Vitória Sport Club: a paixão da Cidade-Berço

Se o Mundo é o lugar onde existem estádios de futebol com muitas casinhas em seu redor, então Guimarães será o paraíso… Aí, como em nenhum outro ponto deste país, persiste uma ligação umbilical entre a cidade e o clube – não o Vitória de Guimarães, mas o Vitória Sport Club, como aquelas gentes fazem questão de sublinhar, honrando o verdadeiro nome da sua paixão.

Uma paixão tão antiga – o Vitória foi fundado em 1922 – quanto fogosa, duradoura e única – a relação clube-cidade é vislumbrável a cada passeio pelo centro ou a cada contacto com os vimaranenses, os mesmos que seguem a equipa com uma força apenas equiparável à dos grandes. Assim, talvez não seja estranho perceber a explosão de alegria (desde sempre contida) ocorrida no Largo do Toural naquela noite de 26 de Maio de 2013, horas depois de o Vitória ter derrotado o Benfica na final da Taça de Portugal (2-1) e ter dado à sua cidade a maior conquista da história. E a noite mais longa e feliz.

Dos 11 titulares e heróis do Jamor, saíram 5 (El Adoua, Ricardo, Soudani, Amido Baldé e Tiago Rodrigues, com este último a retornar a casa). Para 2013/2014, como em anos anteriores, mais uma missão espinhosa pela frente: montar uma equipa competitiva para responder às exigências internas e a uma inesperada presença na Europa, tudo dentro de um contexto de restrição orçamental. Ao seu leme, um dos homens mais competentes do futebol português: Rui Vitória.

Atacando o mercado dentro de evidentes limitações financeiras e fazendo uma utilização mais do que profícua da sua equipa B (a este nível, talvez só o Marítimo tenha uma taxa de aproveitamento superior), o Vitória reergueu-se, organizou-se e, hoje, é, mais uma vez, um caso de sucesso, estando a quatro pontos do objectivo inicial: a qualificação para a Liga Europa.

A maior força do Vitória é a sua vibrante massa adepta  Fonte: ipressjournal.pt
A maior força do Vitória é a sua vibrante massa adepta
Fonte: ipressjournal.pt

Com um início de época repleto de indefinições e depois de uma pálida imagem dada na Supertaça (derrota diante do FC Porto, 3-0), o Vitória, tomando a espada do seu maior Conquistador e suportado pelos seus adeptos, acertou agulhas e foi à luta. Com uma aposta clara na formação e no jogador português, os principais reforços foram André Santos e Nii Plange (Sporting), Malonga (Monaco), Moussa Maazou (Étoile du Sahel) e Tiago Rodrigues e Abdoulaye (FC Porto), sendo que este último acabou por regressar, em Janeiro, ao clube de origem.

O Campeonato foi iniciado com resultados expectáveis, ao passo que, na Europa, as indicações eram positivas (vitória diante do Rijeka e empate em Lyon). Rui Vitória apostava nesta fase num claro 4-3-3, com um meio-campo rotativo e extremos bem abertos prontos a utilizar a sua velocidade (Malonga e Marco Matias) à procura de servir Maazou. O apuramento na Liga Europa acabou por fugir, consequência principal das duas derrotas às mãos do Bétis, ainda que em partidas em que o Vitória acabou, em termos de futebol jogado, por ser melhor. Ficam, no entanto, os resultados e os 5 pontos amealhados no Grupo I – de qualquer forma, o melhor desempenho das equipas portuguesas na competição.

O momento negativo da época haveria de chegar com o afastamento da Taça da Liga, numa eliminatória diante do Leixões. Com algumas peças mais estabilizadas (André Santos e Tomané) e perante uma fase de menor fulgor dos rápidos alas, Vitória experimentou um esquema próximo do 4-4-2 com Maazou e Tomané na frente atacante (foi, aliás, assim que venceu no Estoril).

Hoje a equipa parece ter voltado à base táctica incial (4-3-3), ainda que com alguns intérpretes diferentes, e, por isso, com uma dinâmica um pouco diversa. Com o regresso de Abdoulaye ao Dragão, o quarteto defensivo assenta em Pedro Correia, Moreno, Paulo Oliveira e David Addy, guardado por um seguro e competente Douglas. A este propósito, três notas – a defensiva vitoriana sofre, sobretudo, ao nível do jogo aéreo; Paulo Oliveira (central, 22 anos, produto da formação vitoriana) tem potencial para vir a ser um caso sério no futebol português; Addy continua a cometer os mesmos erros que cometia quando chegou a Portugal, nomeadamente ao nível do posicionamento e da (excessiva) impetuosidade que coloca em campo.

