Ainda há poucos dias vinha aqui elogiar o início de temporada da maior parte das modalidades ditas amadoras do Sporting CP. Porém, já recebemos indícios do tal desinvestimento que tanto se vem falando.
Estas últimas notícias não retiram o mérito do que já foi conseguido esta época desportiva, mas deixa antever algumas dificuldades para manter o Sporting CP como um clube ecléctico e vitorioso.
Um dos indícios é a dispensa de alguns dos atletas com mais títulos nacionais e internacionais. Falo especificamente de Nelson Évora e João Costa. Dispensa não será a palavra mais apropriada uma vez que não sabemos se lhes terá sido apresentado novo contrato com o tal corte de custos falado para as modalidades que se poderia reflectir em redução salarial, algo que eles decidiram recusar.
Ainda assim, e em termos práticos, ficamos para já com menos dois atletas (pelo menos são os que temos conhecimento, apesar de já terem saído outros) que garantidamente trariam títulos nacionais, provavelmente internacionais, para o palmarés leonino. E quanto ao contributo do Nélson, farão muita falta os pontos que garantia na luta pelo campeonato nacional de atletismo, que continuamos a perder em masculinos para o nosso eterno rival.
Nelson Évora conseguiu completar a sua caderneta de títulos com a conquista do título de campeão europeu de triplo salto ao ar livre em 2019. Tem mais de uma dezena de títulos de campeão nacional, e vários pódios olímpicos. Já João Costa, teve vários pódios na Taça no Mundo, para além dos inúmeros títulos de campeão nacional nas várias vertentes de tiro.
Outro indício das dificuldades que as modalidades do Sporting CP poderão vir a passar é a suspensão de Miguel Albuquerque. Não vou aqui falar sobre as razões que levaram o clube a fazê-lo, mas apenas sobre as provas que deu como profissional do clube. Perdemos alguém que começou por construir uma equipa de futsal competitiva nacional e internacionalmente, sob a sua direcção, as modalidades do clube tiveram uma das melhores épocas de sempre no que toca a títulos conquistados. Por isso, independentemente do que possa fazer na sua vida conjugal (que parece estar ultrapassado) é inegável que perdemos um profissional competente.

Fonte: Sporting CP
Para além de perdermos alguns dos melhores atletas por falta de competitividade financeira, e perdermos a competência directiva, perdemos também o direito a competir, com a suspensão, por parte da DGS, de todas as competições das modalidades amadoras.
Perfeito. Se não podemos competir, para que precisamos dos melhores atletas? A verdade é que, quando o clube transparece tantas dificuldades, a todos os níveis, para manter os seus melhores activos, como conseguirá que as modalidades sobrevivam em Alvalade? Podem vir dizer que os outros também irão passar pela mesma dificuldade, e é verdade, mas primeiro pouco me importa o que acontece na casa dos outros, e depois alguns dos “outros” mostram menos dificuldades financeiras o que ajuda a ultrapassar de uma forma menos preocupante este período sem competição e meio de subsistência. A verdade é que não será fácil a sobrevivência de muitos dos clubes das várias modalidades, sem que haja ajuda do Estado e das Federações.
Devemos ficar preocupados? Acho que sim. Só não nos preocupamos se o objectivo for mesmo acabar com o ecletismo do Sporting CP e esta pandemia tenha criado o cenário perfeito para que o plano se concretize. E o melhor é que temos quem culpar, e desta vez não é o Bruno (acho eu).
Mas nós também só nos lembramos das modalidades quando elas ganham título, e quando precisamos do argumento do clube com mais títulos e mais ecléctico. Por isso, deixa arder. Estou errado? Mas vejam lá se qualquer dia até esse argumento perdemos.