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Do La Romareda ao Ibercaja: o declínio do Real Zaragoza

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Em Aragão sempre houve um clube dominador, assumidamente acima dos restantes. O Real Zaragoza desde cedo se impôs como o emblema representante de uma Comunidade Autónoma fundamental para se entender a história de Espanha e da própria Península Ibérica. A instituição fez inclusivamente parte da temporada de estreia da La Liga, competição que teve o seu apito inicial em 1928. Só por este motivo, os leones já seriam um clube de peso no país vizinho.

O Real Zaragoza durante a maior parte do seu histórico esteve um (ou mais) passo à frente do Huesca, emblema do norte de Aragão, com menos representatividade, tal como do Teruel, que ainda se encontra num estrato distinto dos dois conjuntos rivais. A diferença era gritante entre os três clubes, situação que não se verifica atualmente, nomeadamente em relação à turma do El Alcoraz. Os leones contam com um palmarés de orgulho, vivendo duas épocas douradas. A primeira, durante os anos 60, ainda no regime de Franco, conquistando duas Taças do Rei (1963/64 e 1964/65) e uma Taça das Cidades com Feira (1963/63). Já a segunda surge em plena democracia, durante os anos 90 e o princípio dos 2000. Os adeptos celebraram no Estádio La Romareda e na Plaza España as vitórias em mais três Taças do Rei (1993/94, 2000/01 e 2003/04), uma conquista de uma Supertaça de Espanha (2004) e o apogeu internacional, com o triunfo na Taça das Taças em 1993/94, frente ao poderoso Arsenal. No fundo, o Real Zaragoza era uma equipa habitual da La Liga, que nos habituávamos a ver na tabela classificativa das revistas e jornais desportivos. Não se imaginava a tragédia que viria em seguida.

Raúl Guti Real Zaragoza
Fonte: Real Zaragoza

O primeiro ‘abanão’ chegou precisamente ainda na época dourada, com uma descida em 2001/02, compensada pela rápida promoção na época seguinte, pelas mãos de Paco Flores. Em 2008, novo pequeno terramoto, com mais uma despromoção. A resposta foi novamente a melhor, com um ainda jovem Marcelino García Toral a alcançar o segundo lugar da segunda divisão. É habitual vermos históricos descerem ocasionalmente, por uma temporada menos bem conseguida. Osasuna ou Real Bétis são exemplos recentes. Porém, em 2012/13 o descalabro foi total. Manolo Jiménez guiou o Real Zaragoza ao último lugar da La Liga e a uma nova descida. A recuperação não existiu, não se tratava de uma mini-crise. O nome do histórico passou para outra secção dos jornais, até ao momento. Os blanquillos estão na décima terceira temporada na La Liga Hypermotion e estão cada vez mais distantes de conseguirem lutar pela subida, num processo negativo ocorrido nos últimos anos, agravado nesta década.

Hoje em dia, por muito poucos o Real Zaragoza é considerado um candidato a uma promoção, mesmo que seja pelo playoff. A equipa está a quilómetros de distância das que de facto lutam por tais objetivos. A instituição transformou-se naquilo que ninguém quer ser quando se almeja por mais: um ‘clássico’ de uma competição, vendo outros emblemas transformarem-se em autênticos ‘ioiôs’, entre as três principais competições do futebol espanhol.

Esta situação agudizou-se com a entrada da atual propriedade (recordar que em Espanha grande parte dos clubes profissionais têm um dono. Na La Liga as exceções são o Real Madrid, o Barcelona, o Athletic e o Osasuna). Jorge Más, que também faz parte do capital do Inter Miami, aterrou em Aragão em abril de 2022, abrindo-se a esperança de uns adeptos que estavam já habituados a deixar de sonhar com a promoção nas primeiras jornadas, todos os anos. O empresário assumiu inclusivamente um ano mais tarde o objetivo de uma subida rápida, em dezembro de 2023:

«Tenho ambição, paciência não é algo que me caracteriza e queremos chegar à Primeira Divisão imediatamente, este ano. Foram dados muitos passos para melhorar o plantel no verão e conseguimos, tivemos lesões, que são desculpas, mas é a realidade. O nosso desejo é chegar à Primeira Divisão ontem, mas vamos dar os passos necessários para o conseguir quando for necessário e o mais rapidamente possível».

