A importância da variabilidade | Sporting

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Rui Borges foi clínico após o jogo e a vitória do Sporting. É a variabilidade que o deixa feliz. É também a partir desta variabilidade, a capacidade de diferenciar ações e de trazer ideias novas constantemente dentro de um mesmo jogo, que o Sporting construiu a sua versão dominadora de 2025/26.

Se Viktor Gyokeres foi a figura central da reta final da temporada do Sporting, pela sua predominância na construção de um modelo de jogo que dependeria sempre do que o sueco fosse ou não fosse capaz de fazer, é o coletivo quem brilha no arranque da temporada. O Sporting tem mais bola e é, em ataque posicional, a melhor equipa em Portugal neste momento. Contra o Moreirense, mesmo que tenha sido preciso esperar até aos últimos minutos para celebrar, ficou mais uma prova da capacidade dos leões construírem situações de golo e de finalização.

Antes do Sporting, é preciso dar uma palavra ao Moreirense e a Vasco Botelho da Costa. O jovem treinador construiu a carreira a pulso e chegou lá acima com méritos indiscutíveis e uma proposta de jogo que valoriza a bola e o futebol português. Em Alvalade, os cónegos foram competitivos até aos 76 minutos, a partir de uma estratégia clara que foi sendo readaptada ao longo do jogo, consoante as dificuldades da equipa em campo e os méritos em campo. Que todos os problemas do futebol português fossem o jogo do Moreirense.

Vasco Botelho da Costa Moreirense
Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

Sobre o Sporting, é inegável o mérito que os jogadores têm na procura do espaço entrelinhas. Com o Moreirense a montar-se numa espécie de 5-3-2 com Cédric Teguia, como habitual, a fechar a linha de cinco, e Kiko Bondoso a fechar a linha média, o espaço chave estava nas costas dos médios, nomeadamente de Stepanovic, o jogador da cobertura. Sempre que os leões chegaram aí, conseguiram criar perigo.

Para isso, o Sporting foi capaz de partir os jogadores sem partir o jogo. Rui Borges meteu Giorgi Kochorashvilli a descer para ver o jogo de frente e dar liberdade aos centrais para conduzir e definir. Neste capítulo, Gonçalo Inácio e, especialmente, Zeno Debast, são exímios. O belga, para lá dos duelos aéreos diante de Guilherme Schettine – um nome importante no Moreirense pela capacidade de enquadrar colegas e acionar o terceiro homem – mostrou-se através do passe vertical. Entre todos os médios com toque de bola em Portugal, nenhum tem tanta qualidade como o defesa belga neste quesito.

Depois, o Sporting tem capacidade para atuar entrelinhas. Quer frente a blocos mais baixos, quer perante linhas mais subidas, Pedro Gonçalves (que tem também uma dimensão mais impositiva a procurar diagonais mais curtas) e, especialmente, Francisco Trincão, o esbelto cisne que abraçou a graciosidade no seu jogo em Alvalade, resolvem problemas.

Francisco Trincão Francisco Domingues Sporting Moreirense
Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

Há, nesta fase da carreira de Francisco Trincão, uma aura que imana confiança e transcendência. O extremo já não desliga do jogo nos momentos mais complicados e delicados; pelo contrário, abraça o caos para brilhar. O internacional português não se esconde quando mais é preciso e o seu jogo virou uma inevitabilidade. Contra o Moreirense, o açúcar que trouxe nos pés atraiu pés alheios como formigas desesperadas a tentar chegar a um pote de mel e conquistou duas grandes penalidades. O Sporting deixou de depender de um jogador, mas se tal necessidade surgir, Francisco Trincão dirá presente.

Além desta dinâmica de procura das entrelinhas, o Sporting vai valorizando a microsociedade à direita. A dupla Vagiannidis – Quenda tem todo o potencial para se destacar ao longo da época. Funciona na lógica inversa a Fresneda – Geny Catamo, com o lateral a projetar e o extremo a aparecer mais por dentro, no espaço para o passador criativo. Os dois jogadores têm facilidade em permutar posições e em envolver-se criativamente, para lá da capacidade física e técnica para superar adversários diretos.

Geovany Quenda Sporting
Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

À esquerda, Ricardo Mangas ficará sempre algo curto como titular indiscutível, mas Maxi Araújo é um lateral de impacto. Chega de trás para a frente, consegue atuar também mais por dentro e tem ganho capacidade goleadora no Sporting, mesmo partindo mais recuado. Tem agressividade no seu jogo com bola e outro acerto no cruzamento que o lateral esquerdo, uma solução interessante para a constituição de plantel.

Depois, há ainda uma capacidade de fazer trocar características no jogo do Sporting. Alisson Santos entrou ligado nos últimos jogos e, a partir de posições mais exteriores, deu golos. Melhorando a definição, pode crescer como agitador e aproveitar a lacuna de extremos no plantel do Sporting. Hidemasa Morita, um médio com maior abrangência que Kochorashvili, também dá outros recursos ao jogo do Sporting e o próprio João Simões tem outros recursos na chegada à área e nos movimentos de infiltração para somar protagonismo.

Luis Suárez Sporting 2
Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

A juntar à dinâmica coletiva, o Sporting ganhou envolvimento e jogo associativo a partir do avançado. Luis Suárez não dará as soluções a 50 metros da baliza adversária que Viktor Gyokeres deu ao longo de dois anos e também não terminará no 15.º lugar da Bola de Ouro e com a Bota de Ouro nas suas mãos devido ao instinto nato para finalizar. Ainda assim, num Sporting que valoriza mais a bola, os atributos do colombiano na ligação são fundamentais.