Paulo Oliveira. Aos 22 anos é o esteio da defesa do Vitória  Fonte: A Bola
Paulo Oliveira. Aos 22 anos é o esteio da defesa do Vitória
Fonte: A Bola

Para o trio do meio-campo, Rui Vitória tem apostado sobretudo em André Santos, André André e Crivellaro. Um tridente versátil e que não se atropela nas funções: André Santos é o vértice mais recuado e primeiro construtor de jogo; André André (ou Leonel Olimpio, como na Luz, onde caiu muito bem no espaço de Enzo Perez,) aparece como a ‘vassoura’ da equipa, possibilitando uma pressão sobre o adversário mais à frente (meio-campo menos expectante e mais pressionante) e tendo (ainda) pulmão e capacidade técnica para gerir a bola e dar apoio; o esquerdino Crivellaro é, por sua vez, a melhor noticia que este Vitória nos deu: pulando entre a equipa principal e a B, alto e elegante, assume-se hoje como o virtuoso do meio-campo vimaranense, com classe e qualidade de passe em doses consideráveis, faltando, quiçá, alguma intensidade e consistência ao seu jogo para chegar a outro patamar. Nesta equação, sobra ainda Tiago Rodrigues, elemento emprestado pelo FC Porto, com uma enorme qualidade de passe e visão de jogo, mas que, por ora, está tapado.

Finalmente, no atacante vimaranense, a acompanhar Marco Matias (rápido, incisivo e com bom poder de finalização, é um valor seguro) e Moussa Maazou (com um currículo interessante, o atacante do Níger destaca-se pela dimensão física e profundidade que oferece ao jogo da equipa, até mais do que pelos índices de concretização, item em que pode claramente melhorar), Rui Vitória tem optado por Barrientos. Actuando pela esquerda, o uruguaio tem permitido à equipa uma maior capacidade na manutenção e gestão da bola, assumindo-se como (mais) um médio e não tanto como um extremo/avançado, pensando antes em equilibrar do que em explodir pela ala; em suma, aproximando mais a equipa de um (falso) 4-4-2, dando-lhe critério e cérebro, mas menos velocidade e repentismo do que quando a preferência recai sobre Malonga ou Nii Plange. Resta ainda o menino Tomané – com o número 9 nas costas, cresceu muito desde a sua estreia na Supertaça; está hoje mais agressivo no ataque à bola e, consequentemente, mais preparado e dentro do jogo, tendo já contribuído com golos importantes na ausência de Maazou (mesmo quando o possante avançado regressou, não recuperou de imediato a titularidade, em função da boa resposta dada por Tomané).

Moussa Maazou. Uma ‘ave rara’ no futebol português  Fonte: Vavel
Moussa Maazou. Uma ‘ave rara’ no futebol português
Fonte: Vavel

Rui Vitória tem o enorme mérito de com (estes) parcos recursos ter montado uma equipa que, mais do que qualquer outra coisa, tem uma ideia de jogo. E – ainda mais relevante – os jogadores sabem dar-lhe corpo. O Vitória não é uma equipa exuberante mas é um conjunto que tendo vindo a evoluir desde o inicio da época, assoma agora mais sólido, estruturado e pragmático – a equipa apresenta-se organizada, raramente se desposiciona e tem a virtude de saber pressionar em bloco quando sente que o pode fazer (a este nível, foi melhor na Luz do que na 1ª parte diante do FC Porto, algo corrigido ao intervalo). Com bola, tenta sair a jogar apoiado mas não tem o constrangimento de, em situações de aperto, procurar o jogo aéreo e a perna longa do ‘farol’ Maazou e esticar o seu jogo.

É, actualmente, uma equipa de autor e que, percebendo as suas lacunas, tentou crescer em cima delas. A resposta que deu na 2ª parte diante do FC Porto é paradigmática: subindo a linha defensiva, ligando os seus sectores, pressionando de forma mais coordenada e compacta, com outros índices de atitude, apenas não venceu o tri-campeão por uma questão de centímetros. Na Luz, com outra capacidade de decisão de alguns dos seus jogadores, poderia também ter causado dissabores ao Benfica.

