Orlando Costa: Um Superclássico entre Sporting e FC Porto diretamente para a história

    Orlando Costa está na Tribuna VIP do Bola na Rede. É treinador de futebol e volta ao espaço de opinião no nosso site. O técnico de 47 anos é ex-selecionador de Barbados e antes trabalhou em diversos países como o Kuwait, Guiné-Bissau, Coreia do Sul ou Irão.

    Naquele que habitualmente é o jogo de abertura da época oficial em Portugal, tivemos um jogo que irá para os anais do futebol português. Num jogo que todos os adeptos gostam, mas que os treinadores nem por isso, tivemos um desfecho que deu a Supertaça Cândido de Oliveira 2024 ao FC Porto.

    Rúben Amorim e Vítor Bruno optaram por manter os “onzes” que vinham utilizando ao longo da pré-época. Enquanto o Sporting conseguiu fazer retornar rapidamente os seus internacionais, e permitiu a Rúben Amorim preparar este jogo com todos presentes, Vítor Bruno já não teve a mesma fortuna. Os seus internacionais chegaram mais tarde e acabaram muitos deles por ser preteridos da convocatória.

    O JOGO

    O Sporting, que iniciou no seu habitual 1x3x4x3, utilizou o reforço Zeno Debast como “patrão” da defesa e Eduardo Quaresma e Gonçalo Inácio como defesas centrais exteriores. Outro destaque vai para Geovany Quenda que iniciou e terminou o jogo como defesa/ala direito, fazendo Geny Catamo passar para o corredor esquerdo.

    O FC Porto utilizou o sistema de 1x4x2x3x1, que tal como na pré-época, apresentou Martim Fernandes como defesa esquerdo, e Nico González como médio ofensivo. Desta feita, Galeno foi o extremo esquerdo, ao invés de Iván Jaime.

    Nos primeiros cinco minutos de jogo foi possível verificar uma pressão alta e agressiva por parte do FC Porto à primeira fase de construção do Sporting.

    O FC Porto posicionou-se num 1x4x4x2, tentando contrariar a “nova dinâmica” do Sporting na sua construção, na qual coloca Morita ou Hjulmand ao lado de Debast, e Eduardo Quaresma e Gonçalo Inácio abertos como defesas laterais, projetando assim Geovany Quenda e Geny Catamo. Neste momento, o FC Porto tentou encaminhar o jogo do Sporting para o corredor lateral, levando que o único passe viável fosse a conexão direta com o espaço entrelinhas. Este passe foi algo bastante observado ao longo da pré-época por parte do Sporting e o FC Porto criou uma espécie de “presente envenenado”.

    Eduardo Quaresma Geovany Quenda
    Fonte: Diogo Cardoso / Bola na Rede

    Durante este período houve algum maior ascendente do FC Porto, que poderia ter aberto o marcador por Danny Namaso. Por volta do minuto 6, um dos pontos de alguma dificuldade apresentado pelo FC Porto deu o 1-0 para o Sporting. Um canto batido de forma curta para Pote, que cruza para o centro da área permitindo a Gonçalo Inácio abrir o marcador. E este foi um momento-chave para o ascendente do Sporting. Este golo trouxe uma acalmia aos jogadores leoninos, que começaram a discorrer um jogo mais fluído, no qual conseguiram impor algumas dinâmicas que foram criando muitas dificuldades ao FC Porto.

    A primeira fase de construção começou a ser feita com maior clareza e isso permitiu que a bola chegasse mais vezes aos criativos da equipa, principalmente Pote e Geny Catamo. Como o FC Porto tentava pressionar de forma mais agressiva e alta no terreno, Rúben Amorim preparou uma dinâmica simples que, até ser controlada pelo FC Porto, deu origem a situações de alguma aflição defensiva, e golos do Sporting.

    O Sporting, ao projetar os seus defesas laterais, fletia para o corredor central os seus extremos, criando um 1x4x3x3 posicional. Esta dinâmica fazia com que os extremos do FC Porto fossem um pouco atraídos pelos defesas laterais, mas também os defesas laterais pelos extremos até zonas mais centrais do campo. Logo, e para tirar proveito das características físicas de Viktor Gyokeres, Rúben Amorim instruiu os seus defesas e médios mais recuados a procurar colocar a bola no espaço libertado pelos defesas laterais do FC Porto, para que o seu avançado pudesse disputar num 1×1 contra os defesas centrais do FC Porto a profundidade do seu ataque. Este tipo de dinâmica ocorreu mais vezes pelo lado esquerdo, levando mesmo a  dois golos do Sporting. O 2-0 foi feito de forma mais longa e com maior progressão de Gyokeres com bola controlada, que acaba por assistir Pote. O 3-0 foi uma demonstração perfeita da dinâmica criada por Rúben Amorim para o Sporting, quando encontra um adversário em bloco mais baixo. Gonçalo Inácio progride com bola, encontra Geny Catamo bem aberto e alto no corredor lateral. Consegue ligar com o “médio posicional” Pote, que explora o espaço que libertou em passe ao ligar com Viktor Gyokeres. Este cruza e encontra Geovany Quenda que tira vantagem do seu posicionamento aberto para se encontrar sozinho e finaliza um golo de belo efeito.

