A evolução ofensiva do modelo de jogo do Sporting de Rúben Amorim em 3 passos

    Sporting

    Rúben Amorim e a sua equipa técnica têm vários méritos no trabalho realizado no Sporting. Desde o futebol à comunicação, a influência do técnico nos leões é inequívoca e inigualável no que toca ao universo dos leões no novo século que já não é assim tão novo. Nenhum mérito tão grande quanto a capacidade de evoluir um modelo de jogo que, mesmo dando certo no primeiro ano completo do técnico em Alvalade, mudou muito desde então.

    Defensivamente é notória a influência da Atalanta de Gian Piero Gasperini, com quem o Sporting passou pesadelos durante 45 minutos na última temporada e que Rúben Amorim analisou bem de perto durante quatro jogos. Ofensivamente, são múltiplas as ramificações de alterações em nuances que tornam os leões a mais completa equipa em Portugal. É certo que o perfil dos contratados em muito o ajuda a explicar e que, hoje, o Sporting tem melhor plantel que em qualquer uma das temporadas anteriores. Certo é também que a abordagem dos leões no mercado tem sido minuciosa procurando alvos específicos precisamente pelo encaixe e, principalmente, potencial de evolução no modelo de jogo dos leões.

    Diante do Arouca, as evoluções mais significativas do ponto de vista ofensivo foram bem evidentes. A Liga dos Campeões e os confrontos mais frequentes contra adversários mais fortes do ponto de vista individual e coletivo permitirão uma ideia mais acertada e contextualizada (principalmente a nível defensivo), mas o arranque de época dos leões é entusiasmante, dominador e, em muitos momentos, avassalador. E há razões para o explicar.

    Variabilidade na construção

    Morten Hjulmand David Simão Arouca Sporting
    Fonte: Paulo Ladeira / Bola na Rede

    O Sporting é a equipa com mais recursos coletivos em Portugal na saída de bola. Desde logo porque, mesmo privilegiando uma saída curta e apoiada, tem na frente a figura de Viktor Gyokeres (presença determinante em todos os momentos em análise) que permite aos leões sair de forma mais direta através de uma bola longa procurando um duelo físico ou um ataque à profundidade do avançado sueco. Mas é desde trás que se notam as principais diferenças.

    A contratação de Zeno Debast, um central com inúmeros recursos no passe, transparece a tentativa do Sporting ganhar capacidade para sair sob pressão e trabalhar a bola desde trás, podendo projetar os alas e oferecendo a bola aos centrais para construir. De resto, e com características diferentes, o passe é também uma arma de Diomande e Gonçalo Inácio e um dos registos mais significativos na evolução de Eduardo Quaresma (ainda assim, mais desequilibrador em condução).

    A variabilidade é também dada pelas diferenças na construção que é feita a três ou a quatro, com um dos médios a influenciar a baixar para entre os centrais para permitir aos leões ganharem superioridade numérica perante a primeira linha de pressão. É interessante a explicação de Rúben Amorim que atribui aos jogadores a razão pela qual não é Morten Hjulmand, na teoria o primeiro médio, a baixar, mas sim Hidemasa Morita ou Daniel Bragança, na ausência do japonês. A cabeça e a inteligência na ocupação dos espaços e nos movimentos de trás para a frente para, mesmo partindo de posições mais baixas em campo, continuar a desequilibrar junto da outra área são a força principal do internacional nipónico que Daniel Bragança consegue sempre fazer esquecer.

    Conjugação de dois alas com um perfil ofensivo

    Jason Remeseiro Matheus Reis Sporting
    Fonte: Paulo Ladeira / Bola na Rede

    Se defensivamente a utilização de dois extremos como alas ainda vai dando algumas hesitações – no 4-4-2 dos leões, um dos alas baixa para a linha defensiva e fecha como lateral –, ofensivamente o Sporting ganhou mais imprevisibilidade pelos corredores, permitindo aos jogadores mais fortes no 1×1 partirem de posições mais recuadas para desequilibrar.

