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Jogo Interior #4 – O Futebol joga-se com os pés: Entre a Ciência e a Arte

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jogo interior

Num tempo em que se fala, se ouve e se vê Futebol, em quase todos os canais de televisão, a quase toda a hora, em que todos os canais trazem a público pseudo-especialistas para fazer a antevisão do tal jogo, para comentar durante o jogo, para analisar no pós-jogo, para discutir no pós-pós-jogo, até ao meio da semana e voltar tudo ao início com a aproximação do seguinte encontro, lembrei-me de reflectir acerca disto e fazer um ponto da situação…

Na minha perspectiva, em geral, fala-se muito e diz-se pouco. Fala-se muito acerca do jogo e diz-se pouco acerca do Futebol. Não quero ser crítico mas sei que por vezes o sou, no entanto sinto que há algo acerca do Futebol que ainda não foi dito, escrito, discutido ou pensado. Não me parece que muita gente o tenha feito. E quem o fez foi etiquetado de “iluminado”. Não é levado muito a sério. Sérios e profissionais são aqueles que sabem tudo acerca das metodologias do treino, da periodização táctica ou estratégias de jogo… Quando se fala em metodologias fala-se de ciência? Então qual é a fronteira que separa este Futebol científico do Futebol artístico? Eu se vou ao estádio quero ver uma vitória da minha equipa automatizada de “robots” ou prefiro ver luta, guerra, emoção, a arte da dinâmica dos relacionamentos das minhas tropas, geometricamente colocadas nos espaços certos evoluindo no terreno criando um padrão ainda mais belo que os afrescos da Capela Sistina, no Vaticano?

Manuel Alegre no seu livro “O Futebol e a Vida: do Euro 2004 ao Mundial 2006 – crónicas“, escreve: «Futebol, não é só uma questão de técnica, mas de tensão interior, “instinto”, (…), «razões inexplicáveis», aquilo a que Herberto Helder chamou de «estado de poema» e que para um jogador de futebol, talvez seja o «estado de golo». Uma espécie de estado de graça, uma inspiração, um sopro que vem de dentro. Mas que só quando a técnica, como sublinhava Ezra Pound, se transforma numa segunda natureza. É o que permite ao poeta, em momentos excepcionais, reencontrar a relação mágica com o mundo através da palavra. Ou a um jogador de futebol flectir para a direita e rematar… É algo que se decide num centésimo de segundo. (…) Futebol joga-se com onze? Futebol joga-se com todos. E não apenas na alma mas com o corpo todo… “

Estará esta descrição do Manuel Alegre relacionada com o Futebol ciência ou com o Futebol arte? Será o objectivo do Futebol o golo como fruto de observação, problema, recolha de informação, hipótese, experiência, observação, conclusão? Ou será o golo o culminar de um processo de percepção, inspiração, idealização, processo, técnica, intuição, comunicação, estética e provocação de emoção? Caberá a expressão «razões inexplicáveis» dentro da metodologia de treino?

Estará o Futebol entre a Ciência e a Arte? Ou poderá entrar aqui outra dimensão de pensamento: a Filosofia? Sim, porque são estas dimensões as dimensões de pensamento que existem e elas só existem porque o pensamento existe e em nós que somos humanos… E existem em igualdade hierárquica pois todas são interdependentes. Deleuze e Guattari dizem que todo o pensamento é relação com o caos. O pensamento é a própria composição do caos. Um livro poderia ser um fruto de dissertação sobre esta temática mas em suma eles dizem que «a Filosofia faz surgir acontecimentos com os seus conceitos, a Arte compõe monumentos com as suas sensações, a Ciência constrói estados de coisas com as suas funções»…

Estará o Futebol entre a Ciência e a Arte? A Filosofia também não será uma componente a ter em conta? Fonte: Jeremy Wilburn
Estará o Futebol entre a Ciência e a Arte? A Filosofia também não será uma componente a ter em conta?
Fonte: Jeremy Wilburn

Chegando onde eu queria chegar, o Futebol que nós todos conhecemos parece cada vez mais científico e menos artístico ou filosófico. Cada vez mais vemos jogos sem emoção, criatividade, imaginação, genialidade… A formação dos jogadores de futebol está cada vez mais a ser orientada para a formatação dos seus processos, baseados nos princípios da periodização táctica ou metodologias similares, e sem espaço para os atletas inventarem, criarem, falhar e criar novamente. Vemos nos escalões dos mais novos e nas academias de futebol gente competente mas muito condicionada pelo sistema de ensino que lhe proporcionou a sua própria formação, provocando uma grande mecanização na formação do jogador de futebol. Vemos cada vez mais os clubes de alta competição e alto rendimento quando precisam de um jogador para desequilibrar no jogo da sua equipa, vão contratar um brasileiro, colombiano ou argentino, que fez toda a sua formação nas ruas de São Paulo ou em Bogotá…

Sei que devo ser um pouco polémico mas a minha intenção é lutar um pouco pela procura do equilíbrio. A ciência no futebol tem uma função ferramental e não fundamental. A filosofia serve para firmar os conceitos e as ideias que temos ou não temos, e colocar em causa argumentações dúbias, nossas ou de outros, com a intenção de validar ou invalidar aquilo em que acreditamos. A arte serve para evoluirmos como ser naturalmente criativo que somos, mesmo no Futebol. Usando as três dimensões, de forma equilibrada e intuitiva, não descartando nenhuma delas podemos viver no Futebol e do Futebol em plenitude, pois é o único jogo em que se faz com os pés coisas que não se fazem sequer com as mãos, estando os pés na extremidade oposta e portanto mais longínqua do centro de comando do nosso corpo, o cérebro.

Foto de Capa: JN

Alcino Rodrigues
Alcino Rodrigueshttp://www.bolanarede.pt
Já foi jogador mas há uns tempos passou para o outro lado e ajuda os treinadores com as coisas que escreve. Adora desporto e todas as componentes do jogo interior, ou treino mental. O seu foco são os processos e adora estudar as dinâmicas do trabalho em equipa. Coloquem muita malta a trabalhar junta e ele descortina todas as suas nuances. Já teve filhos, plantou árvores e ultimamente lançou um livro. Parece que está safo…                                                                                                                                                 O Alcino não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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