Curiosamente, diante do Moreirense, ganhou destaque como jogador capaz de se movimentar na profundidade (com movimentos mais curtos), retirando jogadores de posição e permitindo atacar a baliza. Viveu um jogo desinspirado na relação com as redes e, também por isso, só aos 76 minutos se gritou golo em Alvalade. Ainda assim, há cada vez mais sinais de que Luis Suárez é, de facto, o nome ideal para o Sporting. Tem, à primeira vista, uma espécie de clone em Fotis Ioannidis, que chegou mais tarde, mas também se integrará em Alvalade. Há curiosidade para ver se, para lá dos primeiros lampejos, há capacidade de jogarem juntos e se há, de facto, uma similaridade de características tão grande como se perspetiva. Por agora, fica a certeza que se respiram ares renovados no Reino do Leão.

Rui Borges Sporting
Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

BnR na Conferência de Imprensa

Bola na Rede: Quer contra blocos mais baixos, quer contra blocos um bocadinho mais subidos, o Sporting tem conseguido, esta temporada no geral e hoje em particular, chegar muitas vezes às entrelinhas, às costas dos médios adversários para, com vários jogadores nessa zona, rodar e chegar a zonas de finalização. Por um lado, qual a importância desta zona, nas costas dos médios adversários, para o jogo coletivo do Sporting, e por outro, qual a importância de ter jogadores tão fortes com a bola no pé, no passe, para fazer a bola chegar aqui através de passes verticais?

Rui Borges: É muito importante termos jogadores diferenciados em pouco espaço. Temos essa facilidade e capacidade com o Pote, o Trincão, mesmo o Geny e o Quenda, de forma diferente, com o Morita, que também anda num quebrado de linhas mais curto e de repente já está mais alto. Felizmente temos essa capacidade, mas também temos a capacidade de ter centrais que conseguem ver longe. Essa variabilidade deixa-me feliz e é isso que eles vão percebendo também. Temos de ter muita variabilidade no nosso jogo. Jogo curto, jogo longo, jogo curto, jogo longo, expor o adversário a coisas diferentes, movimentá-lo de forma diferente, haver personagens diferentes nas marcações. É importante para ludibriar o adversário nalguns momentos, não verem o mesmo jogador na posição e verem outro porque às vezes focam-se nas referências. Toda essa variabilidade do jogo é importante. Feliz por isso. Fazemos o 3-0 a buscar o que temos de bom. Tinha saído o Pote, entrou o Alisson e a equipa percebeu quem entrou, o que nos dá e que faz movimentos diferentes do Pote. Essa variabilidade é algo que é trabalhado toda a semana, um conhecimento mútuo deles diário dentro da ideia de jogo. Têm de perceber quem está no espaço e na zona e qual a individualidade que lá está, o que quer, o que precisa e de que forma é que ele dá mais à equipa e que o conseguimos pôr o individual a valorizar o coletivo. Isso deixa-me feliz porque é esse o jogo que eu gosto, de variabilidade. Eles são capazes de fazer isso e é bem demonstrativo contra blocos médios ou baixos a capacidade que temos tido para criar oportunidades de golo.

Bola na Rede: Já destacou o lado estratégico ao intervalo, quando acaba por fazer a equipa baixar um bocadinho o bloco pelas dificuldades na pressão. Num jogo em que a manta é sempre demasiado curta, e para tapar um lado é preciso destapar o outro, como avalia esta decisão tendo em conta que o Moreirense acabou por ter mais dificuldades em sair para o ataque em acionar o Schettine para este acionar um terceiro homem como aconteceu na primeira parte?

Vasco Botelho da Costa: É um bocadinho o que disse. Temos que fazer escolhas, porque o facto de não estarmos a conseguir ajustar a pressão na primeira parte fazia com que inicialmente parecesse que até estávamos mais altos, mas acabássemos por ser empurrado para trás porque o Sporting estava com facilidade em entrar na nossa linha defensiva. Na segunda parte controlámos muito melhor a saída do Sporting, mas tivemos de baixar um bocadinho porque na primeira parte tentámos pressionar todos os jogadores do Sporting e na segunda parte acabámos por rejeitar a pressão ao Inácio, deixar a bola descoberta e só pressionar quando ele tomasse uma decisão. Isso, obviamente que nos empurrou um pouco para trás. Por um lado está relacionado com o facto de não termos tanta bola, mas por outro também tem que ver com questões físicas. Bem ou mal, algumas das substituições que fizemos foram por questões físicas. A verdade é que há coisas que não controlamos e temos jogo sábado. Hoje vamos fazer uma longa viagem, chegar às 5 da manhã e amanhã não conseguimos treinar porque eles precisam de ficar em casa a descansar. A nossa recuperação costuma ser no dia seguinte e vai ser no dia +2, no dia +3 vamos ainda muita gente a recuperar, grande parte do plantel – os nossos velhinhos como costumo dizer. Já estamos na véspera do jogo e temos de nos preparar para dar resposta. O lado físico tem muita influência, principalmente num jogo desta dimensão.

Diogo Ribeiro
Diogo Ribeirohttp://www.bolanarede.pt
O Diogo é licenciado em Ciências da Comunicação, está a terminar o mestrado em Jornalismo e tem o coração doutorado pelo futebol. Acredita que nem tudo gira à volta do futebol, mas que o mundo fica muito mais bonito quando a bola começa a girar.

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