Confortável no 6º lugar, o Vitória vê o comboio da Europa perto. Sabe, no entanto, que as suas limitações estão também elas muito próximas: as segundas linhas do plantel não são mais do que o produto da (boa) formação e equipa B, estando ainda em fase de maturação. Luís Rocha, Josué, João Amorim e Hernâni são bons projectos de jogadores mas seria interessante para o (Rui) Vitória poder, por uma vez, evoluir em cima do consolidado e não, a cada novo Agosto, partir do zero. Na verdade, do zero nunca será – porque quem tem a cidade e as gentes de Guimarães por trás já parte em vantagem.

Sabe Mais!

Sabe mais sobre o nosso projeto e segue-nos no Whatsapp!

O Bola na Rede é um órgão de comunicação social de Desporto, vencedor do prémio CNID de 2023 para melhor jornal online do ano. Nasceu há mais de uma década, na Escola Superior de Comunicação Social. Desde então, procura ser uma referência na área do jornalismo desportivo e de dar a melhor informação e opinião sobre desporto nacional e internacional. Queremos também fazer cobertura de jogos e eventos desportivos em Portugal continental, Açores e Madeira.

Podes saber tudo sobre a atualidade desportiva com os nossos artigos de Atualidade e não te esqueças de subscrever as notificações! Além destes conteúdos, avançámos também com introdução da área multimídia BOLA NA REDE TV, no Youtube, e de podcasts. Além destes diretos, temos também muita informação através das nossas redes sociais e outros tipos de conteúdo:

  • Entrevistas BnR - Entrevistas às mais variadas personalidades do Desporto.
  • Futebol - Artigos de opinião sobre Futebol.
  • Modalidades - Artigos de opinião sobre Modalidades.
  • Tribuna VIP - Artigos de opinião especializados escritos por treinadores de futebol e comentadores de desporto.

Se quiseres saber mais sobre o projeto, dar uma sugestão ou até enviar a tua candidatura, envia-nos um e-mail para [email protected]. Desta forma, a bola está do teu lado e nós contamos contigo!

Filipe Coelho
Filipe Coelho
Ao ritmo do Penta e enquanto via Jardel subir entre os centrais, o Filipe desenvolvia o gosto pela escrita. Apaixonou-se pelo Porto e ainda mais pelo jogo. Quando os três se juntam é artigo pela certa.                                                                                                                                                 O Filipe não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

Subscreve!

Artigos Populares

Fechado: Arthur Cabral vai mesmo trocar Benfica pelo Botafogo por 15 milhões de euros

O Botafogo fechou a contratação de Arthur Cabral ao Benfica por 15 milhões de euros. Avançado brasileiro de saída da Luz.

Brighton perto de fechar alvo do Benfica por 47 milhões de euros

O Brighton está interessado em contratar Charalampos Kostoulas, jogador que já foi associado ao Benfica e pertence ao Olympiacos.

Presidente do Inter Milão confirma nome do novo treinador: «Tem o perfil certo»

O presidente do Inter Milão confirmou que Cristian Chivu vai ser o novo treinador do conjunto italiano, deixando o Parma.

Benfica goleia Braga e qualifica-se para a final da Primeira Liga de Futsal

O Benfica recebeu e venceu o Braga por seis bolas a uma e garantiu um lugar na final da Primeira Liga de Futsal.

PUB

Mais Artigos Populares

Imanol Alguacil com futuro em aberto e há uma equipa interessada

Imanol Alguacil deixou a Real Sociedad no final da última edição da La Liga. O técnico espanhol interessa ao Sevilha, também do campeonato espanhol.

Rafael Leão quer deixar AC Milan e internacional português tem preço definido

Rafael Leão quer abandonar o AC Milan no mercado de transferências de verão. Os italianos querem receber 70 milhões de euros pelo avançado.

Noruega aplica goleada à Itália para a qualificação para o Mundial 2026

A Noruega recebeu e venceu a Itália por três bolas a zero, num encontro válido pela terceira jornada da qualificação para o Mundial 2026.