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Que jogos devo rever nesta quarentena? O dia em que o futebol abanou o Estado Novo

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Que jogos devo rever nesta quarentena? Pois, bem, voltemos a 1969, um ano onde Portugal continuava amordaçado pelo Estado Novo, um ano também ele marcante para a civilização ocidental: tivemos o último concerto dos Beatles, Neil Armstrong a caminhar na Lua, o festival de Woodstock, e muitos outros marcos importantíssimos. Em Portugal, continuávamos amordaçados pelo Estado Novo, com uma esperança vã na “Primavera Marcelista”, mas que acabou por se revelar a continuação do Salazarismo. Em Coimbra, no entanto, a situação aquecia, com os estudantes a não virarem a cara à luta.

Tudo começou em Abril, aquando da inauguração do edifício de matemáticas da universidade. Nessa cerimónia solene, que contou com a presença do Presidente da República, Américo Thomaz e com o Ministro da Educação, José Hermano Saraiva, os representantes do Estado foram recebidos por milhares de estudantes que exibiam cartazes com reivindicações como “Ensino para todos” e outras coisas do género, exigindo uma democratização do Ensino e uma maior liberdade de expressão.

Durante a inauguração, o presidente da recém-eleita Associação Académica de Coimbra, pediu a palavra para se dirigir ao Presidente da República, o que levou ao término imediato da cerimónia e à consequente detenção de Alberto Martins. O extremar de posições levou ao encerramento da Universidade e a uma greve estudantil aos exames, o que originou a ocupação da cidade pela polícia, pronta a impedir quaisquer manifestações. Entretanto, a equipa de futebol da AAC juntou-se à luta académica que fez tremer o Regime.

A oito de junho, a equipa da cidade dos estudantes defrontava o Sporting CP em Alvalade, no jogo da primeira mão da meia-final da taça toda vestida de branco com braçadeiras pretas, em sinal de luto académico. A vitória por 2-1 em Lisboa, com um golo de Nene ao cair do pano, deixava os estudantes a um passo da tão desejada final da taça.

Uns dias depois, num municipal de Coimbra à pinha, o Calhabé, os estudantes entram em campo com o símbolo da AAC coberto com fita adesiva em sinal de protesto, e acabam por vencer por 1-0, com um golo de Manuel António, que os colocava no Jamor, onde defrontariam o Benfica de Coluna, Humberto Coelho, Toni, Simões e Eusébio.

Os jogadores da Académica entraram em campo com a capa aos ombros
Fonte: Académica OAF

Finalmente, e após muita especulação e controvérsia, chegou a final da prova-rainha do desporto português, sem a presença das altas figuras do Estado nem transmissão da RTP, mas nada disso era preciso. Já não se tratava só de futebol. Era o próprio povo português que os Academistas representavam, quando entraram em campo com as capas aos ombros.

O jogo decorreu com uma falsa sensação de acalmia até ao intervalo, altura em que os estudantes de Coimbra ergueram as vozes e cartazes contra o Estado Novo, levando o resto do estádio a perceber que se encontravam no maior comício de sempre contra o Regime. O alarido das bancadas contagiou os jogadores no relvado, levando Manuel António a fazer a oposição sonhar, quando marcou o primeiro golo da final aos 81 minutos, pondo a Académica na frente.

Os festejos, no entanto, duraram pouco, pois o golo do empate surgiu 4 minutos depois, por António Simões, atirando o jogo para prolongamento. Nesse tempo extra, a Académica quebrou e o inevitável Eusébio acabou com o sonho dos estudantes, ao marcar o golo da vitória aos 109 minutos.

Apesar da derrota em campo, os estudantes acabaram por conseguir algumas vitórias fora dele, pois naquela tarde de junho, pregaram o primeiro prego no caixão da Ditadura. Foi o jogo mais político da história, aquele em que até alguns benfiquistas estavam a torcer pela equipa que melhor representava a resistência ao Regime e onde pela primeira vez, o país viu que o Estado Novo não era eterno. Naquele dia, chutamos todos com Manuel António, num pontapé fortíssimo no Regime que nos oprimia há décadas. Foi o dia em que o futebol fez abanar o Estado Novo. E por isso mesmo este é um dos jogos que devo rever nesta quarentena.

O jogo na sua integra não te conseguimos dar, mas fica aqui uma reportagem sobre a envolvência de todos este jogo:

 

Inês Figueiredo Mendanha
Inês Figueiredo Mendanhahttp://www.bolanarede.pt
A Maria é uma orgulhosa barqueirense (e por inerência barcelense ) que aprendeu a gostar de futebol antes de saber andar. Embora seja apologista das peladinhas entre amigos, sai-se melhor deixando o que pensa gravado em papel. Benfiquista de coração e Gilista por devoção é sobretudo apaixonada pelo futebol que faz o país parar quando a bola começa a rolar.                                                                                                                                                 A Maria escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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