Em cima de areia não se constroem arranha-céus

sexto violino

Conceber uma obra de construção civil, qualquer que ela seja, é muito mais do que pura e simplesmente passar para a realidade uma ideia que existe apenas no papel. Há vários passos a dar antes disso: é preciso estudar o terreno, pedir a opinião de peritos para saber se e como é possível construir, decidir quais as fundações, proceder à terraplanagem, etc. É por isso que não há – ou não deveria haver – grandes arranha-céus construídos na extremidade de dunas costeiras. É necessário solidez e estabilidade, e isso só se consegue com uma construção consciente, planificada e faseada. É também por isso que existe a expressão “não se constrói uma casa a partir do telhado”. Ora, estas premissas são aplicáveis a outras áreas da vida e, infelizmente, o Sporting esta época parece tê-las desprezado – hoje em dia há volume ofensivo mas o sector mais recuado está em estilhaços.

O mal não é de agora, e o último jogo nem sequer foi o caso mais grave. Desde bem cedo que a dupla Maurício-Naby Sarr deu dissabores ao clube. Vamos por partes: o central brasileiro já tinha mostrado que não era um jogador extraordinário mas, em abono da verdade, a dupla com Rojo na última época funcionou bastante bem. O Sporting foi uma das melhores defesas do campeonato, não só em termos de números mas também a nível de segurança, processos e rotinas. Em termos individuais, a temporada do brasileiro não ficou a dever nada à do argentino, embora este último tenha terminado a época em crescendo. No entanto, este ano Maurício provou aquilo de que muitos já suspeitavam: a sua forma depende muito da fiabilidade do outro central e a sua capacidade para liderar uma defesa é baixa. Não tenho nenhum prazer em dizê-lo mas, actualmente, não há um jogo em que não prejudique a equipa.

Falando de outros intervenientes, como é que um clube que no ano passado tinha Marcos Rojo este ano tem Naby Sarr? Neste capítulo há pouca margem para dúvidas: a direcção do Sporting foi apanhada desprevenida e não previu nem a saída do argentino nem a de Eric Dier. O que é estranho, porque Rojo fez um óptimo mundial, foi vice-campeão do Mundo e era óbvio que um clube como o Sporting teria de o vender; quanto a Dier, estranha-se o desconhecimento da tal cláusula que obrigava o clube a vendê-lo a emblemas ingleses caso estes oferecessem uma determinada quantia. Bruno de Carvalho e Inácio estavam convencidos de que seria possível manter os dois jogadores, quando na realidade ficaram sem nenhum.

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Maurício e Naby sarr têm sido um quebra-cabeças para o Sporting

É impossível olhar para esta equipa do Sporting e não imaginar Rojo ou Dier no eixo defensivo. Tanto um como outro, ao lado de Paulo Oliveira, seriam o complemento ideal para um plantel cuja evolução tem sido notória e que conta agora com a liderança e o primor técnico de Nani. Mas, mesmo com a saída dos dois defesas, não teria sido possível contratar um central mais capaz? Sarr até pode melhorar no futuro, mas o que importa é o presente. Se se assume uma candidatura ao título, tem de se apostar em jogadores de hoje e não nas promessas de amanhã. O francês será até quem tem menos culpa, mas as suas exibições chegaram a um ponto em que nem ele nem o Sporting beneficiavam com a sua titularidade – e Marco Silva, bem, tirou-o da equipa.

Mas o problema é que Maurício neste momento não está melhor. E o Sporting sofre. Os centrais (leia-se Maurício na grande maioria dos casos) abrem auto-estradas ao centro, não conseguem acompanhar os adversários em velocidade, perdem bolas aéreas, constroem o jogo de forma atabalhoada e entram em pânico com grande facilidade. Convém, claro, não esquecer as recentes exibições medíocres de Cédric, bem como as dificuldades que Jonathan tem sentido no seu flanco. A defesa é, em suma, típica de uma equipa de meio da tabela.

O Sporting arrisca-se a sofrer golos a qualquer altura de qualquer jogo, pelo que o bom trabalho que o meio-campo e o ataque desenvolvem na construção de jogadas de perigo é constantemente sabotado pelo sector mais recuado. Patrício tem sido mais vezes posto à prova do que um guarda-redes dos distritais numa eliminatória da Taça contra um grande. Toda a época do Sporting está dependente, portanto, da tal superfície arenosa que pode ceder a qualquer momento. E, se esta ainda não caiu em definitivo, já abanou (e de que maneira!) vezes mais do que suficientes. Assim, não há candidaturas ao que quer que seja.

Note-se que, no que toca a buracos defensivos, curiosamente o jogo de Guimarães nem foi dos piores. Toda a equipa entrou letárgica e letárgica saiu. Não há segundo golo irregular, por muito que tenha sido o seu efeito psicológico na equipa, que justifique uma exibição tão fraca. Mas o Vitória – e digo isto sem querer tirar ao adversário o mérito de um triunfo incontestável – apenas precisou de ir duas vezes com perigo à área leonina para marcar dois golos. E o que mais me preocupa é que, caso os intervenientes na defesa não mudem urgentemente, estas situações voltarão a acontecer.

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Uri Rosell pode ser uma boa solução de recurso para o eixo da defesa, mas a ida ao mercado é obrigatória

Como, para cúmulo, a exibição de Ramy Rabia pela equipa B foi anedótica e não perspectiva nada de bom, exige-se uma ida ao mercado quanto antes. Eu até costumo ser céptico relativamente a quem diz que se devia apostar nos centrais da equipa B e dos juniores só pelo facto de serem portugueses e da Academia, mas cheguei a um ponto em que acho que qualquer Tobias Figueiredo faria melhor figura do que Maurício e Sarr.

Na quarta-feira há jogo decisivo com o Schalke. Sinceramente, e sem querer parecer arrogante, daquilo que já vi dos alemães diria que o principal adversário do Sporting vai ser o nosso próprio eixo defensivo. E sou sincero: depois de todos os sustos que já apanhámos, dou por mim a pensar se Uri Rosell não seria quem, juntamente com Paulo Oliveira, assegura a posição de central de forma mais serena. O catalão vem da escola do Barcelona e parece ter alguma inteligência, sentido posicional e certeza no passe. Longe de ser a situação ideal, já são características que, por si só, o colocam a ganhar 4-0 a Maurício e Sarr…

De qualquer das formas é urgente atacar o mercado. Não há adversário que não passe por esta defesa, e o Sporting não pode perder mais tempo. O trabalho de uma época não pode ser posto em cheque devido a um sector defensivo feito de areia, que não aguenta o resto da equipa. A continuar assim, o edifício que Marco Silva tem tentado construir corre o risco de desabar. E é pena, porque o resto da equipa tem qualidade para fazer uma época muito interessante.

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O João Sousa anseia pelo dia em que os sportinguistas materializem o orgulho que têm no ecletismo do clube numa afluência massiva às modalidades. Porque, segundo ele, elas são uma parte importantíssima da identidade do clube. Deseja ardentemente a construção de um pavilhão e defende a aposta nos futebolistas da casa, enquadrados por 2 ou 3 jogadores de nível internacional que permitam lutar por títulos. Bate-se por um Sporting sério, organizado e vencedor.                                                                                                                                                 O João não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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