Francho Serrano e Juan Sebastián Real Zaragoza
Fonte: Real Zaragoza

O projeto liderado por Jorge Más e Juan Carlos Cordero (que assumiu a pasta de diretor desportivo em janeiro de 2023, depois de ter estado ao serviço do Tenerife) não correu de todo como o esperado. A imprensa espanhola assumiu sem receios de que a passagem do dirigente pelo posto foi um autêntico desastre, deixando o Real Zaragoza com um plantel com uma massa salarial elevada, sem ter estado perto dos lugares de promoção.

É um facto que os blanquillos não estiveram perto sequer da luta pelos playoffs nos últimos anos. Porém, a culpa não pode ser única e exclusivamente entregue a Juan Carlos Cordero. O Real Zaragoza passou a ser um ‘cemitério de treinadores’ desde a chegada de Jorge Más. Juan Carlos Carcedo, Fran Escribá, Julio Velázquez, Víctor Fernández, Miguel Ángel Ramírez, Gabi e Rubén Sellés passaram pelo La Romareda (excluindo os interinos David Navarro e Emilio Larraz). São nomes totalmente dispares no que diz respeito ao estilo de jogo, com alguns a apresentarem resultados totalmente aquém do esperado e outros a serem apostas que previsivelmente não correriam bem. Miguel Ángel Ramírez, por exemplo, venceu um jogo em 11. Estas más escolhas e o plantel recheado de atletas sem a qualidade necessária para estar num histórico que quer lutar por mais resultaram nos seguintes resultados:

• 2022/23 – 13.º lugar

• 2023/24 – 15.º lugar

• 2024/25 – 18.º lugar

A espiral é negativa e o ponto mais baixo pode ser tocado em 2025/26, mas já lá vamos. O Real Zaragoza conseguiu a manutenção na temporada passada depois de ter contado com três treinadores (excluindo o nome de David Navarro). Víctor Fernández, lenda absoluta do emblema de Aragão – e com passagem pelo FC Porto – não mostrou capacidade para começar uma época a guiar o projeto e foi sucedido pelo já citado Miguel Ángel Ramírez. A última esperança caiu em Gabi, antigo médio que ficou conhecido pela sua grande passagem pelo Atlético Madrid, que orientava o Getafe B.

Gabi tinha o mérito de conhecer a casa enquanto jogador, mas a sua experiência como técnico ainda era curta (continua a ser). Porém, ninguém lhe pode tirar o mérito do Real Zaragoza ter alcançado a manutenção. Foram quatro vitórias em 10 encontros. Contudo, os adversários desta luta estavam praticamente sentenciados desde o começo do campeonato. Cartagena, Tenerife e Ferrol nunca apresentaram nível para estar na La Liga Hypermotion (a formação das Canárias ainda lutou, mas acordou muito tarde pelas mãos de Álvaro Cervera). Já o Eldense acabou por perder a corrida, com resultados pobres no último tramo: somente duas vitórias nas últimas 10 jornadas.

