções africanas, a dos Camarões. Também por aqui se vê a riqueza do plantel portista: noutras épocas tivemos pontas-de-lança suplentes que simplesmente não conseguiam fazer sequer “cócegas” aos titulares – ter Aboubakar no banco portista é, a meu ver, sinónimo de qualidade garantida. A assistência para Tello no golo portista é apenas um exemplo daquilo que o camaronês pode trazer ao FC Porto nos quatro jogos em que Jackson Martinez não estará disponibilizar para ajudar a equipa (Basileia para a Liga dos Campeões, Arouca e Nacional para o campeonato, Marítimo para a Taça da Liga).

Bem sei que, nesses encontros, não veremos Aboubakar a ter pormenores técnicos como o que Jackson teve no lance do primeiro golo frente ao Sporting; bem sei que, nesses encontros, não teremos Aboubakar a incorporar-se no jogo ofensivo portista como Jackson faz. Em poucas palavras, nos quatro jogos em que Jackson estiver ausente, não veremos a classe do melhor jogador do campeonato português em campo. Ainda assim, e tal como disse no momento da lesão de Óliver Torres, esta é uma ausência que não pode ser uma desculpa para um possível insucesso dos portistas, seja no Campeonato ou na Taça da Liga. Depois de o FC Porto ter ultrapassado um verdadeiro “cabo das tormentas” no campeonato – com importantes vitórias frente a V. Guimarães, Boavista, Sporting e Sp. Braga – é essencial que a equipa mantenha a atitude e a determinação que tem mostrado nos últimos jogos.

Com 10 partidas para disputar no campeonato, uma decisiva segunda mão dois oitavos-de-final da Liga dos Campeões na próxima terça-feira em casa frente ao Basileia e a meia final da Taça da Liga aí ao virar da esquina, o FC Porto chega a este momento importantíssimo da temporada na melhor forma até ao momento. A equipa está solta de movimentos, tem intensidade no seu jogo e sobretudo já consegue ser inteligente com e sem bola. Parece que, aos poucos, Lopetegui começa a perceber de que fibra uma equipa tem de ser feita para conseguir alcançar os objetivos que pretende. O caminho será difícil e os obstáculos serão cada vez mais exigentes. Por isso, acredito que a ausência de Jackson deve ser o derradeiro “toque a reunir” da equipa. É altura de os jogadores se focarem nos objetivos e lutarem com todas as suas forças, mesmo que o seu capitão não esteja em campo. Num momento em que a equipa não pode falhar, a ausência do capitão não deve ser vista como um problema irremediável. Enquanto adepto, o que espero é que a lesão de Jackson seja apenas mais um pretexto para que os jogadores do FC Porto se unam para alcançar aquilo que desejam e que têm feito por merecer. Depois, e tal como costumo dizer, em campo se verão os resultados. Mas de uma coisa tenho a certeza: se a atitude for a mesma das últimas batalhas, as vitórias chegarão. Mesmo sem o melhor soldado.

Foto de capa: Página de Facebook do FC Porto

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