    A contratação de Maxi Araújo, um extremo que joga aberto com Marcelo Bielsa no Uruguai e faz da velocidade e da técnica em espaços curtos no drible as principais armas, é sinal de uma aposta determinada de Rúben Amorim em ter jogadores capazes de atacar o espaço, mas também definir em espaços curtos. A inteligência e maturidade de Geovany Quenda, que tem no drible e na mudança de velocidade armas tão fiáveis quanto o timing no passe ou no lançamento, também permitem ao Sporting ganhar ameaça pelos lados do campo. Os dois “reforços” juntam-se a Geny Catamo, muito forte de fora para dentro, aparecendo em zonas perto da área para definir e jogando também por fora, e a Nuno Santos como opções mais ofensivas para jogar por fora.

    O esquerdino português é o mais limitado dos quatro em espaços reduzidos, mas tem no pé esquerdo uma mais-valia que não fará Rúben Amorim abdicar do jogador. Quer no lançamento à procura da profundidade, onde cresceu nos últimos tempos, ao cruzamento, onde foi determinante, a nova versão dos leões dá mais critério ao jogo do Sporting. Diante do Arouca, até pela projeção de Tiago Esgaio, Nuno Santos conseguiu por diversas vezes superiorizar-se ao lateral e ganhar espaço pelo corredor. Além das opções de sempre, o Sporting ganhou mais uma, algo rara em Portugal e que desmitifica os (poucos) mitos que ainda resistem a associar uma formação com três centrais às cautelas no momento defensivo.

    O Sporting começou, de forma constante, a atacar o segundo poste. Além dos cruzamentos que procuram o ala contrário a entrar nesta zona e frequentemente mal defendidos (principalmente contra linhas de quatro), entrando mais um jogador na área criará sempre espaço. Se não for o próprio, que passa a estar ocupado e a ser uma ameaça, será outro. Também por isso, o Sporting tem tido mais sucesso não só no cruzamento largo como no passe atrasado. E, porque é importante, a presença agressiva de Viktor Gyokeres (pelas ruturas e capacidade de ganhar duelos no ar) volta a ser determinante também nesta evolução.

    Valorização do corredor central

    Francisco Trincão Sporting
    Fonte: Paulo Ladeira / Bola na Rede

    Pedro Gonçalves e Francisco Trincão estão a um nível estratosférico que só não chegou para convencer Roberto Martínez. Tirando o selecionador de Portugal serão muito poucos os que não reconheçam a brutalidade do arranque de época dos dois jogadores que fogem a qualquer nomenclatura tática ou indicação posicional que possa existir. Não são extremos, mas também não são médios. Jogam por dentro, nas costas do avançado, mas nenhum é um 10 puro ou beneficia sequer dessa função. Mas complementam-se na perfeição e estão a voar em 2024/25.

    De uma temporada para a outra, o posicionamento de Pedro Gonçalves, mas principalmente de Francisco Trincão, sofreu uma ligeira alteração. Os dois portugueses jogam mais por dentro, muitas vezes próximos um do outro e com dois padrões principais no seu jogo: ou procuram as costas dos médios, recebendo nas entrelinhas e beneficiando da proximidade para combinarem e ficarem de frente para a baliza, ou aproveitam os movimentos de aproximação de Viktor Gyokeres (fundamental para o jogo do Sporting evoluir) para atacar o espaço entre os defesas e receber na área.

    Jogando com a confiança que sempre lhe pareceu faltar ou, pelo menos, não abundar em demasia, o pé esquerdo de Francisco Trincão tem a capacidade não só de trabalhar a bola, tratando-a com a intimidade que esta merece, mas também a agressividade de procurar a baliza. Pedro Gonçalves é, e mil perdões à monstruosidade dos números e do trabalho de Viktor Gyokeres, o melhor jogador em Portugal. Aos números juntou a maior influência no jogo, também pelo melhor enquadramento e pela inteligência nos posicionamentos. Contra o Arouca, por exemplo, beneficiou com o enquadramento de Daniel Bragança pela meia esquerda, concentrando a atenção do extremo do Arouca, e permitindo a Pedro Gonçalves receber mais por fora, longe da marcação adversária.