Ibercaja Estádio
Fonte: Real Zaragoza

O Real Zaragoza fechou assim a temporada cabisbaixo, mas seguro por mais um ano. Jorge Más optou por manter Gabi no banco de suplentes e possivelmente esse foi o seu primeiro grande erro. O treinador, como referido anteriormente, teve mérito, mas não está ainda com as condições necessárias para assumir um projeto desta envergadura, principalmente desde o começo de época. Gabi não estava talhado para comandar um emblema na primeira jornada na La Liga Hypermotion, ainda tem alguns passos a dar antes disso, não se retirando o seu potencial. A propriedade deu possivelmente outro ‘tiro no pé’ ao escolher um diretor desportivo que somente poderia entrar ao ativo no verão. Txema Indias foi o escolhido para a posição, após finalizado o seu contrato com o Leganés (na mesma semana em que Gabi renovou por duas temporadas). O contrato foi assinado em junho, momento em que o mercado de transferências tem que estar ’sobre rodas’. Existiam outros nomes livres no mercado que podiam ter começado a trabalhar logo após a saída de Juan Carlos Cordero, em março. Um deles era Chema Aragón, que foi associado ao cargo, que acabou por assinar pelo Racing Santander, emblema que se encontra a lutar pela promoção direta.

O Real Zaragoza montou a sua estrutura muito tarde e esse erro pode ser fatal para o futuro. Atualmente, a equipa encontra-se na última posição da La Liga Hypermotion, com apenas nove pontos, em 14 jornadas. O mercado trouxe para a capital de Aragão nomes experientes na La Liga Hypermotion como Carlos Pomares, Sebas Moyano, Paulino de la Fuente, Martín Aguirregabiria, Tachi ou Pablo Insúa, mas o plantel ainda não atua como equipa. Também chegou Valery Fernández como o grande nome da janela de transferências, proveniente do Girona, mas o extremo está ainda a adaptar-se, além de que as suas últimas épocas foram longe de serem brilhantes. Há qualidade, mas precisa de ser trabalhada e isto requer perícia igualmente fora do campo. O plantel do Real Zaragoza psicologicamente está arrasado com maus resultados nos últimos anos. Há poucos líderes no balneário. Francho Serrano é o grande destaque neste ponto, capitaneando o emblema onde se formou.

Rubén Sellés Real Zaragoza
Fonte: Real Zaragoza

A confiança em Gabi durou somente umas semanas e um contrato de dois anos foi ‘rasgado’, de maneira a tentar uma mudança de rumo. Rubén Sellés (que viveu uma semelhante aventura no Reading) foi eleito para o seu lugar, mas os resultados tampouco estão a ser positivos, com o despedimento em vista. O próprio organigrama do Real Zaragoza é algo confuso, principalmente pelo regresso de David Navarro, apresentado como coordenador desportivo da Área de Futebol. Há quem diga que ele será o sucessor de Rubén Sellés, à falta de uma sequência de resultados positivos.

Até a questão do estádio não tem ajudado o Real Zaragoza. O La Romareda foi derrubado, para a construção de um novo palco que será uma das casas do Mundial 2030 e os leones estão a jogar no Ibercaja, um recinto modular, sem qualquer identidade e situado num parque de estacionamento. Os adeptos tentam criar um ambiente favorável, mas está bem distante do que era proporcionado no La Romareda.

Txema Indias admitiu que a situação é complicada, ainda em outubro:

«Nem nos piores pesadelos esperávamos estar nesta situação. Há dias que não durmo, tentando analisar os problemas. Não vou ficar no tema das arbitragens, mas não sei se podemos piorar nestas dez jornadas. Entrámos numa trajetória muito negativa, mas acho que temos um plantel equilibrado. Somos a pior equipa da Segunda Divisão, mas não o pior plantel. Agora temos de o provar».

Contudo, no último fim de semana houve um sinal de esperança. O Real Zaragoza recebeu e venceu o seu grande rival, o Huesca por 1-0, num jogo em que esteve por cima. Os blanquillos fizeram o necessário para vencer, ainda que o oponente esteja a viver igualmente uma situação complicada. Os visitantes estrearam Jon Pérez Bolo no comando técnico, apresentando uma estrutura defensiva, pensando no contra-ataque, que Rubén Sellés conseguiu desmontar. Martín Aguirregabiria marcou um golaço de fora da área, levando o Ibercaja à loucura. Provou-se que é possível obter bons resultados, resta saber se vai existir continuidade.

