O momento caótico do Sporting

10 de Novembro de 2024. O Sporting desloca-se a Braga depois de uma vitória sensacional (4-1) contra o Manchester City de Pep Guardiola, considerada uma das melhores equipas do mundo. 

A equipa do Sporting respira confiança, é sem dúvida uma das equipas em melhor forma da Europa e esse jogo da Liga dos Campeões, terminou com os adeptos do Sporting a despedirem Rúben Amorim de forma apoteótica. Esta foi uma imagem raramente vista tendo em conta que Amorim “abandonava” a equipa a meio de uma época, mas um gesto que expressa bem o reconhecimento dos adeptos em relação aos feitos alcançados pelo técnico português durante os cinco anos ao leme da equipa leonina.

Esse jogo contra o Manchester City foi o último no qual Amorim comandou a equipa leonina no Estádio de Alvalade. Em Braga, a equipa do Sporting fez uma primeira parte irreconhecível, talvez pelo fato dos seus jogadores estarem conscientes de que iriam perder o seu líder para o Manchester United, e que se avizinhariam tempos difíceis e uma transição muito complexa com a sua saída. 

A equipa do Sporting “sacou” de muita alma e de muito futebol para levar a cabo uma reviravolta épica, e depois de estar a perder por 2-0 ao intervalo, fez uma segunda parte de grande nível onde marcou quatro golos, demonstrando um grande espírito competitivo e uma tremenda força mental. Esta foi sem dúvida a despedida perfeita ao obreiro de uma das páginas mais douradas do Sporting.

Nesse jogo em Braga, o Sporting (que já havia perdido Nuno Santos para o resto da época) também teve um revés bastante importante: Pedro Gonçalves (Pote) tinha-se lesionado com alguma gravidade e a equipa iria ter que enfrentar esta nova fase sem um dos jogadores mais influentes na manobra ofensiva da equipa. Talvez essa tenha sido a única má notícia advinda desse jogo, para além da saída de Rúben Amorim.

Para o seu lugar e numa estratégia de continuidade, o presidente de Sporting Frederico Varandas escolheu o inexperiente João Pereira (que tal como o seu antecessor, ainda não dispõe de curso de treinador) para ser o novo treinador do Sporting.

Convicto e confiante de que as bases que Amorim tinha construído eram bastante sólidas, Varandas optou por uma decisão que alguns adeptos estranharam, mas que a maioria dos mesmos até considerou bastante lógica e coerente.

Mas João Pereira não é Rúben Amorim. É até injusto que se compare Amorim com João Pereira. São totalmente distintos a vários níveis. Começando pelo seu carisma e pela sua liderança, que também assenta muito na extraordinária capacidade de comunicação de Amorim. 

Apesar do seu caminho ter começado com uma vitória por números expressivos (6-0), essa vitória tinha sido obtida contra o Amarante, uma equipa das divisões secundárias nacionais. Embora João Pereira tenha sido capaz de manter a equipa com a necessária dinâmica de vitória, os adeptos estavam conscientes de que essa vitória não poderia ser nenhum barómetro para testar se a saída de Amorim iria ter ou não um efeito considerável na prestação dos jogadores e no rendimento da equipa.

O primeiro jogo de uma elevada exigência de João Pereira foi contra o colosso inglês Arsenal, e o Sporting saiu vergado a uma goleada de 5-1 num jogo disputado em Alvalade. A equipa já começava a apresentar algumas lacunas defensivas e uma dificuldade bastante grande de ligação entre os sectores.

Com Amorim, a equipa do Sporting (para além de apresentar um futebol de imensa qualidade) era muito sólida, concedia poucas oportunidades aos seus adversários, e tinha uma identidade muito própria de jogo. O Manchester City vive a sua maior crise desportiva dos últimos anos, mas o Arsenal também tem sido uma equipa irregular, e uma derrota por 5-1 deixa sempre marcas.

Convém ressaltar que houve apenas duas alterações no onze inicial (uma delas forçadas devido à já citada lesão de Pote) em relação ao jogo com o Manchester City, e a equipa do Sporting realizou uma exibição muito pobre.

No jogo seguinte, a equipa do Sporting teria que dar a devida resposta e iria receber o Santa Clara, uma das equipas-sensação desta temporada. 

E a exibição foi confrangedora. Apesar de alguns erros de arbitragem, a equipa do Sporting praticamente não dispôs de oportunidades de golo, e a equipa açoriana, muito bem organizada e trabalhada, conseguiu adiantar-se no marcador e obter uma vitória fantástica no reduto leonino.

Duas derrotas seguidas começavam já a ser um sinal de alerta, e a mensagem transmitida por João Pereira revelava evidente falta de preparação e de capacidade para mover um balneário.

