Há uns dias atrás, Alvalade teve o prazer de receber um jogo da seleção nacional de futebol. Como esperado, foi um momento de festa em que, jogadores de várias equipas, e mesmo de origens diferentes se juntaram para defender as cores da bandeira nacional que todos devemos apoiar, mesmo que possamos não concordar com uma ou outra opção. Mas como opções são pessoais, é normal que cada um tenha as suas, podendo diferenciar das demais. Podemos discordar, mas respeitar.
Assim, ainda que muitas vezes o Sporting se tenha sentido injustiçado com muitas opções de quem representa a Federação Portuguesa de Futebol, optou por acolher de braços abertos a “equipa de todos nós” e quem a integrava no momento.
Ainda que possamos aceitar uma opção de uma terceira entidade, não quer dizer que concordemos, e não tenhamos o direito de a contestar. É assim em qualquer estado de direito, e ainda que o futebol seja tratado como um “arquipélago independente” dentro do próprio estado, está inserido numa democracia, pelo que tem também que aceitar as opções de quem contesta.
Os portugueses que estiveram em Alvalade deslocaram-se para apoiar uma equipa. Se uma parcela desses lusitanos não gostou de determinados actos ou decisões de um atleta que esteja inserido nessa mesma equipa, está no seu direito de contestar.
Se não fosse assim, então o presidente da federação também não teria o direito de contestar a atitude de quem decidiu assobiar um (ou mais) jogador convocado para esse jogo. Ou só alguns é que têm direito de ter as suas próprias opções sem contestação?
Portanto, podemos também contestar o facto do presidente da seleção que foi jogar a Alvalade venha mostrar indignação pela indignação de outros. Porque eu não vi ninguém faltar ao respeito a ninguém. Se assobiar se tornar um acto indigno, estaríamos num estado de indignação constante.
Eu só não entendo é porque alguém com tamanha responsabilidade no universo futebolista se preocupe com algo que pode afectar “apenas” o psicológico de um jogador ao ponto de fazer um comunicado, e no que toca a processos que afectam todo o universo do futebol luso nem uma linha. Prioridades. Opções. Cada um fica com as suas.
Quanto ao atleta em questão, eu não o assobiaria uma vez que estaria a dar importância a algo que não o é (e porque assobiar à noite atrai coisas más), até porque se ele considerou irrelevante o facto de poder dar uma mais-valia ao clube que o formou, preferindo favorecer o “seu clube”, demonstra a irrelevância que devemos sentir relativamente à sua pessoa. Ao assobiarem, apenas demonstraram que ele vos afectou e ainda vos afecta. No fundo só lhe estão a alimentar o ego.
Pessoalmente eu agradecer-lhe-ia a ajuda que nos deu na conquista de mais um campeonato, a ele e a todos os que jogaram com ele nesse ano, e cada um segue a sua vida, tendo cada qual que viver com as suas opções e respectivas consequências.
Durante a transmissão do jogo o comentador disse que se o Sporting não o “queria”, o jogador não podia ficar sem jogar. Acho que quem disse isto, ao tentar justificar a decisão, nem se apercebeu que estava a menorizar o atleta. Ao dizê-lo daquela forma, só deu a entender que, não sendo o seu atual clube, ninguém lhe pegaria. É o que temos. Mas como disse alguém um dia: “Quem faz de tudo para se mostrar inteligente, denota em si mesmo uma falta de inteligência. Quem é, é.”
De qualquer forma, se o jogador ficou afetado com o ambiente menos amistoso do jogo, com certeza estará agora muito mais confortado com tanto amor recebido de todos os quadrantes. Aliás, tem que se sentir amado porque nunca vi tanta gente a defender um jogador por cinco minutos de apupos.
No fim de contas, se não fossem os que sibilaram, ele talvez nunca chegasse à conclusão que é tão querido. Talvez lhe tenham feito um favor. Talvez, no fundo, tenha sido um acto de amor (há quem assobie para elogiar). Há que ver o copo meio-cheio.
E como já referi antes, todos os que estão a gerar esta onda de falatório e comunicados, também se vão pronunciar sobre os processos de corrupção que estão a decorrer no futebol português, ou vão assobiar para o lado? Olhem que assobiar pode ferir susceptibilidades. Ah, já sei… “Está em segredo de justiça.”
Mails, Vouchers, toupeiras, apitos azuis e vermelhos, viagens ao Brasil, fruta… assuntos que pouco importam. O importante é os maus tratos psicológicos ao jogador… Ou se calhar isto é só mais um pretexto para desviar atenções do que interessa.
E quem se vai sentir triste com isto é o Rafael Leão que entrou, foi assobiado e ninguém o apoiou em nenhum comunicado. Oh leão, estudasses… ou devias ter escolhido melhor o clube para onde ir. Para se estar em determinados comunicados tem de se pertencer a um grupo muito restrito de determinadas cores e simbologias… e ainda por cima tens “Leão” no nome. Tens tudo contra ti. Nunca vais ter este tipo de privilégios, a menos que arrepies caminho e escolhas as cores certas.
Entretanto, vamos continuando à espera que quem gere o país e o futebol deixem de gastar o seu latim com pormenores, e decidam resolver os “pormaiores”.
“Como o bramido do filho do leão é a indignação do rei; mas, como o orvalho sobre a erva, é a sua benevolência.”