    Neste momento o jogo estava com 25 minutos, e tudo indicava que o Sporting poderia partir para um resultado e uma exibição tranquila e com um excelente resultado. Aos 28 minutos, e após uma infelicidade por parte de Debast no controlo da profundidade, Galeno reduziu para 3-1 e trouxe alguma crença ao FC Porto. Até ao fim da primeira parte, o Sporting controlou a partida, tendo ainda mais uma oportunidade clara de golo por Viktor Gyokeres.

    Para a segunda parte não existiram alterações no que toca a jogadores, mas estrategicamente existiram novas nuances. O Sporting entrou mais forte novamente, e continuou a criar vários problemas à organização defensiva do FC Porto, desta feita com a capacidade de encontrar o extremo (em posições interiores) ou o defesa lateral oposto que ficavam livres de marcação dentro da ideia defensiva apresentada pelo FC Porto. Houve no entanto algum insucesso sportinguista derivado de alguma falta de qualidade de passe apresentada pelos jogadores no momento de aceleração ou de encontrar o homem livre.

    Com dificuldade em executar esta ideia estratégica, o Sporting foi perdendo algumas vantagens numéricas que foi conquistando, o que permitiu ao FC Porto reestruturar-se e colmatar algumas dificuldades defensivas. Quando os portistas conseguiram reequilibrar-se começaram a “crescer” no jogo e a criar algumas dificuldades à organização ofensiva do Sporting.

    Viktor Gyokeres Zé Pedro
    Fonte: Diogo Cardoso / Bola na Rede

    Por volta dos 60 minutos de jogo foram feitas as primeiras alterações do lado portista, com a entrada de Iván Jaime e Stephen Eustáquio. Estas alterações levaram a algumas mudanças posicionais e de características dos jogadores que até então estavam em campo. Saiu João Mário, o que levou à passagem de Martim Fernandes para defesa direito, e de Galeno para defesa esquerdo. Logo, Vítor Bruno ao colocar Iván Jaime como extremo esquerdo deu ao FC Porto maior capacidade de jogo interior e de manutenção da posse de bola em zonas mais ofensivas do campo (em contraste com Galeno que é um jogador mais vertical e explosivo, daí ter passado para defesa esquerdo, o que permitia ao FC Porto assegurar a profundidade e verticalidade pelo corredor esquerdo). Já Stephen Eustáquio colocou-se ao lado de Alan Varela, tal como Marko Grujic (jogador substituído), contudo o internacional canadiano é um jogador mais versátil posicionalmente, e com uma maior capacidade de chegada a zonas de finalização, ao contrário do jogador sérvio.

    Pouco tempo depois das alterações, o FC Porto consegue chegar ao 3-2 numa situação que tem tido muito destaque na pré-época azul e branca. Nico González tem demonstrado muita capacidade de chegada à área jogando na posição de médio ofensivo, e após um cruzamento de Gonçalo Borges, finaliza bem no centro da área sportinguista. Volvidos dois minutos (algo que se sucedeu na primeira parte mas na baliza contrária), o FC Porto chega ao 3-3 com um lance que se inicia num lançamento de linha lateral, onde Stephen Eustáquio, que deu razão ao seu treinador, invade a área adversária do Sporting e assiste Galeno ao segundo poste para golo. Este terceiro golo do FC Porto notou-se criar uma nuvem negra sobre a cabeça dos jogadores sportinguistas, que nunca mais conseguiram voltar a ter grande coerência cognitiva para tomar boas decisões e chegar a zonas de finalização como anteriormente haviam conseguido.

