Twins (Irmãos Gémeos) é um filme de comédia americano, lançado em 1988, produzido e dirigido por Ivan Reitman, onde Schwarzenegger e Danny DeVito representam a história de um homem calmo, sereno e fisicamente “perfeito” que procura pelo seu irmão que até então desconhecia ter. Quando o encontra, apesar de serem dois opostos – não só morfologicamente – ambos vão-se tolerando ao ponto de se tornarem uma dupla digna de realizarem missões e tarefas quase impossíveis de cumprir.
É difícil não transpor este cenário para a realidade futebolística quando observo o gigante Bas Dost e o pequeno Podence em campo, lado a lado. Dois corpos antagónicos, que provavelmente nunca imaginariam jogar juntos, mas que pensam o jogo ao mesmo nível. O modo quase bizarro como Podence salta para as costas de Bas Dost em cada golo, que nos faz quase duvidar de questões tridimensionais, mas revela-se depois numa colateral harmonia no relvado, que nos faz esquecer qualquer questão fisiológica.

Fonte: Sporting CP
Na partida frente ao Aves, na primeira jornada do campeonato, Jesus não quis sentar Adrien nem Bruno Fernandes, e acabou por abdicar da posição de segundo avançado, dando consistência ao miolo com três médios organizadores, deixando Bas Dost isolado na frente. O problema – e provavelmente o timoneiro leonino já o imaginava – é que isso resultou no alemão isolado numa ilha tática, em que não havia ninguém próximo para o compreender. Bruno Fernandes tem uma leitura de jogo e uma qualidade técnica inquestionáveis, mas não foi moldado para receber o jogo de costas para a baliza e romper em velocidade quando for necessário. O médio ex-Sampdória encaixa muito melhor quando recebe a bola e vê o jogo… desde trás. Quando Podence entrou no decorrer da segunda parte, já a vinte minutos do fim, Bas Dost passou de um corpo “estranho” em campo para quase fazer o gosto ao pé (depois de uma desmarcação de…. Podence) que só não realizou porque falhou um (fácil) domínio de bola.
Alan Ruiz também sabe ocupar os mesmos espaços. O argentino sabe receber e jogar de costas para a baliza, tem um pé esquerdo que lhe dá tudo que ele pensa, mas falta-lhe depois (até quando) a intensidade e o ritmo necessários para ser uma opção confiável durante toda a partida. Doumbia, por outro lado, tendo em conta os seus índices físicos, torna-se ainda impossível de percepcionar qual pode ser a sua utilidade nessa posição.
É, portanto, sob esta equação que Jorge Jesus terá que encaixar todos os seus processos para o ataque organizacional do Sporting. Bas Dost é um monstro em forma de avançado, mas precisa de quem leia o jogo com os mesmos olhos. Mesmo com 50 centímetros de diferença. E o irreverente Podence, claramente mais rápido que Danny DeVito, parece-me ser, de momento e de longe, a melhor opção.
Foto de Capa: Sporting Clube de Portugal