Jogadores do Real Zaragoza
Fonte: Real Zaragoza

O panorama está longe de ser positivo, muitos adeptos tratam esta crise como a pior da história da instituição e uma descida à Primera RFEF nunca esteve tão perto. O terceiro escalão do futebol espanhol é um autêntico inferno, o Deportivo de La Coruña que o diga. O Real Zaragoza apresenta todos os sintomas de outros clubes que foram despromovidos recentemente, como os galegos, o Málaga ou o Tenerife. A passagem dos andaluzes foi rápida, com uma aposta na prata da casa e em nomes consolidados no escalão. Os canários optaram por uma solução semelhante, com muita experiência para Álvaro Cervera, estando na pole position para regressar à La Liga Hypermotion. Já a equipa do Riazor deu alguns ‘tiros nos pés’.

O Real Zaragoza ainda tem algumas semanas para tentar evitar a queda, inclusivamente com um mercado de transferências onde poderá trazer novos elementos para a estrutura. Txema Indias terá que trabalhar o mercado olhando para o imediato, abrindo a porta a destaques da Primera RFEF, que possam manter a boa forma no clube. Há vários nomes que podem ser adquiridos a baixo custo, com uma capacidade de adaptação baixa. Será um teste de fogo para a direção desportiva, que terá de olhar ao mesmo tempo para dois cenários: a manutenção e a despromoção, com o objetivo de uma promoção imediata. Há jogadores que encaixam em ambos os casos, mas a imposição de cláusulas é obrigatória.

Balneário do Real Zaragoza
Fonte: Real Zaragoza

Rubén Sellés sabe igualmente que parte da solução pode estar na formação, com nomes como Alejandro Gomes (apenas 17 anos, mas com três jogos pela equipa principal), Hugo Barrachina, Hugo Pinilla, Lucas Terrer, Marcos Cuenca ou Pau Sans a terem direito a oportunidades para mostrarem o que valem, sendo que certos nomes já são aposta frequente. O técnico terá que retirar o melhor do que já tem, especialmente de nomes que já provaram no passado a sua qualidade. Keidi Bare, Francho Serrano, Toni Moya e Raúl Guti podem formar um meio campo de luxo, pelo que mostraram em anos anteriores. Samed Bazdar é possivelmente o maior talento do plantel, mas sem minutos não pode contribuir. Tachi e Pablo Insúa são uma dupla de centrais experiente, mas o ex-líder da defesa do Mirandés não tem conseguido ser titular. A batalha pela baliza, protagonizada por Esteban Andrada e Adrián Rodríguez, promete continuar. Ainda assim, a certa altura Rubén Sellés terá que definir um titular absoluto, o elemento que traga a maior segurança (algo que atualmente nenhum dos nomes consegue trazer).

As próximas semanas prometem ser decisivas para o futuro a curto, médio e longo prazo do Real Zaragoza. As decisões da dupla Jorge Más/Txema Indias terão que ser como tiros certeiros, para que os leones possam conseguir sair da zona de despromoção. Longe vão os tempos em que a subida era o objetivo e a propriedade não pode pensar em grande. O Real Zaragoza tem que voltar a situar-se no meio da tabela para almejar algo mais. Contudo, 2025/26 não é época para isso e possivelmente 2026/27 tampouco será. É tempo de encarar a manutenção como o objetivo único, num momento em que a equipa nem pode olhar mais para baixo, já que o fundo da classificação é o seu lugar.

Real Zaragoza camisola
Fonte: Real Zaragoza
Ricardo João Lopes
Ricardo João Lopeshttp://www.bolanarede.pt
O Ricardo João Lopes realizou a sua formação na área da História, mas é um apaixonado pelo desporto (especialmente pelo futebol) desde criança, procurando estar sempre a par da atualidade.

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