O Passado Também Chuta: Angola no Mundial 2006

Em 2006, Angola alcançava a principal competição de seleções no panorama internacional. Mundial teve então mais uma seleção cuja língua oficial é o português. Depois de um percurso espetacular na fase de qualificação, os “Palancas Negras” não pretendiam apenas ir passear à Alemanha, havia a ambição de passar à fase do “mata-mata”.

O percurso até ao território alemão começou três anos antes: na pré-eliminatória de acesso à fase de grupos de qualificação, Angola teria de vencer o Chade para manter o sonho de ir ao Mundial. A primeira mão correu da pior forma possível com a derrota fora por 3-1 em que Oumar Belonga fez um hat-trick. Seria necessário um jogo espetacular em Luanda para anular a desvantagem e ultrapassar este difícil obstáculo. Akwá e Mauro fizeram os golos da vitória angolana que permitiu manter vivo o sonho de ir ao Campeonato do Mundo.

Inseridos no grupo quatro, os mwangolês defrontaram a toda poderosa Nigéria, Argélia, Gabão, Zimbabué e o Ruanda. Com a Nigéria a ser apontada à partida como o principal favorito a garantir a vaga de acesso ao Mundial, eram poucos os que acreditavam que os comandados de Luís de Oliveira Gonçalves iriam de facto causar uma surpresa ao longo da ronda de qualificação.

O apuramento começou da melhor forma possível com o nulo na visita às “Raposas do Deserto”, contudo o melhor resultado seria alcançado na segunda jornada. Com o Estádio da Cidadela bem composto, Angola recebia a Nigéria recheada de craques como Joseph Yobo e John Utaka e era importante vencer para saltar desde logo para a liderança do grupo. A partida foi bastante equilibrada e só aos 84 minutos é que surgiu o triunfo a favor dos angolanos: Gilberto recupera a bola no meio-campo ofensivo, deixa para Zé Kalanga que cruza para a área onde aparece o capitão Akwá a rematar para o único golo da partida, soltando a euforia nas bancadas.

A vitória pela margem mínima contra a favorita Nigéria foi o ‘mote’ para as Palancas arrancarem a todo o gás rumo à concretização do sonho. Seguiu-se um empate fora a duas bolas contra o Gabão e dois triunfos por 1-0 contra o Ruanda e Zimbabué, o que manteve Angola no topo da classificação do grupo com 11 pontos à entrada para a 6.ª jornada.

A ida a Harare, capital do Zimbabué, assumia-se como importante antes dos confrontos contra Nigéria e Argélia e perder não era opção, já que a Nigéria, com menos um ponto, estava à espera dum deslize para saltar para a liderança. O certo é que os angolanos acabariam por acusar a pressão e perderam esse embate por 2-0, com os tentos a serem apontados no decorrer da segunda parte, o que levou à descida para o segundo lugar da classificação.

A reação à derrota não se fez esperar e ocorreu na receção à Argélia: Akwá e companhia saíram vitoriosos por 2-1 e aproveitaram ainda o surpreendente empate da Nigéria em casa do Ruanda, último classificado do grupo, para ficar em igualdade pontual antes do derradeiro ‘tira-teimas’ em Lagos.

Quem vencesse esse encontro dava um passo gigantesco rumo à Alemanha. Não perdendo, Angola assumiria a liderança devido à vantagem no confronto direto. A Nigéria entrou a todo o gás e inaugurou o marcador logo aos cinco minutos, por intermédio de Jay-Jay Okocha. Os angolanos chegaram a temer o pior face ao golo madrugador sofrido, mas a seleção conseguiu aguentar o ímpeto dos visitados durante grande parte do encontro e, aos 60’, alcançou o empate pelo médio experiente Figueiredo. Esse tento revelou-se fundamental para reduzir a distância de Luanda a Berlim, viagem que estava perto de se realizar depois do empate obtido fora.

Na penúltima jornada, os “Palancas Negras” podiam desde logo garantir a ida ao Mundial, caso vencessem o Gabão e a Nigéria perdesse com a Argélia. A primeira tarefa foi realizada com sucesso – vitória por 3-0 -, contudo as “Super Águias” não vacilaram com um triunfo sem espinhas por 2-5. Ficava tudo por decidir na última e derradeira jornada.