    Ainda faltarão testes mais exigentes (o Sporting vai receber e partir em clara inferioridade nos jogos com Manchester City e Arsenal) e detalhes a afinar. Porém, e podendo o tempo mostrar o contrário, o Sporting que arrancou 2024/25 é uma das equipas que melhor e mais inteligente futebol pratica em Portugal nos últimos anos. A nível individual e coletivo, porque é este quem beneficia o rendimento de cada jogador.

    BnR na Conferência de Imprensa

    Bola na Rede: Pensando no modelo de jogo do Sporting, há três aspetos onde é notória a evolução relativamente às últimas temporadas: a variabilidade na construção com um médio a entrar entre os centrais, a utilização de dois alas mais ofensivos resultando numa procura criteriosa do 2o poste em situações de cruzamento e a presença muito interior dos extremos, o Pote e o Trincão, procurando receber entre linhas ou entrar no espaço entre centrais, aproveitando o posicionamento do Gyokeres. É por estas mudanças que se explica o rejuvenescimento do Sporting de época para época e sente que o aperfeiçoamento dos detalhes a nível ofensivo é caminho para o Sporting continuar a ser tão dominante em campo?

    Rúben Amorim: Acho que até um pouquinho mais defensivamente. Ofensivamente também, temos de melhorar em certos aspetos. Nestes tipo de jogos de blocos baixos, estamos muito melhores, também porque temos jogadores mais fortes nos corredores como disse. Antigamente, com certas características, dávamos a bola fora e os adversários não tinham uma pressa muito grande de chegar lá. Fechavam sempre o meio, sabiam que os jogadores mais perigosos no 1v1 não estavam fora e agora estão. Isso dificulta muito. As equipas técnicas melhoram, a ideia de jogo cresce, pensamos noutras coisas mas o que melhorou foi a qualidades dos jogadores. O Francisco Trincão joga numa posição perfeita para ele, não é bem um ala de linha, não é bem um 10, é algo entre aquilo. Está perfeito ali a capacidade como ele vira e carrega para cima. Depois o Viktor. Somos a equipa mais pressionante e a equipa que está sempre por cima do jogo, mas quantas vezes o Arouca conseguia trocar a bola, empurrar-nos um pouco para trás e nos lançávamos o Viktor Gyokeres e era mais um problema para o Arouca. A equipa está mais forte, mais velha digamos assim. A nossa ideia vai maturando, mas o principal ponto é a qualidade dos jogadores.

    Bola na Rede: O Arouca tentou muitas vezes projetar o Tiago Esgaio pela direita para dar grande mobilidade e raio de ação ao Jason e ao Ivo Rodrigues, para receber no espaço ou nas costas dos médios, mas depois do perigo causado nos minutos iniciais, sentiu mais dificuldades. O que sente que falhou na construção para ter superado mais vezes a pressão do Sporting?

    Gonzalo García: Sinto que quando jogas contra uma equipa boa e crias perigo, porque nós criámos perigo, há uma jogada que é chave. Uma bola que o Gyokeres recebe perto da bandeirola de canto, se vira e ultrapassa cinco jogadores nossos. Isso cria uma sensação de medo e começámos a jogar mais longo. Isso passa-se por isso e porque o Ivo e o Jason estavam muito altos e, ao estar tão altos, estavam emparelhados com os centrais. Aí é difícil ganhar-lhes porque são fortes e rápidos. Ao princípio era mais fácil ganhar-lhes porque estavam mais baixos e em posição de receber. O David Simão encontrou vários passes diagonais que o Jason recebeu e foram perigosos. Mas, estando 10 metros acima, já não conseguia receber estas bolas. A ideia não era tanto atacarem o espaço, mas jogar por dentro e deixar o Tiago Esgaio, o Dante e o Morozov atacar o espaço. Isso correu bem até um momento em que deixou de correr. Por isso falamos de disciplina. Mas jogar contra uma equipa tão boa… Estivemos cerca de 70 minutos na partida e na segunda parte o Sporting não criou tanto até ao golo de penálti. Não quero falar muito, mas é a segunda vez que se passam coisas estranhas com o VAR. Eu não vejo a mão, não sei se alguém a vê, mas eu não. Mas não foi esse o motivo da derrota. Tenho de elogiar, eles são muito bons, têm um treinador estupendo e jogam muito bem futebol e nós só tentamos.

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