O caso Doyen e porquê fechar as portas dos Fundos?

a norte de alvalade

O Sporting expõe por estes dias os seus argumentos no caso contra empresa Doyen, uma das muitas de fundos de investimentos. Como é sabido por todos, o conflito entre o clube e a referida empresa remonta à venda de Rojo ao Manchester United, envolvendo simultaneamente os direitos económicos sobre Labyad, que ainda se mantém como nosso jogador.

A estratégia poderia ter sido outra?

O caminho seguido pela administração neste caso, à semelhança de outros, foi de elevado risco. Vencendo, recolherá os louros de uma vitória muito importante para a sua estratégia. Sendo derrotada, terá de arcar com as consequências que se estenderão para lá das importantes repercussões económicas. Porque, como não é difícil de adivinhar, a derrota terá um significado importante na já de si sempre atribulada vida interna do clube. Veremos se o risco assumido compensa. Mas afigura-se-me muito difícil de prevalecer o argumento de apenas devolver o dinheiro investido por um parceiro, ficando o clube com a totalidade dos lucros, argumento já repetido naquilo que parece ser o futuro caso Carrillo.

No meu entender, tendo em conta as consequências que uma decisão negativa pode representar para a recuperação económica da SAD, seria mais avisado deixar extinguir a validade e acção dos contratos deste género e, uma vez que a SAD os entende como perniciosos, deixar de recorrer a eles, o que me parece que tem sido seguido. Mas também é verdade que me falta o conhecimento total dos contratos e dos argumentos das partes e, mais importante que tudo o mais, competência jurídica para os apreciar. Estimo que a decisão se tenha estribado em sólidos argumentos dessa natureza e que tenha sido tomada após cuidada reflexão interna.

A árvore e a floresta 

Foi a partir deste conflito de interesses que o Sporting, através do seu presidente, encetou uma luta não apenas contra a Doyen mas contra toda a forma de partilha de direitos dos jogadores por entidades externas aos clubes, conhecida hoje pelo acrónimo TPO’s (third party ownership).

É muito provável que as razões de desconfiança relativamente à Doyen sejam mais que justificadas. E que, por exemplo, o valor inflacionado que nos foi pedido pelo Aboubakar, superior ao que o FCP acabou por pagar pelo jogador, seja apenas uma das pontas de um enorme iceberg, cuja parte que fica abaixo da linha de água conhecemos muito pouco.

A recente promoção feita pela empresa em Madrid foi aquilo que se pode chamar verdadeiro tiro pela culatra para os interesses da própria. A falta de abrangência dos convidados, o atabalhoamento e a falta de argumentos capazes de contestar os que são geralmente apontados como os principais defeitos chegoaram a raiar o confrangedor. Parece-me, contudo, que se confundiu aqui apenas uma das árvores com toda a floresta.

Argentina v Slovenia - FIFA Friendly Match
Rojo está no centro da polémica entre Sporting e Doyen
Fonte: taringa.net

A enxurrada proibitiva é apenas destrutiva, não regula.

Ora, a Doyen é apenas uma das muitas operadoras no mercado. O Sporting lidou com algumas delas e o recente resgate de parte dos passes de alguns jogadores em condições favoráveis e sem conflito é a prova de que o relacionamento é possível e pode ser interessante para todas as partes.

Mas quando se fala de TPO’s esquece-se de que não existe apenas a possibilidade do uso de entidades financeiras e fundos de investimento como parceiros de negócio. Há uma diversidade de outras possibilidades, algumas das quais são usadas por clubes cujas circunstâncias e contextos se assemelham em muito aos do nosso clube.

Um bom exemplo disso são os clubes holandeses: embora o país produza mais riqueza que o nosso (o PIB deve situar-se num valor perto do quádruplo do nosso), as limitações impostas pela demografia (menos de 17 milhões) reduzem-lhes o mercado alvo, impedindo-os de competir com os mais ricos (alemães, espanhóis, ingleses e italianos).

Detendo uma forte imagem de grande capacidade de formação, os clubes holandeses, para contrariar a saída precoce dos seus talentos, têm usado uma ferramenta que julgo que o Sporting não deveria ter desdenhado. Por exemplo, o Ajax, cujas possibilidades económico-financeiras impede o clube de oferecer salários superiores a um milhão de euros anuais, tem oferecido aos seus jogadores, nos momentos de negociação de novos contratos, um valor percentual dos seus passes.

Ora isto não só permite, no momento de uma futura venda dos passes, uma compensação justa para os jogadores, como os co-responsabiliza pelo seu sucesso. Por isso não é de estranhar que um dos responsáveis do Ajax se tenha referido recentemente à extinção generalizada dos TPO’s, numa entrevista à Bloomberg, como devastadora para os interesses particulares do seu clube e generalizado aos clubes que vivem em circunstâncias semelhantes.

O exemplo acima é apenas um dos muitos que poderiam ser dados. E um dos vários de que o Sporting poderia socorrer-se como forte argumento negocial, particularmente com os jovens que querem tanto ganhar dinheiro – aspiração tão diabolizada como justa – como gostariam de poder continuar a evoluir tranquilamente no clube que escolheram para se formar.

O que UEFA e a FIFA tomaram foi uma não-decisão baseada no ruído de fundo

Sem grande convicção e enfermando da mesma escassez de conhecimento da realidade e de argumentos, ambas as organizações muniram-se de um machado legislativo para cortar o mal pela raíz, invocando quase sempre o mesmo argumento: a falta de transparência. Ora estas entidades estão longe de poder ser consideradas um modelo de virtudes neste âmbito e muitos outros. Por norma, abstêm-se do uso do seu poder regulador, sendo pouco pro-activos e mais reactivos e permeáveis à força da opinião pública.

Por isso, estou em crer, se viraram para os TPO’s – muito por causa do ruído de fundo construído à volta do caso Rojo, quando já de trás se ouviam muitos zunzuns. Como não há barulho sobre os tão confidenciais mas duvidosos verdadeiros seguros de derrota, alguns clubes já deitam mão para se prevenirem das perdas por ausência da Liga dos Campeões e ambas as organizações assobiam para o lado.

O medo como argumento

Muito desta campanha foi fabricado sobre a irracionalidade que o medo e a ignorância provocam. No Sporting, particular e algo justificadamente, depois de duas experiências que, tendo começado com o inefável e infeliz exemplo de Pongolle, se saldaram emresultados desastrosos. Exemplos não faltam, até ao nosso lado, de que era possível ter feito outro caminho. Ora, este resultado não se deveu tanto ao uso dos fundos em si, mas ao total falhanço por parte da administração desportiva propriamente dita. Se bem que considere que a discussão sobre a quantidade e extensão do seu uso seja não só plausível como obrigatória.

Olhando para os jogadores adquiridos não deixo de me perguntar o que seria se o Sporting tivesse conseguido juntar-lhes estabilidade e algum dos três últimos treinadores. Ou melhor, o que seria na próxima época o Sporting se JJ tivesse ao seu dispor os recursos que Domingos teve na sua primeira época. Nunca saberemos.

Foto de capa: Página de Facebook de Bruno de Carvalho

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José Duarte
José Duarte
Adepto do Sporting Clube de Portugal e de desporto em geral, especialmente de futebol.                                                                                                                                                 O José não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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