Com a enorme pressão de não poder falhar na visita ao Ruanda, Angola sabia que tinha de obter o mesmo resultado da Nigéria para conquistar o primeiro lugar do grupo. O golo não aparecia, o relógio de jogo parecia não querer abrandar, juntando isso ao facto da Nigéria já estar a vencer confortavelmente o Zimbabué, a frustração começou a tomar conta dos atletas angolanos, até que se chega ao minuto 79. Numa bela jogada coletiva, Zé Kalanga cruza do lado direito para Akwá fazer o golo mais importante da história do Futebol angolano. O resto do jogo foi aguentar a vantagem preciosa de um golo e depois foi festejar a qualificação inédita para o Mundial.

O sorteio da fase de grupos ditou que Angola ficasse no grupo D com Portugal, México e Irão, sendo que a estreia seria feita em Colónia frente à seleção portuguesa. Com o semba “Estamos a Vir” cantado por Yuri da Cunha e Puto Prata como música motivacional de fundo, os “Palancas Negras” rumaram ao território germânico com a bagagem cheia de ambição e vontade de causar sensação durante o torneio.

A estreia no dia 11 de junho de 2006 correu da pior forma para os adeptos angolanos: um golo solitário de Pauleta foi o quanto bastou para Portugal vencer, embora a seleção angolana tenha dado luta e ficou a sensação de injustiça pelo resultado negativo. Contudo, a boa exibição realizada frente a um dos candidatos à vitória final veio provar que Angola podia mesmo sonhar com a ida à fase a eliminar.

Frente ao México, na segunda jornada, o jogo assumia caraterísticas de ‘tudo ou nada’, já que uma derrota ditaria a eliminação do torneio. Em Hannover, o favoritismo era do conjunto azteca, mas a boa exibição frente a Portugal dava ânimo aos angolanos para chegar à primeira vitória de sempre num Mundial. O México teve a maior parte das oportunidades mais perigosas do jogo, embora os comandados de Oliveira Gonçalves também conseguiram pôr em sentido a defesa adversária. A expulsão de André Macanga a 10 minutos do fim quase estragou a exibição positiva dos “Palancas Negras”, contudo o nulo não foi desfeito e houve divisão de pontos no final da partida.

À entrada para terceira e última jornada, Angola ainda podia qualificar-se para a fase seguinte: para isso, teria de vencer por uma margem confortável o já eliminado Irão e esperar por uma vitória portuguesa em Gelsenkirchen. Ora, se Portugal estava a fazer a sua parte para ajudar os compatriotas angolanos, faltava somente derrotar o Irão.

Mesmo sem hipóteses de passar, o Irão não facilitou e quis despedir-se com uma vitória, sendo que esteve por cima durante a primeira parte, mas faltou maior assertividade na hora de rematar à baliza. No segundo tempo, a conversa foi outra e Angola chegou à vantagem aos 60 minutos: do lado direito, Zé Kalanga cruzou na perfeição para Flávio “Cabeça de Ouro” Amado cabecear para o primeiro golo de sempre dos mwangolês em Mundiais. A vantagem duraria pouco tempo, uma vez que os iranianos chegaram ao empate na marcação de um canto por intermédio do defesa Bakhtiarizadeh aos 75’. O 1-1 perdurou no marcador até ao apito final e a seleção angolana acabou mesmo por acompanhar o Irão na despedida do território alemão.

Apesar da eliminação precoce, Angola saiu de prova com uma boa réplica e deixou o povo mwangolé orgulhoso dos seus atletas. São muitos os que ainda se recordam da famosa caminhada até à Alemanha nessa ano e ambicionam que Angola volte a carimbar a passagem até à fase final dum Mundial, já que se passaram cerca de 14 anos desta inédita presença.

 

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O Guilherme é licenciado em Gestão. É um amante de qualquer modalidade desportiva, embora seja o futebol que o faz vibrar mais intensamente. Gosta bastante de rir e de fazer rir as pessoas que o rodeiam, daí acompanhar com bastante regularidade tudo o que envolve o humor.                                                                                                                                                 O Guilherme escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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