Força da Tática: O 2x3x5 de 1930 a 2014

força da tática

“Força da Táctica” é um novo espaço que o Bola na Rede vai passar a apresentar. De futebol tanto falamos que acabamos, na maior parte das vezes, sem discutir a sua essência e profundidade, tal como os seus elementos fulcrais. Os conceitos, ideias e matrizes que regem as equipas dentro de campo – onde mais interessa – vão ser foco de estudo e análise desta nova rubrica. Comprometemo-nos em ser minuciosos em cada parágrafo com o fim de dar ao leitor o mesmo gosto pelo futebol que temos em assisti-lo.

Como primeira edição, nada melhor do que trazer à baila o regresso da táctica mais antiga do mundo: o 2x3x5. Assim, invertido aos olhos de quem aprendeu a ver a solidez defensiva como prioridade, o Brasil e Uruguai disputaram a final do primeiro Campeonato do Mundo, em 1930. Todo este artigo é uma adaptação crítica do original publicado, em castelhano da Argentina, no blog Paradigma Guardiola.

Jonathan Wilson fala da evolução do 2x3x5 ao 4x4x2 no seu livro "Inverting the pyramid. The history of soccer tactics"  Fonte: paradigmaguardiola.blogspot.com
Jonathan Wilson fala da evolução do 2x3x5 ao 4x4x2 no seu livro “Inverting the pyramid. The history of soccer tactics”

Com o tempo, o 2x3x5 foi dando lugar aos antagónicos 4x3x3 ou 4x4x2; a primazia ofensiva foi perdendo adeptos para o pragmatismo defensivo e, a certo ponto, chegou de Itália uma moda resultadista chamada Catenaccio que nos afastava do gosto pela bola e convencia o mundo de que a forma de ganhar mais fácil seria cobrir os espaços defensivos e tentar marcar um golo que garantisse a vitória. Entretanto, chegou Guardiola e o 2x3x5 pode estar de volta.

Estranho? Frente ao Manchester United, Dortmund (na 1ª parte) e nas meias-finais da Taça da Alemanha, frente ao Kaiserslautern, Pep Guardiola, quando com bola, apostou numa disposição dos seus jogadores em tudo semelhante àquela utilizada no início do futebol. Os laterais, Lahm (ou Rafinha) e Alaba, ocuparam espaços mais adiantados e interiores, junto do médio mais recuado da equipa (Kroos ou Schweinsteiger) e deixaram Dante e Boateng sós na defesa. A estratégia passa por gerar mais movimentos e linhas de passe no meio-campo adversário e oferecer novas soluções para a cada vez maior preparação dos rivais, que naturalmente estudam ostensivamente o modelo do antigo Barcelona e do actual Bayern de Munique.

A disposição dos jogadores do Bayern frente ao United, na primeira parte.  Fonte: UEFA
A disposição dos jogadores do Bayern, frente ao United, na primeira parte.
Fonte: UEFA

Através da imagem (em cima) disponibilizada pela UEFA podemos constactar esta mudança na disposição dos jogadores da equipa bávara. Mas quais as vantagens? Uma delas, facilmente detectável no vídeo de análise ao movimento de Alaba que em baixo disponibilizamos, é a criação de superioridades numéricas e espaciais no meio-campo adversário. Com Lahm e Alaba em zonas muito mais interiores, os extremos contrários ou acompanham o movimento dos supostos laterais e deixam Robben e Ribery em 1×1 constante contra os defesas laterais, ou preferem ajudar os seus laterais na marcação aos dois desequilibradores do Bayern e oferecem todo o controlo do jogo no corredor central.

David Alaba vs ManUtd from René Marić on Vimeo.

Na primeira parte do jogo contra o Dortmund, Guardiola optou por continuar a aposta nesta variante táctica que foi rebuscar aos confins do tempo e da história. O resultado ia sendo negativo (0-1 para o Dortmund, ao intervalo), causado pelas poucas mas excelentes transições que a equipa de Klopp conseguiu, mas sobretudo pela lentidão de processos na saída de jogo do Bayern e pela incapacidade dos mesmos permanecerem com bola no meio-campo contrário (1º e 2º vídeos em baixo). As ausências de Boateng, Muller, Thiago mas sobretudo de Kroos, que vem sendo o melhor médio do conjunto de Munique, foram também dificuldades acrescidas que não facilitaram a vida a este 2x3x5.

Contudo, convém notar que só uma equipa com capacidade para pressionar bem e alto, como a de Klopp, tem argumentos para colocar problemas na primeira fase de construção ao Bayern. O Kauserslautern ou até o Manchester United sofreram bastante pois, a seguir a ultrapassar aquela primeira fase de construção, o Bayern em 2x3x5 gera sucessivas vantagens numéricas no segundo e terceiro terços do terreno, motivadas também por uma dinâmica muito fluída e de alta rodagem. A alta posse de bola no meio-campo contrário faz com que a equipa em organização defensiva acabe por se desposicionar e, mesmo que consiga recuperar a bola, acaba por ser alvo de uma pressão zonal da qual dificilmente consegue sair com eficácia devido ao desgaste proveniente do largo período sem posse. Assim, dificilmente sai para o contra-ataque, momento do jogo que considero ser mais perigoso para o Bayern tão balanceado para a frente.

Luis Bassat, um catalão influente na área da publicidade, afirmou que criatividade é fazer algo diferente e melhor do que o anterior, que mais tarde se torna o modelo standard dos restantes. Guardiola já o conseguiu fazer com o seu modelo de jogo sustentado na posse, mas fá-lo-á também com o 2x3x5 que tem colocado em prática?

João Almeida Rosa
João Almeida Rosa
Adepto das palavras e apreciador de bom Futebol, o João deixou os relvados, sintéticos e pelados do país com uma certeza: o futebol joga-se com os pés mas ganham os mais inteligentes.                                                                                                                                                 O João não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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