A eficácia do Rio Ave FC, que havia faltado em diversos jogos anteriores, foi um dos pilares da vitória vilacondense. O pilar-mestre, todavia, foi a capacidade que a turma de Luís Freire teve para, mais do que condicionar, castrar por completo a construção dos axadrezados.
O conjunto boavisteiro tem passado toda a época a jogar com bola no pé, a gerir a posse, a construir desde trás, com a presença de Seba junto aos centrais e de Makouta e Reisinho mais adiante no transporte e na ligação. Apesar de o pontapé para a frente em busca de Bozenik ser uma alternativa usada até com alguma frequência – compreensível pela capacidade do eslovaco para jogar de costas para a baliza e segurar bola -, não tem sido esse o ADN das panteras.
E foi a capacidade que o Rio Ave FC teve para retirar o Boavista FC desse ambiente que deu o jogo aos vilacondenses – foi, depois, a eficácia a dar a vitória. Segundo Petit, a sua equipa quis jogar por fora, para fugir ao corredor central denso dos rio-avistas, mas as panteras nunca conseguiram ligar com qualidade e saltar a pressão adversária. Viu-se João Gonçalves, guardião boavisteiro, a pontapear várias vezes para fora, por falta de linhas de passe, vimos Seba Pérez não saber por vezes que destino dar à bola, vimos Bozenik muito desamparado.
O Boavista FC ainda procurou, por vezes, explorar as costas da defesa verde-e-branca, mas os movimentos de Bozenik, Tiago Morais e Watai estiveram sempre bem controlados pelos homens da casa. Depois, foi uma questão de fazer golos. E o Rio Ave FC fez isso mesmo, precisamente nos momentos mais críticos dos axadrezados.
Os verde-e-brancos marcaram aos 37´e aos 48´ e são precisamente o último quarto de hora da primeira parte e o primeiro quarto de hora da segunda metade os períodos do jogo em que o Boavista FC mais golos concede (seis e três, respetivamente). Dos 30´ aos 60´, os pupilos de Petit permitiram nove dos 17 golos sofridos na Primeira Liga (52,9%). Além disso, ao permitir o 2-0 ainda no crepúsculo da segunda parte, o Boavista FC ficou obrigado a fazer dois golos para pelo menos pontuar em Vila do Conde.
Ora, essa é precisamente uma das fragilidades dos axadrezados: marcar golos nas segundas partes. Apenas apontaram seis até ao momento (pior só as quatro equipas que fizeram cinco golos) e em termos percentuais as panteras são mesmo as mais desequilibradas nesse parâmetro, a par do SC Farense (que ainda não havia jogado no momento da escrita): apenas cerca de 33,3% dos seus golos foram conseguidos nos segundos tempos.
Em contrapartida, o Boavista FC é a equipa com mais golos nos primeiros tempos (12). O que só aumenta a importância de o Rio Ave FC ter quase por absoluto impedido os forasteiros de implementar a sua ideia de jogo no primeiro tempo.
BnR NA CONFERÊNCIA DE IMPRENSA
BnR: O Rio Ave FC soma três vitórias esta temporada e, apesar de a amostra ser relativamente curta, já se nota um padrão, digamos: os três triunfos foram em casa e sem conceder golos. Esta solidez defensiva e estes jogos em casa, com este ambiente claramente de dérbi, serão fundamentais para o Rio Ave FC não voltar a cair em zona de despromoção, de onde saiu com este triunfo?
Luís Freire: O fator casa é fundamental para nós. Queremos agradecer aos adeptos, que mesmo nos momentos mais difíceis souberam sempre dar uma palavra de ânimo à equipa. O não sofrer golos… É lógico que se não sofrermos, não perdemos. A partir daí, temos pontos e nós precisamos de um campeonato feito de pontos. É materializar isto, porque por vezes chegámos a sofrer golos em coisas que não eram de organização, eram também da intranquilidade da equipa, alguma ansiedade da equipa. Hoje, foi dado um passo importante para sermos mais consistentes no futuro.
Outras declarações:
“Já jogámos pior e ganhámos mais pontos. Este ano não está a ser assim”.
“Andávamos a deitar muito a perder nos últimos minutos”.
“Começámos a anular bem a construção do Boavista FC”.
“Não me lembro de uma jogada de perigo do Boavista FC no primeiro tempo”.
“O mérito é de eles acreditarem sempre uns nos outros e no treinador”.
“Ao intervalo disse-lhes ´vamos lá ganhar isto´”.
“O segundo golo permitiu gerir o jogo com mais equilíbrio emocional”.
“A equipa soube jogar o jogo, soube gerir o jogo”.
“Senti a equipa muito ativa, quem entrou, entrou para ajudar”.
“Fomos uma equipa muito abnegada, muito lutadora”.
“É fundamental acreditarmos em nós”.
“Do ponto de vista anímico, esta vitória vai fazer diferença”.
“Quem vê o Rio Ave FC jogar vê que tem princípio, meio e fim”.
“A equipa começou a soltar-se e o Rio Ave FC esteve sempre mais perto do segundo”.
“Senti uma coisa nos jogadores: hoje tinha que dar para nós”.
“Houve bom futebol e temos de destacar mais essa parte do jogo”.
“Temos muitos bons profissionais”.
Declarações de Petit:
“Na primeira parte, tivemos momentos em que baixámos muito na primeira fase de construção”.
“Queríamos ligar mais por fora”.
“O Rio Ave FC aproveitou algumas falhas nossas e começou a criar perigo”.
“Na segunda parte, tentámos reagir, mas não o conseguimos fazer”.
“No golo, o Tiago Morais não interfere na jogada”.
“É uma derrota que não estávamos à espera”.
“O árbitro disse que o Morais estava fora de jogo”.
“Os árbitros também erram, mas quando erram constantemente chateia. Devia haver mais respeito pela instituição Boavista FC”.
“Sabíamos que ia ser uma época difícil. Sabemos as nossas limitações, aquilo que podemos trabalhar”.
“Não queríamos dar vida ao Rio Ave FC, mas demos”.