A notoriedade e os que não perdem a bola

escolhidificil

“Espero siempre la mejor versión de cada jugador. El que sea. Vosotros os fijáis en los goles, yo en algo más que los goles

As palavras são de Luis Enrique, técnico do Barcelona, depois do encontro frente ao Athletic em que o Barca venceu por 2-0 e Messi ficou sem marcar. Na altura, dizia o treinador espanhol que estava satisfeitíssimo com a exibição do argentino porque se tinha apresentado a grande nível, embora sem fazer golos. E Luis Enrique não é parvo nenhum, pois não?

É possível Messi – ou qualquer outro jogador – apresentar-se a um nível mais alto num jogo em que não marca golo nenhum do que numa outra partida em que faz dois ou três golos? Muitos dirão que não, mas claro que sim. O golo é apenas o momento de maior notoriedade na partida e, por consequência, aquele de que mais se fala, que aparece nos resumos e que acaba por sentenciar um jogador à aclamação ou deterioração da sua imagem aos olhos de adeptos e imprensa. Mas se a recuperação da bola ou o início da jogada que não entram no resumo não existissem, não haveria golo. A ideia é simples mas regularmente esquecida pelos amantes do futebol. O mesmo se aplica às movimentações ofensivas dos avançados ou médios que são muitas vezes esquecidas, mas cruciais. No Sporting, Fredy Montero é quem mais sai prejudicado por esta forma redutora de avaliar os futebolistas.

A equipa leonina tem-se apresentado, do meio campo para a frente, com elementos criativos, que procuram todos eles uma forma comum de jogar e pensar. Toque maioritariamente curto, maior procura de espaços interiores, muita movimentação sem bola e regular oferta de linhas de passe diversificadas ao portador da bola. A excepção é Slimani. O argelino, muito acarinhado pelos adeptos leoninos, tem características opostas às referidas, tendo no seu jogo aéreo o seu ponto mais forte e um dos poucos em que é realmente bom. Como se explica a adoração da massa adepta pelo seu ponta-de-lança? Ele peca nos momentos de menor notoriedade (embora em quase todos eles!). No banco está Montero, que é tudo aquilo que se procura na equipa de Marco Silva.

Montero e Slimani são dois avançados de características opostas  Fonte: ojogo
Montero e Slimani são dois avançados de características opostas
Fonte: ojogo

Então, como avaliar um jogador? “The art is to play the ball so that the receiver can go to action effectively“, dizia Johan Cruyff. Guardiola, por seu lado, diz que o melhor jogador é o que nunca perde a bola. Em tanto uma como outra definição, quem é o que (muito) mais se aproxima do pedido? Fredy Montero, pois claro. Mas sair da zona de conforto, no meio dos centrais, e oferecer uma linha de passe – muitas vezes decisiva para o desenrolar da jogada, até quando a bola acaba por não lhe ser concedida a si – não aparece nos resumos e não encanta os adeptos. Pelo contrário, Slimani não só não oferece novas soluções como é incapaz de dar seguimento a grande parte das bolas que lhe são endereçadas, tornando-se ora um peso morto na dinâmica da equipa, ora um jogador incapaz de dar continuidade aos ataques do Sporting. Qualquer olhar mais atento constata este facto.

A falta de unanimidade nesta matéria deve-se depois à outra face que divide os dois avançados: devido à sua agressividade, porte físico e capacidade de cabeceamento, Slimani é um jogador que se coloca em evidência nos momentos de maior notoriedade com muito mais facilidade do que Montero. O colombiano é igualmente importante na altura da finalização, mas privilegia a sua inteligência e leitura de jogo dentro da área para aparecer, como ontem frente ao Penafiel, em posições de golo. Quantos pensaram ontem que Slimani nunca faria o golo que Montero fez? Poucos, porque o essencial no golo é a leitura do 10 do Sporting que lhe permitiu antecipar a oportunidade. E essa competência oferece muito menos notoriedade do que a agressividade no cabeceamento, por exemplo.

Dirão alguns que a maior tarefa dos avançados é fazer golos. Eu acho que é aproximar a equipa do golo. Quer seja marcado por eles, ou não.

Vídeo da autoria do blog Sporting Visto Por Nós

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Adepto das palavras e apreciador de bom Futebol, o João deixou os relvados, sintéticos e pelados do país com uma certeza: o futebol joga-se com os pés mas ganham os mais inteligentes.                                                                                                                                                 O João não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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