O pior do Sporting, o melhor do Braga

Não houve pior Sporting na temporada, não houve muitas versões melhores que o Braga nesta época. Por esta razão, a vitória, por mais tangencial que fosse, dos leões aos 90+4 parecia não condizer com o rumo que os 90 minutos quiseram dar ao jogo. Como todos os jogos, o resultado definiu-se entre o demérito dos leões e o mérito arsenalista.

Se as críticas de Rui Borges após a vitória contra o Estoril Praia pareciam exageradas, a verdade é que foram premonitórias face ao que se desenrolou em Alvalade. Para lá das questões táticas, que também as houve, os leões jogaram a 70% ou 80% das capacidades num dos jogos mais exigentes da Primeira Liga.

A versão amorfa de um Sporting que se tem construído para ser dominador deixa o ar repleto de névoa e de obscuridade. A paragem para as seleções, neste ponto de vista, pode permitir limpar a cabeça e rejuvenescer a alma mais do que travar um trabalho que estava em crescendo.

Rui Borges Sporting
Fonte: Luís Batista Ferreira / Bola na Rede

Dentro de campo, e para lá da atitude e da transpiração que não surgiu, o Sporting teve muitos problemas para lidar com o jogo de marcações e duelos individuais que o Braga procurou. Com bola, a equipa de Rui Borges não foi capaz de ter clarividência para superar os encaixes agressivos do Braga.

Zeno Debast e Gonçalo Inácio, os menos sobrecarregados pela pressão, não foram construtores o suficiente e o Sporting não conseguiu colocar os médios de frente para o jogo, por mais que Morita lateralizasse posições e Hjulmand se afundasse entre os centrais. Perante a ausência de saídas, Rui Silva procurou acelerar os ataques e colocar bolas rapidamente na frente.

Aqui, e embora Rui Borges tenha tocado na ausência de características para vencer duelos, houve um acelerar constante que não beneficiou o Sporting. É certo que não há nenhum jogador verde e branco corpulento o suficiente para vencer duelos na força ou atacar o espaço – pelo menos no onze – mas o perfil individual não é justificação para lacunas coletivas. Faltou capacidade de atrair, desposicionar o adversário para, depois de o ludibriar, procurar uma referência mais direta ou o jogo dos três homens do apoio ao ponta de lança em apoio. Luis Suárez não é Viktor Gyokeres para poder jogar tão longe da baliza.

Luis Suárez Sporting
Fonte: Luís Batista Ferreira / Bola na Rede

Sem bola, faltou também sempre capacidade ao Sporting para sufocar o Braga. Depois de vantagem, os leões retomaram maus hábitos passados e, em vez de procurar o ímpeto da pressão e do desconforto, baixaram linhas e permitiram ao conjunto arsenalista assumir-se em posse.

A única solução para agitar as águas chamou-se Alisson Santos. Tem feito por merecer um papel mais significante do que aquele que lhe estaria reservado quando foi contratado e quando se apresentou à bruta na pré-época. Tem vindo a crescer na definição, jogando com os colegas e fazendo-se valer da potência. A sua entrada, mais do que resolver problemas, foi um assumir do que estava em falta. A chamada de Alisson ao jogo foi um assentir de Rui Borges, que ao invés de procurar uma postura mais dominadora, acabou por aceitar a infelicidade da subjugação, um pouco à imagem do que aceitou na última época para meter Viktor Gyokeres a brilhar. A curto prazo não há receios ou dúvidas nesta estratégia. A longo prazo, poderá recuperar fantasmas aos leões que, por mais que tenham tido um jogo menos envolvente, estão de cara lavada nesta época.

Há, ainda assim, muito mérito que tem de ser dado a Carlos Vicens. Numa semana, voltou a reunir tropas e a dar uma versão mais simpática a um Braga que se arrastava pelas ruas da amargura. Depois do plano de jogo que deu a vitória diante do Celtic, voltou a guiar a sua equipa à superioridade diante do Sporting. Para isso, não foi preciso uma pipeta especial no meio dos mil tubos de ensaio. Bastou simplificar.

Carlos Vicens Braga
Fonte: Luís Batista Ferreira / Bola na Rede

Se há mal que se possa apontar a Carlos Vicens é o de querer tudo. Apesar da continuidade estrutural de um 3-2-5 no momento ofensivo do qual não abdica, a cabeça do treinador do Braga, pupilo de Pep Guardiola, transbordou em dúvidas e em ideias confusas nas últimas semanas. Os jogadores desempenharam, cada um, mil e uma funções diferentes e tão antagónicas como o dia e a noite, sujeitos a um sistema que se sobrepunha à sua individualidade. Ao tornar tudo mais simples, tudo fluiu melhor.