Em dois jogos, a equipa do Sporting parecia transfigurada. Começava a apresentar fraquezas nunca antes vistas, e devidamente exploradas pelos seus adversários. A ausência de Pote não podia servir de desculpa para tão pouca produção ofensiva. 

Depois do jogo contra o Santa Clara, o Sporting iria ter uma deslocação bastante difícil a Moreira de Cónegos para defrontar o Moreirense. Apesar de começar muito bem e ter-se adiantado cedo no marcador, através do inevitável Gyokeres, não conseguiu segurar a vantagem por muito tempo e acabou por sofrer a terceira derrota seguida.

O segundo golo sofrido pela equipa leonina, é o apanágio do desnorte total que vive a equipa. Um lançamento lateral a meio do meio-campo ofensivo do Moreirense, uma distração inexplicável de Geny Catamo, Kovacevic extremamente mal posicionado, e Schettine a marcar um golo de belo efeito, mas fruto de um erro grosseiro da equipa do Sporting.

A conferência de imprensa posterior ao jogo em Moreira de Cónegos, foi dos piores exercícios de comunicação de que me recordo. Um João Pereira extremamente dubitativo nas suas respostas, sem conseguir dar uma explicação lógica para a falta de rendimento da equipa, sem parecer ser o homem certo para dar com a tecla e levar o Sporting a voltar à senda das vitórias.

Desde que João Pereira assumiu o comando da equipa do Sporting, todos os jogadores parecem piores. O melhor marcador do ano (Gyokeres) tornou-se um jogador terrenal, Trincão já não é o jogador decisivo de outrora, Quenda perdeu a sua magia e desequilíbrio, Hjulmand já não dá a mesma consistência ao meio-campo, Inácio já não apresenta a mesma eficácia defensiva.

E este fato é inegável. O Sporting é neste momento uma equipa sem confiança, bastante intranquila e isso reflete-se em campo.

A equipa do Sporting tinha ganho todos os jogos na liga nacional até estas duas derrotas consecutivas. Obviamente que nenhuma equipa consegue ganhar todos os jogos do campeonato, mas o défice de produção da equipa leonina é por demais evidente.

Para acentuar esta fase tenebrosa da equipa do Sporting, a última exibição (apesar de uns 20 minutos bastante interessantes e os melhores ao comando de João Pereira) foi novamente paupérrima.

O Club Brugge é uma das equipas mais modestas e frágeis desta edição da Liga dos Campeões, e apesar do Sporting ter conseguido adiantar-se no marcador com um golo bastante madrugador, a equipa sucumbiu psicologicamente e não mais conseguiu ter o controlo do jogo perante uma equipa totalmente ao alcance do Sporting.

Varandas necessita de dar o braço a torcer e assumir o erro na eleição de João Pereira.

As convicções são importantes, mas teimar numa decisão que já provou ser errónea, pode ter consequências devastadoras. João Pereira não é o homem certo para esta fase de transição do Sporting, e começa a ser penoso vê-lo no banco de suplentes. A equipa está totalmente perdida em campo, está carente de um líder e a mensagem não passa. 

Ainda mais penoso é ouvir o técnico leonino nas conferências de imprensa posteriores aos jogos. Um treinador do Sporting jamais pode dizer “As derrotas não nos vão abalar”. Se as derrotas não abalam um grupo de trabalho, o que é que irá abalar? Uma declaração absolutamente inconcebível para o treinador de uma equipa tão grande, como o Sporting. Treinar a equipa Sub-23 e treinar a equipa de futebol profissional, é uma diferença abismal. 

Não posso deixar de destacar as lesões em jogadores muito importantes e influentes, como Morita, Pote e Gonçalo Inácio. O plantel tem carências e parece ter sido construído para executar apenas uma ideia de jogo tão brilhantemente trabalhada por Rúben Amorim e executada na perfeição pelos seus jogadores. 

Esta série de quatro derrotas consecutivas já é uma das mais negras da história do clube, e já não acontecia há 12 (!) anos. Nessa fase, o Sporting vivia uma grande instabilidade a nível financeiro e desportivo, e os adeptos do Sporting não estão preparados nem irão aceitar a justificação de que esta é uma fase de transição e que estes resultados são dores de crescimento, e que é necessário tempo para assimilar as ideias de João Pereira.

A contestação dos adeptos tenderá a aumentar, a pressão sobre a equipa começará a ser insustentável. O próximo jogo contra o Boavista será uma autêntica final. No fim do mês, haverá o derby contra o Benfica.

Urge tomar decisões a fim de evitar uma temporada que se pode tornar um descalabro.

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Tiago Campos
Tiago Campos
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