Troca de carícias na(s) Varanda(s) da Costa

Sempre achei um piadão à designação “troca de carícias” pelos mais variados motivos, não sendo o principal o facto de fazer referência a uma demonstração mais que pública de um amor que não sabe estar sossegado no seu cantinho. Não se façam de santinhos ou tentem enganar o autor do texto dizendo que “foi um ato fortuito e de súbita avidez porque não repararam que o centro comercial estava à pinha” ou que “estavam todos distraídos a apostar cinco cêntimos por ponto no sobe e desce”. São desculpas que nem sequer chegam a grudar na pele.

Erroneamente, a expressão é utilizada quando duas individualidades ou coletividades lideradas por individualidades andam à porra e à massa – outra expressão curiosa e com significado selado – e reúnem a vontade de se trucidarem mutuamente. Na profundidade humana que assiste a cada alma, o autor deste texto aconselha, por exemplo, a controlar os assomos de cólera ouvindo Yellow Days (ou Beach House): a música é tão descontraída que se torna um charro musical e, consequentemente, emocional. Provavelmente, conduzirá à troca de carícias…

Existe futebol e tal hobbie não parece ser exequível. Num cosmos de terceira ou quarta, as cúpulas dirigentes a incutem o mindset de sobrevivência nos seus adeptos e bombeiam, de Norte a Sul, granadas de desdém e molotovs de sobranceria. A grande vantagem que contemplo no seio de tal salganhada redunda no facto de o jornalista e grande repórter continuar a compilar, em calhamaços, trabalhos jornalísticos capazes de influir na construção de sentidos e de uma versão fiel da História, não sublime.

Pinto da Costa e Frederico Varandas têm vindo a trocar carícias, desde que atual dirigente leonino assumiu a presidência do Sporting CP. Mas Pinto da Costa trocou carícias com os anteriores (sem número) líderes do clube de Alvalade que precederam o atual presidente, principalmente em épocas em que o leão rugia mais alto. Observando as circunstâncias pelo prisma da coerência, o líder portista é portentoso.

Varandas vs. Pinto da Costa
Fonte: Diogo Cardoso / Bola na Rede

O líder mais carismático do futebol português e mais titulado do globo pressente e escuta atentamente chamamentos, está habituado a falar com magistrados do céu – por alguma razão o cognominam como “Papa, Pinto da Costa” – e já assumiu, em diversas ocasiões, que o futebol precisava de um Sporting CP mais forte e entranhado na eterna luta a três. Observando as circunstâncias pelo prisma do discurso uno, Pinto da Costa é fenomenal.

Enquanto a grande maioria dos dirigentes critica e lança farpas ao adversário quando os últimos rebolam o seu insucesso desportivo na lama e o temperam, por vezes, com processos judiciais das estirpes mais recônditas, o presidente do FC Porto tenta derrubar a estabilidade e impossibilitar a intromissão do rival no pedestal construído por si. Observando as circunstâncias pelo prisma da coragem, Pinto da Costa é exemplar.

Por sua vez, Frederico Varandas proferiu e profere, regularmente, à boca cheia, que outrora foi militar. Contudo, o furto que alegadamente ocorreu na garagem do Estádio do Dragão depois do clássico a 11 de fevereiro levanta questões e dúvidas acerca do seu estatuto. (Imaginem lá se ninguém tivesse acompanhado Frederico Varandas e a polícia estivesse ausente do local: Frederico Varandas sem telemóvel e sem auxílio precisamente por não estar munido de um aparelho capaz de solicitar). Onde é que já se viu um militar deixar-se roubar perante três ou quatro pessoas? Esperem… Tancos foi parecido, não foi?

A inatividade da farda e das botas de cano alto deu lugar à atividade do presidente do Sporting CP no célebre 2-2. Após o episódio bélico nas quatro linhas, o doutor Frederico Varandas apresenta queixas, em plena conferência de imprensa, e confessa estar cansado dos “40 anos de Pinto Costa”. Assim, sem querer potenciar assaltos e cenas de pancadaria.

O campeonato decorreu com o habitual bombardeamento de verborreia. Entretanto, o speaker afeto aos dragões passou a designar “Sporting de Lisboa”. O FC Porto foi campeão justamente e a melhor equipa em competição. Pinto da Costa abraçou Zaidu, ficou com a camisola do lateral-esquerdo e ficou ofendido quando o sr. Varandas não o felicitou, ao contrário de ilustres leoninos. Segundo o que consta, o ato foi refletido e propositado pelo facto de o presidente leonino, no ano transato, se queixar da mesma coisa. Observando a situação sob o prisma da maturidade, Frederico Varandas foi petiz. Observando ainda a situação sob o prisma de uma noite bem dormida, Pinto da Costa foi claramente prejudicado.

No jantar que assinalava o 35º aniversário da conquista da Taça dos Campeões Europeus em Viena, Pinto da Costa discursou perante antigos craques e glórias do FC Porto afirmando que nunca precisou dos votos das pessoas mais velhas para ser presidente e que durante 40 anos teve muito trabalho e canseira, mas também muitos títulos e vitórias. Observando a situação sob o prisma do sentido de oportunidade, Pinto da Costa foi exímio.

Pinto da Costa deixa nova farpa a Varandas: “Ganhei sempre com o maior número de eleitores, no Porto cada sócio tem 1 voto. Não precisei de ter os votos dos mais velhos para ser presidente.”

Varandas venceu em 2018 as eleições do Sporting com menos votantes que João Benedito. pic.twitter.com/76bw4fruxh

— Cabine Desportiva (@CabineSport) May 28, 2022

Frederico Varandas respondeu dias a seguir na comemoração do aniversário do núcleo de Carregal do Sal declarando que Pinto da Costa era um corruptor ativo e que lamentava que fosse considerado uma referência do desporto nacional por incidentes pretéritos. Observando a situação sob o prisma da previsão de insultos, o líder leonino foi ingénuo porque arranjou um pretexto para o chamarem de pirómano – que, retirado o significado, soa bem pior do que a palavra “escarro”, “ranço” ou “escroto” – e de ser alvo de um processo judicial.

Já vi relações amorosas a começar com menos trocas de carícias. E também já vi o Fight Club, mas tenho saudades de ver novamente.

 

Romão Rodrigues
Romão Rodrigueshttp://www.bolanarede.pt
Em primeira mão, a informação que considera útil: cruza pensamentos, cabeceia análises sobre futebol e tenta marcar opiniões sobre o universo que o rege. Depois, o que considera acessório: Romão Rodrigues, estudante universitário e apaixonado pelas Letras.                                                                                                                                                 O Romão escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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