    O jogo seguiu-se para prolongamento, onde Rúben Amorim tenta solidificar a defesa mas também dar uma renovada ideia à primiera fase de construção da equipa com a entrada primeiramente de Ousmane Diomande para o lugar de Zeno Debast, e depois com a introdução de Iván Fresneda (defesa direito de raíz) para a posição de defesa central direito, o que permitia ao Sporting chegar a zonas de cruzamento com dois jogadores mais desequilibradores pelo corredor direito. Quando esta nova tentativa de pressionar ofensivamente por parte do Sporting é introduzida, o FC Porto consegue chegar ao 3-4, com uma jogada de insistência e de segundas bolas, onde Vasco Sousa (entrou aos 75 minutos para substituir Nico Gonzalez como médio ofensivo), conseguiu ter a lucidez, após alguns duelos físicos, de libertar a bola para Iván Jaime, e este com alguma sorte à mistura consegue finalizar e fazer golo (um lance em que Vladan Kovacevic não parece ficar isento de culpas).

    Chegado à vantagem o FC Porto altera um pouco o seu posicionamento defensivo. Opta por um bloco médio, desta vez com Vasco Sousa a posicionar-se mais perto de Alan Varela e de Stephen Eustáquio, formando assim um 1x4x5x1, bem coeso para não permitir aos criativos do Sporting (Marcus Edwards, Daniel Bragança, Mateus Fernandes e Geovany Quenda naquela altura do jogo) terem muito espaço para criar situações de finalização.

    Rúben Amorim não tardou a colocar mais uma peça ofensiva no jogo, lançando Rodrigo Ribeiro para jogar mais perto de Viktor Gyokeres e com isto criar densidade de jogadores em zonas de finalização do Sporting. Vítor Bruno respondeu, qual jogo do gato e do rato, colocando David Carmo e retirando Danny Namaso. Com esta entrada o FC Porto passou a defender em 1x5x4x1, e o Sporting a atacar em 1x4x2x4.

    Na segunda parte do prolongamento assistiu-se a uma tentativa (quase desesperada e pouco ponderada) por parte do Sporting de chegar ao golo, e um FC Porto que apesar de pressionado, se encontrava mais tranquilo e coeso para levar o resultado até ao final.

    DESTAQUES A RETER

    O primeiro grande destaque tem de ir para ambos os treinadores que não se inibiram de lançar os jogadores mais jovens ao seu dispor para um embate desta magnitude. Geovany Quenda do lado do Sporting fez os 120 minutos, tendo marcado um golo de grau de dificuldade elevado, sendo também um dos agitadores do ataque leonino (pecou apenas no 3-3 do FC Porto, onde chega atrasado ao seu posicionamento defensivo permitindo a Galeno marcar o golo).

    Rúben Amorim Vítor Bruno
    Fonte: Diogo Cardoso / Bola na Rede

    Do lado do FC Porto, Martim Fernandes fez os 120 minutos e uma exibição que passou por ambos os corredores (João Mário foi mesmo preterido por ele, ao ter sido substituído), e com uma maturidade e capacidade de lidar com a pressão do jogo fora do normal. De destacar também Vasco Sousa que entrou já com o jogo em andamento e com uma intensidade elevada, e que mesmo assim conseguiu unir as linhas média e ofensiva do FC Porto, disputando e batalhando por todas as segundas bolas, fazendo lembrar Otávio (internacional português, ex-FC Porto).

    Outro grande destaque vai para a batalha tático-estratégica que ambos os treinadores travaram ao longo de todo o jogo. Como descrito, existiram constantes variações e alterações táticas e individuais que iam mudando o rumo do jogo, e ambos os treinadores estiveram em constante alerta para responder face àquilo a que lhes era apresentado pela adversário.

    Ponto importante a rever, e que o próprio Rúben Amorim destacou no final do jogo, foi a incapacidade do Sporting em “fechar” o jogo em seu favor. O Sporting de Rúben Amorim sempre se destacou pela sua maturidade e acima de tudo pela sua capacidade defensiva, e neste aspeto a sua equipa demonstrou algumas fragilidades (algo aplicável também ao FC Porto). A organização defensiva baixa de ambas as equipas demonstrou-se um pouco frágil e o número elevado de golos é também uma amostra disso.

    Para terminar, realçar a postura de Vítor Bruno ao longo do jogo. O FC Porto poderia ter derrapado para uma derrota histórica após estar a perder aos 25 minutos por 3-0 com o atual campeão nacional. Quando as filmagens televisivas permitiam, foi possível observar uma serenidade e transmissão de confiança por parte do treinador portista que em muito terá pesado para o desfecho do jogo.

    Foi o primeiro jogo oficial da época 2024/2025. Temos novos treinadores, novas ideias, e esperemos que possamos assistir a mais um ano de futebol positivo e, acima de tudo, de evolução futebolística no futebol português e que nos permita voltar aproximar dos grandes do futebol mundial.

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