O Braga teve processos simples. Vítor Carvalho foi colocado entre os centrais e aos laterais, mais de corredor que de pensamento interior, foi dada ordem para se soltarem. Ricardo Horta e Rodrigo Zalazar apareceram nas entrelinhas, à frente de uma dupla de médios com o toque de bola de João Moutinho e Florian Grillitsch. Não foi preciso mexer muito para o Braga se superiorizar a partir deste quadrado.

A dupla de médios perfumados do Braga trouxe capacidade de retenção da bola e de gestão de ritmos, permitindo aos arsenalistas crescer com o tempo e definir timings de pausar o jogo e de acelerar. Aí, Rodrigo Zalazar mostrou-se. É um dos melhores jogadores da Primeira Liga pela capacidade de influenciar o jogo e de ser determinante no seu rumo. Não foram poucas as vezes que atacou as costas de Maxi Araújo, que procurou diagonais curtas, mas também não foram reduzidas as posses de bola que proporcionou, procurando o toque de bola para a trabalhar.

Rodrigo Zalazar Braga
Fonte: SC Braga

É na conjugação entre a versão bélica de guerreiro sul-americano, capaz de rematar de fora da área e de procurar um jogo mais agressivo, e dos pezinhos de lã de uns pés capazes de trabalhar a bola que Zalazar se destaca. Encontrou várias vezes Ricardo Horta, em diagonais da esquerda para a direita, para criar perigo. Parece pecado ver que o uruguaio andou tanto tempo encostado à linha.

BnR na Conferência de Imprensa

Bola na Rede: Queria perguntar-lhe sobre o posicionamento do Zalazar neste jogo. Consigo tem jogado mais aberto ou em terrenos mais interiores, hoje joga muito por dentro mesmo partindo por vezes de posições mais abertas. Porquê tê-lo a jogar aberto em tantos jogos e o que pode oferecer em termos de rutura e jogo associativo mais por dentro?

Carlos Vicens: Hoje começou por dentro com o Ricardo [Horta] para nos dar a possibilidade de ter mais um jogador. Sabíamos que o jogo de hoje teria emparelhamentos na pressão por dentro. Íamos precisar que ele fosse capaz de segurar a bola, tal como o Florian [Grillitsch], o João [Moutinho] e o Ricardo e depois ter a capacidade, nalguns momentos e em situações de emergência, de romper no espaço caso o jogo se transformasse muito num homem a homem. Foi o que lhe pedimos. Tem a capacidade nalguns momentos de jogar por fora, os companheiros já o conhecem. Tem uma relação de anos com o Victor [Gómez] e ele compensa-o por dentro. É uma coisa que não cortamos ao Rodri [Zalazar]. Esse é o seu jogo. A partir de uma organização clara da equipa no ataque, queremos que seja capaz de expressar-se e oferecer a sua melhor versão, tanto quando joga por dentro, como quando parte de fora em movimentos fora-dentro.

Bola na Rede: Ao longo do jogo o Sporting teve algumas dificuldades no desenho da pressão, acabando muitas vezes por baixar linhas, e também com bola, no jogo da temporada com menos posse de bola e capacidade de dominar o adversário. Até que ponto foi consentido, como parte da estratégia, ou o que falhou na implementação da estratégia para o jogo menos impositivo da temporada?

Rui Borges: Os timings não eram timings. O Braga baixava muitos jogadores na primeira etapa da construção e deixou-nos com algumas dúvidas. Os médios com algumas dúvidas, os três homens da frente que iam bater com os três homens da construção com dúvidas, o Braga metia um médio a quatro. Andámos meio perdidos a tentar perceber qual era o timing e como fechá-los. Tínhamos isso identificado. Mais do que isso era perceber a distância que estávamos a dar para as referências. Foi um jogo muito marcado pelas referências individuais, o Braga também para nós, o que nos levou a mais perdas de bola e a não conseguir estar tanto tempo com bola como gostamos e desejamos. Tivemos muitas dificuldades nesse sentido, em desbloquear o jogo homem a homem. Não estávamos tão proativos em procurar ligações, procurávamos paredes, deixávamos antecipar o defesa ou a referência e perdemos muitas bolas. Isso vai passando desconfiança, a equipa vai ganhando desconfiança e é uma bola que vai enrolando [e crescendo]. Na segunda parte melhorámos melhorámos isso, ficámos mais próximos da referência e o Braga teve mais dificuldade nisso. Obrigámos a esticar mais bola e depois é duelos. Não temos uma equipa assim tão forte em termos atléticos para o que é duelos, mas temo-nos batido bem nesse aspeto. Acabámos por ser penalizados num lance muito próprio.

Diogo Ribeiro
Diogo Ribeirohttp://www.bolanarede.pt
O Diogo é licenciado em Ciências da Comunicação, está a terminar o mestrado em Jornalismo e tem o coração doutorado pelo futebol. Acredita que nem tudo gira à volta do futebol, mas que o mundo fica muito mais bonito quando a bola começa a girar.

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